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sexta-feira, 22 dezembro 2017
Imagem do Cinturão de Órion

Há um singelo grupo de estrelas conhecido pela maioria dos brasileiros, até dos que raramente olham para o céu

É verão no Brasil. Época de extremos quando quase não chove no Sul e no Nordeste (por motivos diferentes), e o Sudeste fica encharcado de tanta água que cai do céu. Bem mais acima, na abóbada celeste que serenamente nos envolve, há vários grupos de estrelas típicos dessa época do ano.

Tem um caçador acompanhado de seus fiéis cães na caça de um touro bravio, um herói ao lado de sua amada, salva das garras de um animal marinho monstruoso – e muitos outros seres míticos desfilando pelo céu do verão austral.

Mas nada disso é óbvio de se ver. Requer imaginação e algum conhecimento de mitologia. Há um singelo grupo de estrelas, porém, que nem mesmo é uma constelação, mas é perfeitamente conhecida da grande maioria dos brasileiros, até daqueles que raramente olham para o céu.

As três Marias no sepulcro. Pintura de Peter von Cornelius (1783–1867).

Três Marias

Tudo começou mais ou menos no ano 45. Jesus já havia morrido e os romanos estavam perseguindo os cristãos por causa de suas crenças. Na palestina, o rei Herodes Agripa havia ordenado a prisão do apóstolo Pedro e a morte de Tiago.

Outros fiéis foram deixados propositadamente em um barco à deriva, sem provisões, para que morressem lentamente sob o sol do Mediterrâneo. Entre eles estavam a irmã de Lazaro, Maria Madalena, a mãe de Tiago e de João, Maria Salomé, e Maria Jacobé, da família da Virgem Maria.

Milagrosamente a embarcação sem vela ou remos atravessou rapidamente o mar e foi parar no sul da França, onde o povo do lugar, hoje a cidade de Saint-Marie-de-La-Mer (ou Santa Maria do Mar) logo reconheceu as mulheres.

Reverenciadas como símbolo de fé e coragem, em pouco tempo falar nas “Três Marias” passou a significar o valor de uma grande amizade feminina. A crença atravessou o oceano de difundiu-se facilmente no Brasil, maior país católico do planeta. Sem perceber, as pessoas repetiram o ritual dos antigos gregos, que imortalizaram entre as estrelas suas lendas, heróis e heroínas.

Saint-Marie-de-La-Mer, banhada pelo Mar Mediterrâneo. 

As Três Marias nunca foram reconhecidas como uma constelação oficial. É que as estrelas perfiladas já haviam recebido os seguintes nomes (de Oeste para Leste): Mintaka (que significa faixa, em árabe), Alnilan (pérola) e Alnitak (cinto). Juntas elas desenham o cinturão do caçador Órion, uma das figuras mais tradicionais do firmamento, visível de boa parte do mundo.

Quem são elas?

Mintaka fica a cerca de 920 anos-luz da Terra (1 1ano-luz vale cerca de 9,5 trilhões de quilômetros) e possui 17 vezes o tamanho do Sol. Sua “irmã”, Alnilan, só está perto dela em nossa imaginação; na verdade fica a quase 1.360 anos-luz de distância e brilha tanto quanto 54 mil sóis. Não tanto quanto Alnitak, que tem praticamente o mesmo volume e brilho de Mintaka, sendo também a mais próxima das três, a 836 anos-luz da Terra.

Representação da constelação de Órion, guerreiro da mitologia grega.

Para a Astronomia, diz-se que as Três Marias são um asterismo, um grupo de estrelas que se destaca dentro de uma constelação já existente. Há vários asterismos famosos, como as Plêiades, ou Sete Irmãs, que se apertam num cantinho da constelação de Touro.

Ali mesmo, bem perto do cinturão de Órion, um observador atento perceberá três luzinhas fracas perfiladas numa direção diagonal à base formada pelas Três Marias. Duas delas são estrelas “de verdade”, mas se você olhar com atenção verá que a do meio é “apenas uma mancha” – mas que na ocular de um telescópio revela-se uma majestosa nebulosa azul-avermelhada, lar de numerosas outras “marias” e “irmãs” que, afinal, vemos em todos os cantos do céu.

 

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Conheça o colunista

José Roberto de Vasconcelos Costa

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