Entrevista com a professora do Departamento de Física da Universidade Federal do Ceará reconhecida por seus relevantes trabalhos sobre as reservas de água no nordeste
A professora Maria Marlúcia de Freitas Santiago nasceu em Limoeiro do Norte, no interior do Ceará, em 1943. Em 1969, concluiu a graduação em Física pela Universidade Federal do Ceará e, em 1972, se tornou professora do Departamento de Física da UFC. É doutora em Geociências (Recursos Minerais e Hidrogeologia) pela USP. O foco de seu trabalho concentra-se nas áreas de Engenharia Sanitária e Hidrogeoquímica Isotópica com ênfase em água subterrânea e sua interação com reservas superficiais. Em suas pesquisas, estuda as reservas de água do Nordeste, como se distribuem, qual a idade das águas subterrâneas e como os aquíferos se interligam. Foi agraciada com a comenda “Amigo das Águas” pela Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS) pelos relevantes trabalhos realizados em águas subterrâneas e, em 2009, foi retratada pela Seara da Ciência na série de documentários “Santo de Casa”, sobre pesquisadores relevantes para o Estado do Ceará.
Hoje, a Física ainda é uma área com pouca atuação feminina. O que a levou a se interessar pela Física, ainda nos anos 1960?
Quando fazia o último ano do Curso Científico, hoje 2o Grau, apareceram na minha sala três rapazes falando sobre os Institutos Básicos, o de Física, o de Matemática e o de Química. Quando eles saíram resolvi que ia fazer Física.
Professora, quais foram as motivações para que a senhora optasse pela carreira acadêmica? Você acredita que hoje o acesso de mulheres a carreiras científicas está mais fácil que nos anos 1960/70?
Tive bons professores no primário (ensino fundamental) e no secundário (ensino médio) quando me identifiquei com matemática e ciências e não senti preconceito em relação a essas disciplinas para as mulheres. É preciso conhecer para descobrir o interesse por qualquer carreira. Acredito que atualmente é maior o conhecimento da carreira científica porque é um tema atual em todos os meios de comunicação e, portanto, mais fácil a escolha.
Você ingressou na UFC como professora em 1972. Chegou a sofrer algum tipo de preconceito ou discriminação na academia por ser mulher?
Não senti. Leves divergências ocorriam entre diferentes grupos, sem que isso prejudicasse as pesquisas no Departamento.
Seu nome foi um dos escolhidos pela Seara da Ciência para participar da coleção de divulgação científica Santo de Casa. Qual a sua opinião sobre o documentário e sobre a coleção?
Primeiro fiquei honrada por ter sido escolhida para fazer parte de um grupo pelo qual tenho muito respeito. Fiz Mestrado e Doutorado fora do Ceará e vi que fazemos uma ciência de qualidade, mas que era desconhecida no país. A ideia e execução deste trabalho de divulgação de nossa ciência merece todo respeito pela abrangência das diferentes áreas e seriedade com que está sendo feita.
No vídeo, você comenta que, ainda no início de sua carreira acadêmica, quando começou a trabalhar com água, ficou chocada com a quantidade de lixo que é jogada nos rios. O que poderia ser feito para mudar essa cultura?
Campanhas educacionais nos diversos órgãos de comunicação chegando às crianças e aos adolescentes, que mostrem delicadamente e com beleza que nada vive sem água.
Também no documentário, você comenta que a água das chuvas poderia ser mais bem aproveitada nas cidades, pois os canteiros centrais e áreas externas de casas e prédios são concretados. Temos visto alguns estragos causados pela chuva recentemente em Fortaleza, com ruas alagadas, provocando grandes congestionamentos e acidentes de trânsito. Que soluções poderiam ser apontadas para essa questão?
Soluções que já são utilizadas em muitas cidades fora do Brasil e em algumas aqui no País É necessário que tenhamos áreas verdes para que a água das chuvas possa infiltrar nesses espaços. Em algumas cidades, até as calçadas não são totalmente impermeabilizadas e a água do telhado é direcionada para a parte com plantas. É preciso dar condições para que as pessoas não construam muito perto dos riachos, rios e lagoas. As águas vão para os lugares mais baixos; elas não estão invadindo, nós é que estamos tomando o espaço dela (da água).
Assista o documentário “Santo de Casa”, com a professora Marlúcia Santiago.
Outras informações sobre o trabalho da pesquisadora.
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