O cavalo de troia da covid Ciência Nordestina

terça-feira, 23 novembro 2021

A pandemia é um enorme cavalo de troia disposto a acelerar a extinção de nossa espécie diante do descontrole no uso de antibióticos

O imaginário popular há muito já assimilou a guerra entre gregos e troianos. Como as muralhas que envolviam Troia eram quase intransponíveis para os gregos, após nove longos anos de batalha, estes resolveram abandonar a guerra deixando um suposto presente aos troianos: uma enorme construção de madeira em forma de cavalo. Os troianos resolveram aceitar o presente e levar para o seu quintal a obra de arte, que viera lotada de soldados gregos (escondidos em seu interior) e que promoveram o saque completo e destruição da cidade após uma noite.

Há quem comemore o fim da covid, por mais que os países europeus demonstrem que ela está longe de partir… E anseiam por carnaval, agrupamento, festas… A humanidade ainda não percebeu que a pandemia é um enorme cavalo de troia disposto a acelerar a extinção de nossa espécie por aquilo que perdemos o controle: o uso indiscriminado de antibióticos. Quanto mais consumimos estes medicamentos mais criamos a oportunidade de que os micro-organismos aprendam a sobreviver a eles, tornando-se as temidas superbactérias. Já conversamos bastante sobre elas nesta coluna (uma zapeada nas matérias de “Ciência Nordestina” já trará ao menos três matérias sobre o assunto – Detergente para superbactériasInovação e fomeMel: doce antibacteriano)

E infelizmente são previsões nada fáceis de se contornar – imagina-se que uma grande pandemia pelas superbactérias tenha sido acelerada em 10 ou 20 anos pelo uso excessivo de antibióticos na pandemia. Vale ressaltar ainda que não consumimos antibióticos apenas quando engolimos um comprimido… Ele vem até nós nas plantas, na carne dos animais, na água… O uso indiscriminado dos antibióticos na pecuária e no “agro pop” são as rodinhas que faltavam para o cavalo de troia do século XXI avançar a todo pique em direção à humanidade.

Soluções? Claro que dispomos. Elas vêm da ciência – como todas as outras. Porém, pra existirem, estas soluções parecem necessitar de um apelo mercadológico. A pandemia de covid ensinou que o desespero por soluções corre a favor de rios de investimento. Em um ano surgiram as vacinas. Suspeito, no entanto, que esta estratégia não seja de todo inteligente. Se a indústria farmacêutica tentar surfar a onda das superbactérias na hora da rebentação corre o risco de perder sua prancha e levar junto toda a humanidade. É fundamental que a pesquisa para a produção de medicamentos e agentes antibacterianos corra antes que o sino da irreversibilidade toque… Aliás, vários sinos parecem prontos para tocar. O do clima já deu suas primeiras batidas… Os soldados do cavalo de troia da covid já correm em direção a nós… O fim parece estar próximo. Não quero ser profeta do apocalipse… Mas se o fim da humanidade vier mesmo a ocorrer, já haverá um culpado: a ganância humana. O planeta terra já entendeu o recado e decidiu o que fazer.

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Leia o texto anterior: Carnaval!?

Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).

Helinando Oliveira

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