Na coluna Ciência Nordestina, Helinando Oliveira fala sobre a riqueza do bioma caatinga, fonte ainda pouco explorada de recursos tecnológicos e usa a imagem do chão rachado do sertão como símbolo de resistência.
A imagem propagada pela imprensa daquele chão sempre rachado do sertão nordestino (da época em que o sertanejo migrava para o sul em busca de água e comida) persiste na mente da sociedade brasileira.
A convivência com o semiárido, para muito além dos dividendos da indústria da seca, por vezes funciona como um tapume que esconde a riqueza do bioma caatinga, fonte ainda pouco explorada de recursos tecnológicos. O uso de materiais deste bioma, tanto para medicina tradicional quanto como insumos para nanotecnologia, representa um diferencial para a ciência desenvolvida no sertão nordestino. E a considerável distância para os grandes centros urbanos antes de empecilho é uma oportunidade de crescimento. Para isto, a consolidação de infraestrutura experimental é extremamente necessária, como forma de suportar a ousadia de incluir produtos naturais e insumos da caatinga como matéria prima de novos dispositivos.
E este esforço precisa ser compartilhado por mentes de todo o planeta, colocando a temática de materiais da caatinga como algo que agregue pesquisadores e permita com que o fluxo de migração seja invertido. Da mesma forma que São Carlos foi construída por suas fábricas do conhecimento – as Universidades, a interiorização das Universidades no nordeste brasileiro precisa atrair pesquisadores interessados em potencializar e preservar este bioma ainda desconhecido pelo povo brasileiro.
Este processo passa pelo fortalecimento dos programas de pós-graduação. Na última avaliação quadrienal da CAPES – divulgada em setembro/2017, quatro cursos de mestrado da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) atingiram o nível 4, o que os aproxima da oferta de doutorado. E a consolidação destes doutorados é fundamental para que a capacitação de pesquisadores esteja totalmente disponível no interior do país, etapa final do processo de chegada e enraizamento das Universidades no solo sertanejo. A Universidade precisa usar a simbologia sertaneja e resistir aos períodos de seca tal qual o umbuzeiro que mantem no fundo do mais profundo buraco as suas reservas de água.
Cavar estes buracos não é tarefa fácil. Na academia significa formar escavadores (mestres e doutores) que tenham o brilho persistente da ciência no fundo de suas retinas. Brilho que nem a pior das crises do país possa arrancar. O chão rachado do sertão é antes de mais nada um sinal de resistência. Que sejamos a geração que resistirá a este desmonte, para oferecer flores ao primeiro sinal de chuva. O interior do nordeste pulsa pela ciência.
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Helinando Oliveira