Novos tempos, novas formas de se repensar os negócios! Disruptiva

quarta-feira, 6 janeiro 2021

Colunista apresenta formas de se repensar as empresas, baseado na coleta de dados, sentimentos, conversas e usando um pouco de lógica analítica

Há muito se ouve a sentença “A Universidade não prepara para o Mercado”. De tão cansativo esse bordão, as empresas começaram a defender outro: “Se quer bem feito, faça você mesmo!”. E aí uma revolução se deu e aqui chegamos. Em 16/10/2019, questionei: Terão as empresas que se transformarem em centros de capacitação?. Quase 15 meses depois e tendo eliminado os 0,001% de dúvida que restava, respondo com um retumbante SIM!

A evolução sempre deixou claro que se a mudança orgânica for mais lenta do que a do ambiente, a espécie pode começar a dar “tchauzinho” pro mundo. E qual a forma de se evitar isso? Até então, as empresas vinham avançando na linha de Lamarck, no estilo “a girafa aumenta o pescoço à medida que precisa pegar as folhas mais altas”. Entretanto, dada à velocidade com que a tecnologia tem avançado, percebeu-se que Darwin se adequa melhor ao ecossistema comercial: ou se muda o DNA das empresas ou se pega o ônibus para a estação extinção. E é isso o que está acontecendo: as empresas perceberam que possuem problemas inerentes ao DNA, e que para resolvê-los terão de contar com o próprio sistema imunológico. A vacina, portanto, terá de ser produzida interna, continuamente e numa velocidade maior do que a do estímulo externo. Também não dá mais para terceirizar o processo de resolução ou adotar soluções de empresas similares. No mundo corporativo, não existem “remédios genéricos”. Assim, coisas como capacitação, mudanças organizacionais, inovação, definições de OKR (Objectives and Key Results) etc., terão de ser pensadas, desenvolvidas e implementadas com o time da casa mesmo, ou adotando agregados. A empresa começa a se ver como seu primeiro cliente.

Nesta aula condensada de Nº 124, apresentarei cases que reforçam ainda mais a tendência outrora apontada, a necessidade de se desenvolver soluções dedicadas e, na esteira, mudar a forma de pensar os negócios. Aproveitarei, claro, para indicar alguns modelos. Peço que me acompanhem.

Indícios de uma (não tão) nova realidade

A ideia é só apontar fatos e deixar que o leitor conclua. Transporei pra cá alguns cases conhecidos do setor privado brasileiro, para que você mesmo avalie. Elencarei por tema.

Capacitação. Grande empresas e instituições privadas que estão trabalhando pesado na inovação e formação corporativa, adaptando-se à realidade do mundo que demanda aprendizagem constante, conhecida como Lifelong Learning.

  • Mercado Livre lançou, em parceria com a empresa de tecnologia Globant e a edtech Digital House, um curso de educação em tecnologia que pretende formar, em dois anos, 10 mil profissionais na área de tecnologia na América Latina.
  • Universidade Corporativa Nestlé, com cursos reconhecidos pelo MEC.
  • IBM Global University Programs.
  • Universidade Positivo.
  • Cesar School: da graduação ao doutorado.
  • Exame Academy.

Inovação, Incubação e Aceleração de empresas. Trago alguns exemplos de empresas que estão criando inovação, incubando ou acelerando startups em seus núcleos.

  • Luizalabs (Magazine Luiza). Laboratório de Tecnologia e Inovação cujo objetivo é criar produtos e serviços com foco no varejo, oferecendo aos clientes mais benefícios e uma melhor experiência de compra. Formado por um grupo de engenheiros e desenvolvedores, a estrutura viabiliza projetos de inovação para todos os canais de venda da Companhia. 
  • Positivo Tecnologia lança programa de inovação aberta voltado para startups. 
  • Abstartups . Mantida pela Vale, Ambev, Votorantim e mais umas 20 empresas, a Associação Brasileira de Startups é uma das maiores fomentadoras de startups no País. Os resultados, claros, são trabalhados pelas mantenedoras.
  • Cubo Itaú.
  • Inovabra.

Carreira e Pesquisa Aplicada de Ponta.

  • Universidade Mackenzie: Brasil ganha o primeiro centro de pesquisas em Grafeno da América Latina.
  • Rede privada de centros de pesquisa acelera inovação no país, encabeçada pelo SENAI.
  • DuPont, IBM, Vale, Whirlpool, Motorola, GE, WEG, estão investindo na carreira científica no país.

Marco Legal das Startups. O marco das startups (dezembro de 2020) abre novas perspectivas no âmbito de incentivo à inovação por parte das empresas.

  • Sandbox. De modo resumido, “trata-se de um ambiente em que as empresas poderão oferecer seus produtos e prestar seus serviços sem que incidam as restrições existentes no quadro regulatório existente. (…) Trata-se de forma bastante astuta de buscar regular a inovação de maneira provisória”. Ou seja: no lançamento de inovações, as empresas poderão errar mais rápido sem ter uma penalização “letal” por isso. Claro que sob condições controladas.
  • Investimento anjo. “As empresas podem receber apoio financeiro sem que investidores participem da gestão ou tenham qualquer poder de decisão no negócio. Como contraponto, também não terão que arcar com nenhuma dívida da empresa, ficando com seu patrimônio protegido”. Ou seja: deixa de penalizar quem investe em startups. 
  • Sociedade Anônima. “O texto-base simplifica as regras para as Sociedades Anônimas (SAs), no caso de empresas com receita bruta anual de até R$ 78 milhões e até 30 acionistas. Na prática, empresas com soluções inovadoras desse porte não precisarão publicar seus balanços em veículos de imprensa de grande porte,  algo muito custoso para as empresas”.

É importante ressaltar que todos estes itens não existiam há 10 anos atrás e, em minha visão, serão ainda mais intensificados pela catalisação promovida pela COVID-19, que trouxe 2030 para 2021. Deixam de ser tendências e passam a vigorar como saídas.

Modelo de crescimento e manutenção: Unidimensional ou Multidimensional?

Lamarck ou Darwin? O esforço na direção Lamarckiana é unidimensional. O organismo (empresa) tenta incrementar sua complexidade de modo a exaurir-se e colapsar em si mesmo quando não respeita o fator metabólico 0.9, passando a não ter mais processos sustentáveis, entrando em uma ampliação monotônica (surgimento, crescimento, maturidade e declínio), conclusão que chegamos em Uma retro-perspectiva baseada no “0 ponto 9”. O 0.9 – estatística obtida do estudo de quase 29 mil empresas americanas -, aponta outra coisa: se a ampliação monotônica é irremediavelmente fatal, a saída será encontrada na diversificação dos processos (mindset incluso), no crescimento multidimensional. É um fato empírico: o modo de tornar-se eterno se dá pela geração de filhos, os quais carregarão metade do meu DNA.

Os eventos apresentados na seção anterior mostram que o DNA das instituições “mutantes” não está sendo alterado por desejo, beleza ou moda, mas por força de um ecossistema mercadológico ativo. Muitas empresas estão absorvendo outros tipos de DNA em seus núcleos (educação, startups, pesquisa etc.) para conseguirem manter-se “eternas”. Ignorar isso é fazer um crediário pra comprar um ataúde. 

Modelo de ruptura: a Transmutação

Quando pensei no conceito de Transmutação e ao tentar aplicá-lo, via IncaaS, em empresas parceiras, não tinha ouvido falar em Empresas Ambidestras , aquelas que operam nos modos convencional e de inovação concomitantemente. Na verdade, a inspiração para o conceito de Transmutação brotou quando escrevia sobre a relação Qualidade x Inovação, e a difícil arte de torná-las possível em um mesmo empreendimento. Embora conceitos semelhantes, a Transmutação propõe uma abordagem mais radical, capaz de conciliar qualidade e inovação: criar uma startup com potencial de matar seu próprio negócio e, dando certo pela validação de um novo nicho criado, abandonar o modelo antigo e migrar para o novo. Uma opção, claro, é manter ambos modelos funcionando. A figurinha esquematiza o que quis dizer.

O caminho “vermelho” funcionou? Transmute-se!

Finalizando…

Apresentei aqui formas de se repensar as empresas. Algumas já em andamento. Outra, como a Transmutação, é radical. Possivelmente, pode ter sido aplicada, mas desconheço. Embora tenha vaticinado muitas coisas na aula condensada Nº 64 (15 meses atrás), não sou visionário. Escrevi baseado na coleta de dados, sentimentos, conversas e usando um pouco de lógica analítica. Na aula de hoje (Nº 124), vejo muita coisa validada. Assim sendo, convido vocês a lerem a aula condensada Nº 192, disponível em 13 de Abril de 2022 (15 meses à frente), onde estamparei as frases:

  • Empresa A fundiu-se à Universidade B.
  • Docentes com atuação em pesquisa aplicada e projetos validados, estão migrando para empresas que oferecem melhores condições de pesquisa e carreira.
  • Empresas possuem cada vez mais prêmios Nobel em seus quadros.
  • O número de matrículas em empresas capacitadoras mistas (remoto+presencial) ultrapassou as matrículas em escolas convencionais.
  • MEC valida a 150ª universidade corporativa multinacional;
  • Empresas aderentes à “mutação” morrem, em média, em 1/10 do tempo das mutantes.
  • Processo de Transmutação é a nova onda para criar Mercados e diminuir falências. Empresas nessa categoria estão recebendo o nome de Fênix Corp.

Na sessão “Finalizando…” da aula Nº 192, explicarei o porquê de tudo isto: não leram a aula Nº 124.

Referências

A coluna Empreendedorismo Inovador é atualizada às quartas-feiras. Gostou da coluna? Do assunto? Quer sugerir algum tema? Queremos saber sua opinião. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag #EmpreendedorismoInovador.

Leia a edição anterior: Uma retro-perspectiva baseada no “0 ponto 9”

Gláucio Brandão é Pesquisador em Extensão Inovadora do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Gláucio Brandão

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