O professor Eduardo Sequerra divulga o resultado do experimento sobre o valor que damos à vida e a interferência da moral em nossas decisões
Meus caros, chegou a hora de olharmos para nossa pequena pesquisa sobre nossa moral e os embriões. Para refrescar nossa memória, vamos ao desenho de tal experimento. Eu pedi para vocês se imaginarem em uma situação em que tinham que decidir entre salvar a vida de uma enfermeira desmaiada e a de dezenas de embriões humanos em fase de 8 células congelados em um tanque. Ao votarem, vocês ainda me disseram seu gênero, idade e classificaram em uma escala de 1 a 10 o quanto a decisão foi difícil de tomar. Tivemos 40 votos e agradeço a todos que participaram.
Um experimento sobre moral e embriões
Antes de irmos aos resultados, vamos deixar claro os cuidados que temos que ter ao concluir algo sobre eles. Não esperamos aqui ter uma representação da população. Estes 40 votantes em nossa pequena pesquisa são uma representação pequena de leitores do Nossa Ciência. O objetivo desse pequeno experimento era testar o quanto o valor que damos à vida de embriões interfere em decisões morais que temos que tomar. E sobre isso podemos conversar. Não vamos inferir que as opiniões aqui apresentadas sejam a representação de qualquer população.
Bom, vamos lá. Todos os nossos 40 votantes salvaram a enfermeira. Isso quer dizer que todos concordam que a vida de uma mulher formada é mais importante do que a de embriões humanos. Mas e quanto à medida arbitrária da dificuldade da decisão? Será que a decisão foi unânime? Para 29 dos nossos votantes a decisão nem mesmo representava um dilema. Isso é, eles não consideram que embriões de 8 células são vidas moralmente comparáveis com vidas de pessoas. Porém, para 11 pessoas a decisão não foi tão fácil assim. Estas pessoas encontraram um dilema moral em suas decisões. Apesar de ainda darem um peso maior para a vida da enfermeira, deixar os embriões humanos para trás os traria sofrimento. Estas 11 pessoas não são de um gênero ou faixa etária em específico (vejam os gráficos, no de idade estão representados somente os pesos diferente de 1). E a decisão não foi tudo ou nada, ocorreu uma variação interessante nos pesos de seus dilemas. Isso é tudo que podemos concluir a partir dos dados. Mas vou me dar a liberdade de fazer algumas suposições.
As opiniões destas 11 pessoas refletem bem aquilo que Dobzhansky escreveu em 1976 sobre a ideia de que existe um estágio em que embriões se tornam pessoas:
O desejo sentido por muitas pessoas de apontar um estágio provavelmente tem origem na crença que uma alma, concebida como uma entidade preternatural, descende sobre uma coisa viva originalmente sem alma, e de repente transforma a última no estado humano. Eu espero que os teologistas modernos possam aceitar a ideia de que a transformação não é repentina, mas gradual. (tradução minha do inglês)
Eu sei que gastei alguns textos por aqui tentando fornecer material para formarmos opinião sobre em que momento um embrião se torna uma pessoa. Mas na verdade esse estágio repentino em que nos tornamos uma pessoa não existe, nos tornamos pessoas aos poucos. E é por isso que não nascemos conversando, votando ou tomando decisões importantes, nós nos desenvolvemos em pessoas. E talvez por isso damos diferentes pesos para as vidas de embriões humanos quando comparadas com a vida de um adulto. Se já é difícil dizer um estágio em que nos tornamos pessoas, imagina dar valor a todos os estágios de desenvolvimento quanto ao seu “apessoamento” gradual. Mas é interessante constatar que, apesar de não estar claro em nossas discussões sobre aborto, pessoas que vêm um dilema em matar um bolinho de células humanas ainda as acham menos pessoas do que um adulto. E em diferentes graus.
Talvez eu esteja somente trazendo confusão ao debate. Afinal de contas, nós precisamos definir em lei os limites das nossas práticas relacionadas a nossa reprodução. E esses limites talvez peçam a definição de datas, estágios ou sinais. Agora, se a gradualidade do processo de formação de uma pessoa for um fato científico (e eu estou convencido de que é) e a moral de nossa população sobre o tema não for uma questão de tudo ou nada, nós devemos levar tudo isso em consideração na hora de tomar uma decisão.
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Leia o texto anterior: Com que roupa eu vou
Eduardo Sequerra
Excelentes colocações., Dr. Eduardo👏
eu senti-me desconfortável em votar na perda da enfermeira, vislumbrado tratar-se de um ser vivo completo no seu ciclo vital… já os embriões teriam uma longa trajetória para tornar-se pessoa..(?)