O efeito de rede Disruptiva

quinta-feira, 5 dezembro 2024
Talvez o verdadeiro objetivo do “efeito de rede” seja acabar com a solidão digital

Entender o efeito de rede pode ser a chave para o crescimento exponencial em startups

(Gláucio Brandão)

Na última aula condensada (AC), discutimos os critérios para a viralização de produtos e comportamentos. No caso de comportamentos ou notícias, boas ou ruins, a viralização é um processo extremamente perecível, quase intrínseco ao conceito de informação. Quando se trata de produtos ou serviços que precisam alcançar escala e gerar retorno financeiro para seus criadores, apenas viralizar não garante o sucesso. É essencial manter-se em evidência e atrair clientes continuamente. Para isso, o produto ou serviço deve promover o efeito de rede.

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Afinal, o que é efeito de rede?

De acordo com Andrew Chen, investidor do Vale do Silício, “O efeito de rede é um fenômeno que acontece quando o valor de um produto ou serviço aumenta conforme mais pessoas o utilizam. Quanto mais usuários um produto tem, mais valioso ele se torna tanto para os usuários atuais quanto para os novos. É como uma bola de neve: quanto maior ela fica, mais rápido rola e mais neve acumula”.

Exemplos:

  • Redes sociais: Quanto mais amigos você tem em uma rede social, mais útil ela se torna.
  • Marketplaces: Quanto mais compradores e vendedores houver em um marketplace, mais opções e oportunidades de negócios surgem.
  • Aplicativos de mensagens: Quanto mais pessoas utilizam um aplicativo de mensagens, maior a facilidade em encontrar seus contatos.

O efeito de rede é uma força poderosa que pode impulsionar o crescimento de um negócio e criar uma vantagem competitiva duradoura. Portanto, há uma grande diferença entre se tornar viral e tornar-se valioso em escala.

Para quem esse efeito importa?

O efeito de rede é crucial para empresas, plataformas e modelos de negócios que dependem de interações entre usuários para capturar valor. É particularmente importante em setores onde o crescimento e a competitividade estão diretamente ligados à capacidade de atrair e reter usuários que estão conectados. Portanto, quando o assunto visa escala, referindo-me principalmente às startups, não há como prescindir desse efeito.

Negócios nascentes, aqueles que aprendem a criar e utilizar este efeito, tornam-se capazes de fazer suas soluções (muitas vezes nem tão brilhantes) ganharem contornos radicais. Ao furarem bolhas e romperem conceitos, criam novos mercados, transformando-se em grandes startups, ou bigtechs. Quando isso acontece, têm-se o que o professor Christensen definiu como ruptura. Do ponto de vista do mercado, não se promove disrupção sem que antes se construa o efeito de rede. Empresas que conseguem desenvolver efeitos de rede fortes, geralmente alcançam crescimento exponencial, fidelizam usuários e criam barreiras significativas contra a entrada de concorrentes. Em mercados de alto impacto, como tecnologia e mobilidade, dominar o efeito de rede pode ser a diferença entre sucesso e fracasso; entre transpor ou cair no abismo.

Construindo o efeito de rede

A construção de um efeito de rede é uma estratégia fundamental para o sucesso de diversas plataformas digitais. Conforme o que é defendido por Chen em seu livro “The Cold Start Problem”, superar a fase inicial (o arranque a frio) e criar valor suficiente para impulsionar o crescimento da rede são etapas cruciais. Baseado no que Chen desenvolveu, proponho o seguinte script:

  • Identifique o efeito de rede atômico. Defina a menor unidade funcional de sua rede que pode gerar valor, o que Chen chama de “átomo”. Em um aplicativo de mensagens, um grupo de amigos fortemente interligados pode ser um “átomo” para iniciar algo importante.
  • Crie valor para o primeiro “grupo atômico”. É essencial garantir que esse primeiro grupo atômico que você identificou (ou criou) perceba valor muito antes de expor a mais grupos atômicos. Conforme uma reação em cadeia, é necessário um número específico de grupos atômicos iniciados para que se atinja uma massa crítica capaz de promover a explosão, o efeito de rede. Atraia usuários-chave (gente famosa, influenciadores, early adopters, professores da ECT-UFRN etc.) e os faça integrar algum grupo atômico.
  • Reforce os laços existentes. Facilite interações iniciais com design intuitivo que incentive convites e recompense tanto os novos usuários quanto aqueles que trouxerem convidados para a plataforma.
  • Realize testes continuamente. Monitore como os usuários estão interagindo e refine constantemente a experiência (UX). Avalie se os grupos iniciais estão engajados e felizes. Experimente diferentes abordagens para aumentar o valor percebido.

Reza a lenda que o Google realiza mais de 12 mil experimentos por ano em suas plataformas, o que equivale a aproximadamente 33 testes diários. Esses experimentos são fundamentais para melhorar continuamente seus produtos, como a busca e outras funcionalidades associadas à experiência do usuário. Esses testes geralmente envolvem mudanças controladas no design ou na funcionalidade para entender seu impacto em métricas importantes, como cliques ou tempo de permanência

  • Promova uma expansão controlada e Sustente o Crescimento. Após estabelecer um grupo funcional, comece a expandir para novos grupos ou regiões. Use os usuários atuais como “embaixadores da marca” para atrair novos. Priorize segmentos ou mercados que possam se beneficiar diretamente da rede existente. Após alcançar a massa crítica, mantenha e amplie o efeito de rede.
  • Reduza ao mínimo a possibilidade de saturação. Adapte-se às necessidades crescentes da base de usuários, oferecendo novos recursos ou serviços que eles não esperavam, reforçando assim a conexão entre eles.

Somos gregários

O novo comércio exige, primeiramente, que se promova a viralização, o contágio para ser visto e lembrado. Na sequência, num mundo altamente competitivo, é preciso reter esses primeiros simpatizantes em um grupo atômico.

Por tudo que foi exposto posso dizer que, daqui para frente, qualquer negócio que almeje escalar terá que, juntamente, criar sua própria rede social dedicada, ou conseguir pegar carona em redes já consolidadas. O segredo está em começar pequeno, gerar valor tangível para os primeiros usuários e expandir gradualmente enquanto mantém o foco na qualidade da experiência de interação.

Do jeito em que tudo está, ouso dizer que um “startupeiro-raiz” partiria para estabelecer uma rede social com algum mote (funcional ou não), e só então desenvolveria ou apresentaria sua solução. Como humanos, somos naturalmente gregários. Parece-me então que a rede está se tornando cada vez mais importante do que os próprios produtos. Talvez esse seja o verdadeiro objetivo do “efeito de rede”: acabar com a solidão digital. Vai entender!

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Gláucio Brandão é professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e gerente executivo da incubadora inPACTA (ECT-UFRN)

Gláucio Brandão

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