Investir em conhecimento começa pelo fortalecimento da educação em todos os níveis
Há quem pense que o investimento para a ciência precisa ser todo da iniciativa privada. Estas são as pessoas que acham que só existe a vida “real” (ou algo parecido com a ciência aplicada) e que esta seria a única a merecer investimentos. Isso significaria que apenas os problemas tecnológicos atuais interessariam à humanidade.
De fato, é muito intrigante o conceito de mundo real, pois este é um lugar deveras estranho, que consome matéria-prima do hemisfério sul para converter em produtos no hemisfério norte, vendidos a preço de ouro nos países pobres. O que está embutido nestes produtos (carros, telefones, etc) é conhecimento construído pela educação. Portanto, comprar um aparelho celular é investir na educação de quem o produziu, aumentando ainda mais a distância entre sul e norte deste planeta tão desigual.
E mais… Quando as nações exploradas disponibilizam seus cientistas para resolver os problemas dos outros, estão, na verdade, a ignorar seu potencial para resolver os próprios problemas. E pior… Quando uma nação cede sua força de trabalho para o poder global dominante e transforma seus laboratórios em P&D de multinacionais o faz por abrir mão de sua capacidade de formar a próxima geração de verdadeiros cientistas. E neste ponto, passa a existir pouco interesse da iniciativa privada: formar uma população consciente é ter compradores críticos e exigentes. No entanto, ao invés de formar cidadãos (como bem pontuado por Noam Chomsky) o interesse é ter consumidores fiéis, o que leva a educação a ser uma pedra no caminho do neoliberalismo.
Ora, sem educação não há ambiente para a produção de conhecimento, e com isto, bem menos países competirão para a hegemonia na próxima geração de internet, vacinas e tecnologias dominantes. Para manter o campeonato sob controle (se isso fosse futebol) eles precisam garantir que existam times fracos que já entram rebaixados no certame.
Investir em conhecimento começa pelo fortalecimento da educação em todos os níveis, valorizando os professores, integrando universidades e escolas, abandonando a decoreba, investindo em experimentação e colocando o Estado brasileiro como protagonista de um grande plano de nação que coloque cada brasileiro e cada brasileira no papel de protagonista de sua história, pavimentando a estrada rumo à verdadeira soberania.
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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