Entender o efeito de rede pode ser a chave para o crescimento exponencial em startups
(Gláucio Brandão)
Na última aula condensada (AC), discutimos os critérios para a viralização de produtos e comportamentos. No caso de comportamentos ou notícias, boas ou ruins, a viralização é um processo extremamente perecível, quase intrínseco ao conceito de informação. Quando se trata de produtos ou serviços que precisam alcançar escala e gerar retorno financeiro para seus criadores, apenas viralizar não garante o sucesso. É essencial manter-se em evidência e atrair clientes continuamente. Para isso, o produto ou serviço deve promover o efeito de rede.
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De acordo com Andrew Chen, investidor do Vale do Silício, “O efeito de rede é um fenômeno que acontece quando o valor de um produto ou serviço aumenta conforme mais pessoas o utilizam. Quanto mais usuários um produto tem, mais valioso ele se torna tanto para os usuários atuais quanto para os novos. É como uma bola de neve: quanto maior ela fica, mais rápido rola e mais neve acumula”.
Exemplos:
O efeito de rede é uma força poderosa que pode impulsionar o crescimento de um negócio e criar uma vantagem competitiva duradoura. Portanto, há uma grande diferença entre se tornar viral e tornar-se valioso em escala.
O efeito de rede é crucial para empresas, plataformas e modelos de negócios que dependem de interações entre usuários para capturar valor. É particularmente importante em setores onde o crescimento e a competitividade estão diretamente ligados à capacidade de atrair e reter usuários que estão conectados. Portanto, quando o assunto visa escala, referindo-me principalmente às startups, não há como prescindir desse efeito.
Negócios nascentes, aqueles que aprendem a criar e utilizar este efeito, tornam-se capazes de fazer suas soluções (muitas vezes nem tão brilhantes) ganharem contornos radicais. Ao furarem bolhas e romperem conceitos, criam novos mercados, transformando-se em grandes startups, ou bigtechs. Quando isso acontece, têm-se o que o professor Christensen definiu como ruptura. Do ponto de vista do mercado, não se promove disrupção sem que antes se construa o efeito de rede. Empresas que conseguem desenvolver efeitos de rede fortes, geralmente alcançam crescimento exponencial, fidelizam usuários e criam barreiras significativas contra a entrada de concorrentes. Em mercados de alto impacto, como tecnologia e mobilidade, dominar o efeito de rede pode ser a diferença entre sucesso e fracasso; entre transpor ou cair no abismo.
A construção de um efeito de rede é uma estratégia fundamental para o sucesso de diversas plataformas digitais. Conforme o que é defendido por Chen em seu livro “The Cold Start Problem”, superar a fase inicial (o arranque a frio) e criar valor suficiente para impulsionar o crescimento da rede são etapas cruciais. Baseado no que Chen desenvolveu, proponho o seguinte script:
Reza a lenda que o Google realiza mais de 12 mil experimentos por ano em suas plataformas, o que equivale a aproximadamente 33 testes diários. Esses experimentos são fundamentais para melhorar continuamente seus produtos, como a busca e outras funcionalidades associadas à experiência do usuário. Esses testes geralmente envolvem mudanças controladas no design ou na funcionalidade para entender seu impacto em métricas importantes, como cliques ou tempo de permanência
O novo comércio exige, primeiramente, que se promova a viralização, o contágio para ser visto e lembrado. Na sequência, num mundo altamente competitivo, é preciso reter esses primeiros simpatizantes em um grupo atômico.
Por tudo que foi exposto posso dizer que, daqui para frente, qualquer negócio que almeje escalar terá que, juntamente, criar sua própria rede social dedicada, ou conseguir pegar carona em redes já consolidadas. O segredo está em começar pequeno, gerar valor tangível para os primeiros usuários e expandir gradualmente enquanto mantém o foco na qualidade da experiência de interação.
Do jeito em que tudo está, ouso dizer que um “startupeiro-raiz” partiria para estabelecer uma rede social com algum mote (funcional ou não), e só então desenvolveria ou apresentaria sua solução. Como humanos, somos naturalmente gregários. Parece-me então que a rede está se tornando cada vez mais importante do que os próprios produtos. Talvez esse seja o verdadeiro objetivo do “efeito de rede”: acabar com a solidão digital. Vai entender!
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Gláucio Brandão é professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e gerente executivo da incubadora inPACTA (ECT-UFRN)
Gláucio Brandão
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