Novos negócios, novos postos de trabalhos! Disruptiva

quarta-feira, 22 abril 2020

Sugestões para a sobrevivência e crescimento pessoal e profissional em um mundo pós Covid-19

A teoria mais aceita sobre a extinção de 70% dos animais, incluindo aí os dinossauros, remete ao choque entre a Terra e um cometa há pelo menos 65 milhões de anos. A colisão teria gerado incêndios, terremotos, tsunamis etc. O gás e a poeira lançados na atmosfera contribuíram para a queda de temperaturas por muitos anos. Aconteceu, “na vera”, mudanças nas CNTP (Condições Normais de Temperatura e Pressão). Na área de hardware dizemos que foi dado um boot frio, aquele em que se puxa o PC da tomada (ou da bateria); foi mais radical do que o reset dado pelo Covid-19. Eles, os dinos, não tiveram a chance de uma quarentena, ao contrário de nós.

Mas por quê estou a falar sobre isto? Porque a Covid-19 trouxe tudo que os futuristas previam acontecer no longínquo ano de 2030 para 2020. Vou forçar a barra e pedir licença aos poetas (não licença poética) para uma ressignificação: COmeta da VIda Digital 2020, ou COVID-20.

O impacto global nos negócios e, por consequência, nos empregos, pode ser visto em milhares de previsões derramadas na Internet, bastando apenas colocar estas palavras-chave e ter paciência de escolher um gráfico. Como futuro e previsão são coisas que não existem, posso ignorar as grandes consultorias e “futuristas de carteirinha” e, de graça, elaborar para vocês a minha previsão. A chance de eu errar ou acertar é, na verdade, exatamente igual a deles, 50%, já que toda escolha é binária.

Assim, vou especular por aqui o que esse cometa hodierno, o COVID-20, tem de capacidade para alterar nossas atuais CNTP, Condições Normais de Tecnologia e Postos de trabalho, e o quanto do nosso ar ficará rarefeito. Em contrapartida, vou sugerir uma solução para a sobrevivência e crescimento pessoal/profissional em um mundo COVID-20, quando a poeira do vírus baixar e o ar se encher de informática, já que a considero o novo Esperanto. Pensem então o que tem de existir entre os novos negócios e os novos postos de trabalho. Garanto que já acertaram!

Desmaterialização

Não, não vou falar sobre espiritismo. No artigo A Física por trás dos negócios, descrevo sistema mínimo, substâncias e campos que compõem qualquer business. Em Evoluindo os negócios, desenho os gaps de evolução e como usar os OKRs (objetivos) para guiar os KPIs (índices) em busca do aprimoramento de um empreendimento na era digital. Finalmente, em Abstração (des)estruturada: a fonte para inovações de ruptura! (Parte I) e (Parte II), proponho que estamos sofrendo um revolução exponencial superposta a uma evolução linear, cuja lente só ficará translúcida assim que limparmos nossa inércia psicológica com a criatividade, e tudo isto antes da Covid-19. Não quero pintar uma de “visionário do óbvio”. Quero dizer apenas que a escrita destes três artigos – que se complementam – foi ancorada em percepções estatísticas apontadas por meus estudos sobre a Teoria para Resolução Inventiva de Problemas (TRIZ), a qual sugere um mnemônico para evolução dos sistemas: MATCHEM/OVQS. Que “diabos” é isto? 

Além dos gaps a serem preenchidos, o mnemônico nos diz que, estatisticamente, os sistemas tecnológicos avançam suas estruturas na sequência Mecânica-Acústica-Térmica-Química (CHemical)-Elétrica-Magnética-Óptica-Virtual-Quântica-Serviço, a qual pode ser salteada, claro. Depois de percorrer um ciclo voltam à primeira, a mecânica, e recomeçam.

Peguemos, como exemplo, o Sistema Música: disco de vinil (M e A), fita cassete (CH), HD do PC (E e M), CD (O), terminando em Spotify-iTunes-YouTube (V e S). Para esse caso específico, a volta para a estrutura mecânica (estado sólido) seria embarcar tudo em único hardware dedicado, impedindo cópias, acesso indevido ou configuração. Um determinada qualidade de som/vídeo só será alcançada se você tiver aquele celular da hora com tal chipset. Impossível de ser acessado por quem não tenha esse hardware. O Q já está sendo trabalhado pela IBM. Ou seja, à medida que um sistema fica muito complexo, ele volta a ser lacrado em um hardware, ganhando segurança, integridade, velocidade de operação e queda de custo, viabilizando a escalabilidade. O mesmo passeio pode ser feito com o Sistema Automóvel. Saímos de tração animal (M), passamos por máquinas a vapor (T), combustão (CH), trens-bala (E e M) e chegamos ao Tesla, que na verdade é um PC com rodas e, muito em breve, um sistema autônomo (S). Não compraremos mais carro; só o serviço. Caminhamos para o que Jeremy Rifkin chama de “Sociedade com Custo Marginal Zero”: acesso ao invés da posse.

Juntando este conceito ao da evolução tecnológica que descrevi, chegamos à sociedade orientada a serviços. Atingimos a desmaterialização. Nada com espíritos…

Micro experiência: os novos negócios

O cometa COVID-20 criou um hiato interessante: separou claramente as definições grande e de pequena empresa. Bom para ambas. Ruim para as médias! Como assim, GBB-San?

Peguemos a Amazon e a Magazine Luiza. Ambas estão, hoje, com ações em alta. Assim como Walmart e Carrefour. No outro extremo, observemos as conveniências e lojinhas (material de construção, armarinho, conserto de roupa, oficinas etc.) próximas à minha casa e de alguns amigos. O que percebi:

  • Durante a pandemia, minhas compras voltaram-se para a Internet. Seja um eletrodoméstico que pifou, livros ou brinquedos para a moçada. Desde o decreto do “fique em casa” até hoje, um pouco mais de um mês, o tanque do carro não mexeu, mesmo tendo que levar a esposa para o trabalho.
  • Do ponto de vista de varejo, aquilo que está a mais de cinco minutos de caminhada de minha casa começou a ficar desinteressante. Neste período, preferi atravessar a rua e comprar o que preciso em mercadinho ou conveniência, do que ir ao supermercado, o que fazia constantemente de carro, quando vinha do trabalho e passava por estes estabelecimentos médios. As empresas médias geralmente ficam em centros.
  • Conveniências e mercadinhos lotados.
  • Em conversa com o dono de uma lojinha, falou-me que compra de uma loja maior e abastece seu estabelecimento on demand. O mesmo para o dono do mercadinho. Ambos declararam que o movimento não mudou.
  • Do ponto de vista de higienização e qualidade na escolha de produtos, prefiro eu mesmo fazer as compras do que solicitar delivery

Conclusões baseadas exclusivamente nessa micro experiência pessoal:

  • Passado o cometa COVID-20, prevejo a proliferação de vários pequenos pontos de distribuição sendo abastecidos por grandes varejos. Toda a logística fica mais previsível, pois as solicitações da “budega” ao “grande” são mais consistentes.
  • Uma vez que o home office veio para ficar, as empresas deverão investir mais em infraestrutura de rede e menos em estrutura física, desfazendo-se de algumas inclusive. 
  • A preferência por caminhar e comprar insumos – ou se alimentar – perto de casa e ainda produzir vitamina D sob o sol deverá aumentar. Quando for o caso, comprar via Internet. O uso do carro cairá vertiginosamente. O ambiente e o bolso agradecem pelo menor consumo de combustível e emissão de CO2.
  • O sistema de logística vai crescer exponencialmente, tanto o macro-modal (caminhões, trens, aviões, navios), quanto o micro (moto, vans, bikes).
  • Toda logística necessitará de um grande sistema de Inteligência Artificial para sua gerência. Nascerão “torres de comando” para isso.
  • Os municípios ficarão relativamente mais fortes do que os estados, já que o ISS resultante da logística de serviços deverá aumentar muito mais do que o ICMS.
  • Os serviços de saúde serão integrados e atuarão de forma preventiva, diminuindo a carga nos hospitais.
  • Menos gente na rua, menor a criminalidade (assaltos, tráfico, violência): menor carga para o sistema de segurança. Também impactará na quantidade de acidentes.
  • Da experiência dos meus filhos, a escola privada (o mesmo para o ensino superior) poderá migrar totalmente para o espaço virtual, com exceção das aulas de arte, laboratório e educação física. Para a pública, a solução poderá ser tentada da seguinte forma: enquanto houver carência de equipamentos e rede, 50% das aulas poderiam ser ministradas na própria sala com o professor à distância “projetado na tela” e 50% das aulas presenciais, de modo a se estabelecer a cultura. O mesmo para as universidades públicas. Nestes dias, orientei vários alunos de mestrado via WEB. Não senti perda de qualidade, pelo contrário. Quem não estava falando, mantinha o microfone desligado. Pense num negócio civilizado!!!

Do ponto de vista privado, estimo em 04 os tipos de negócio que precisarão existir:

  1. Produtos convencionais palpáveis: varejo e atacado (alimentos, vestuário, higiene, livros, mobília, eletrônicos, brinquedos etc.). Esses poderão utilizar o item 4, operarem no estilo takeaway (compre online e retire no local) ou mesmo presencial com auto-atendimento.
  2. Produtos customizáveis e artísticos: dependerão de artífices e visita física.
  3. Plataformas: saúde, beleza, lazer, educação, negócio, exportação, segurança, turismo, construção & reforma, limpeza, aluguel (carro, casa, ferramentas), profissionais para pequenos serviços (faxineira, marceneiro, encanador etc.). Também acionarão o item 4.
  4. Logística e Transporte (pessoas, produtos, macro e micromodal).

Todos orientados a serviço em nuvem e conectados por um super BI. O setor público terá de rever toda sua estrutura administrativa e operacional: conexão com cidadão, saúde, educação, creche, segurança, limpeza urbana, iluminação etc. para ser operado com eficiência. Não há espaço para desperdícios. A questão hierárquica precisará ser melhor trabalhada, de modo a aumentar o poder decisório das secretarias com vistas a atingir melhores resultados.

Os novos postos de trabalho

Em Fim dos empregos. Começo dos trabalhos!  falo de como os empregos vão desaparecer; em Por quem as grandes empresas choram…  sugiro um novo formato.

O profissional do século XX, com as habilidades adquiridas na faculdade, poderia se manter eficiente por 30 anos. O do século XXI, levando-se em conta a Lei de Moore, tem essa eficiência reduzida para 2 ou 3 anos. Essa perecibilidade é ainda agravada por coisas como o GitHub – plataforma de hospedagem de código-fonte, que permite que programadores, utilitários ou qualquer usuário cadastrado na plataforma contribuam em projetos privados e/ou Open Source de qualquer lugar do mundo (hoje tem mais de 40 milhões de pessoas cadastradas) – que faz upload de milhares de aplicativos por dia, nos obrigando a ter de aprender coisas novas, uma vez que muitos desses apps juntos dão condições de criar startups, e uma delas poderá até acabar com seu negócio em dias.

Coloque na cesta a desmaterialização, minha micro-experiência, sua experiência e o reset dado pelo COVID-20, e aceite que o desenvolvimento de novas habilidades terá de acontecer até o fim da quarentena.

Todos os serviços que sugeri necessitarão de pessoas, das mais diferentes áreas, dispostas a aprender o novo esperanto. Não tenho como dizer que profissões surgirão, mas posso afirmar que os trabalhos a serem realizados precisarão de uma adaptação de mindset quase que instantâneo.

Admitindo isto, respondo o que estará entre os novos negócios e os novos postos de trabalho: a educação contextualizada e contínua, já que o GitHub tá aí com a “bixiga”, por exemplo! Portanto, para abrir espaço em sua mente, esqueça aquela educação estática de prateleira. Ela não servirá mais.

Finalizando

Hoje, Descobrimento do Brasil, sugiro que você se redescubra ou o COVID-20 vai ser sua próxima dor de cabeça. Não faça como os dinossauros: a vida virou digital!

Referências:

IBM – (https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2019/02/como-computacao-quantica-vai-abalar-os-negocios-para-sempre.html)

A coluna Empreendedorismo Inovador é atualizada às quartas-feiras. Gostou da coluna? Do assunto? Quer sugerir algum tema? Queremos saber sua opinião. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag #EmpreendedorismoInovador.

Leia a edição anterior: Um novo organismo

Gláucio Brandão é gerente executivo da inPACTA, incubadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Site desenvolvido pela Interativa Digital