Colunista apresenta em sete partes o guia que pode ser utilizado para criar projetos, processos, serviços ou startups. E sentencia: “não entre em pânico!”
Sentença constante do Guia Definitivo do Mochileiro das Galáxias, manual obrigatório de qualquer um de minha geração que recebia a alcunha de nerd, apesar de eu ter jogado basketball profissional. O livro, para lá de doido (não consegui outra palavra), é, para mim, uma das obras de ficção mais inteligentes que conheço, perdendo apenas para Matrix. Já adianto dizendo que “gosto não se discute: lamenta-se”.
Portanto, para que você não entre em pânico e tenha que lançar mão de algum gerador de improbabilidade infinita, aquela coisa que torna possível qualquer impossibilidade, desde que você saiba trabalhar com botões aleatórios, neste artigo comemorativo de número 100 – e com o espírito de Douglas Adams incorporado -, resolvi contemplar o leitor paciente com um guia determinístico, não só para os mochileiros das galáxias, mas para o empreendedor-inovador de nossa Via Láctea. O objetivo é facilitar a vida de qualquer incauto que queira aventurar-se em meus “escritos fabulosos”, achando que com isso poderá montar algum negócio.
Dividi o guia em 07 itens para mochileiro nenhum botar defeito, os quais podem ser utilizados para criar projetos, processos, serviços ou startups. A ideia não é escrever muito, mas colocar o link dos “magníficos” artigos outrora escritos. Será uma boa jornada.
O Guia
Em E se eu fosse montar um negócio, por onde eu começaria?, rascunho um algoritmo para desenhar um negócio do “zero”. Reescrevendo de modo mais objetivo, proponho ao mochileiro-empreendedor os passos:
Claro que esta sequência é muito óbvia. Qualquer um que tenha passado pela ênfase de Negócios Tecnológicos ou por nosso Mestrado de Inovação na ECT pode até aprimorá-la. Entretanto, como a galera chega sempre pra mim com a certeza de que tem o melhor negócio do mundo em mãos, usando da sagacidade de minha ingenuidade, comecei a notar que devo estar muito errado em sempre tentar convencer o povo da sequência acima. Assim, antecipando-me aos espertos empreendedores, tenho de testar se os passos que propus estão invertidos. Como bom empreendedor, seguirei na linha de provar que meu guia é, na verdade, um anti-guia, a fim de validar ou refutar o proposto. Se conseguir isto, dou meu braço ao torno, do contrário, teremos de admitir que esta sequência é boa. Simbora então, na sequência da galera que “sabe tudo”!
Primeiro passo: Verificação quantitativamente
Verificação quantitativa em uma sentença: Ter escala!
Segundo passo: Validação qualitativa
Validação qualitativa em uma sentença: Conhecer seu cliente!
Validar qualitativamente exige que você visualize o ciclo de vida do consumidor, a experiência que seus consumidores têm com a sua marca, como eles imaginam e sentem sua empresa. É necessário que você perfaça a jornada de seu cliente, para saber, por exemplo, se eles encontram os caminhos virtuais e/ou físicos que levam até o seu negócio.
Terceiro passo: Elaborando um modelo de negócio âncora
Modelo de negócio âncora em uma sentença: Vários mini-modelos sincronizados
Se a concorrência tá “pegando” suas estatísticas, é sinal que há um concorrente inovador no parque, ou que seu cliente cansou de sua empresa. Uma ou outra, a conclusão que podemos chegar é que seu modelo de negócio “âncora” não comporta mais os modelos de negócio individuais. Falta diversidades de produtos ou serviços, aquela proposta no Modelo de Cauda Longa, que descreve a estratégia de varejo de se apostar em uma grande diversidade de itens que vendem pequenas quantidades, ao invés de apenas os alguns poucos itens que vendem muito. O velho “Não carregar todos os ovos em uma mesma sexta. É necessário, portanto, que você crie novos modelos de ideia individuais que se encaixem em seu modelo âncora, algo que explico em Encaixando legos.
Quarto passo: Redesenhe corretamente seu cliente
Seu cliente em uma sentença: Os cinco sentidos mais o bolso!
Em O Cliente Universal , descrevo que todo nosso esforço maker deve ser dirigido a estes cinco clientes: Paladar, Audição, Tato, Olfato e Visão. Abreviei por PATOV, que são sustentados pelo sexto sentido, o bolso.
Seus projetos devem agradar à maior combinação do grupo PATOV possível. Assim, como eu poderia criar propostas de valor avassaladoras? E a resposta vem da forma de como misturarmos as coisas. Quanto mais cliente do grupo PATOV eu agradar, mais contundente será minha proposta. No limite, se eu conseguir agradar os cinco, minha proposta será perfeita, ganhando uma característica que eu chamo de sinestésica.
Quinto passo: Desenhe um modelo de ideia
Modelo de ideia em uma sentença: Vantagem injusta!
Para criar um modelo de negócios âncora, recorro ao velho Business Model Canvas, ou BMC, que não é muito bom para tocar ideias incipientes. O Sebrae tem um bacana. Porém, para desenvolver uma ideia do zero e criar uma vantagem injusta, matadora, aquela capaz de nadar em um oceano azul, tenho que utilizar o Lean Canvas, que suporta apenas uma ideia; uma única proposta de valor. Feito isso, tenho então condições de encaixar essa minha ideia matadora dentro do meu BMC, o modelo âncora, e renovar o meu negócio. Para que essa minha ideia “pegue”, ela tem de respeitar a curva de adoção de Rogers, e criar os adotantes iniciais de minha inovação, algo em torno de 2,5% de meu mercado alvo.
Sexto passo: Monte um time de projetos
Um time em uma sentença: diferentes e super-conectados!
Em Montando o time, falo do perfis que compõem um bom time: Ativador, Buscador, Criador, Desenvolvedor, Executor e Facilitador. É só um exemplo. Muitas outras técnicas podem ser encontradas mundo afora. A ideia é que o time tenha condições de suportar um brainstorming rico, que conduza à criação de coisas novas. Em Conduzindo um brainstorming, sugiro um método que já testei e deu certo. Bom, é só mais uma sugestão. O fundamental é que este espaço exista.
Sétimo passo: Crie uma oportunidade
Oportunidade em uma sentença: um leão correndo atrás!
Dias difíceis, stress, falta de ideias… Todas, por incrível que pareçam, são consequências da falta de oportunidades. Entretanto, elas podem surgir se vocês se concentrarem nelas. A oportunidade tem de vir primeiro. As ideias surgirão por consequência. Em Como criar criatividade, Criando inovação através do pensamento por princípios, Abstração (des)estruturada: a fonte para inovações de ruptura! (Parte I), Abstração (des)estruturada: a fonte para inovações de ruptura! (Parte II), Agora, até foguete dá ré, Reconstruindo os negócios e as mentes, Preparando-se para o futuro iminente e Novos negócios, novos postos de trabalhos!, por exemplo, sugiro alguns caminhos. Experimente um deles!
Finalizando…
Então pessoal, na visão de vocês, quando alguém chega para mim anunciando ter um negócio top das galáxias, a sequência deveria começar pela descoberta/geração de uma oportunidade ou pela constatação de escala, de Mercado?
Sugiro então que “Não entre em pânico” e leia o Guia Definitivo do Empreendedor dessa Galáxia do sétimo para o primeiro passo. É só uma sugestão! Afinal, a zebra tem de inovar todo dia.
Referências:
Gerador de improbabilidade infinita (https://desciclopedia.org/wiki/Gerador_de_Improbabilidade_Infinita)
Sebrae – (https://sebraecanvas.com/#/)
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Leia a edição anterior: Cientista ou inovador? Dr. Jekyll ou Mr. Hyde?
Gláucio Brandão é Pesquisador em Extensão Inovadora do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Gláucio Brandão
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