Inovação aberta, a evolução da Universidade e da Indústria Disruptiva

quarta-feira, 31 outubro 2018

Um conceito que vai além da simples parceria que uniria os produtores de conhecimento ao mercado em prol de toda sociedade

Muito se discute sobre o papel da Universidade, o papel da Indústria, dos docentes, discentes e empreendedores nesse grande ecossistema chamado Sociedade, a qual deixo na plateia. Deixo o Governo, por enquanto, fora disso. A discussão, embora gerenciada pelo lado que a toma por anfitrião, está longe de acabar, enquanto não for determinado um deliberador, nesse caso, uma juíza para balizá-la. Invoco para isso a Inovação Aberta, ou open innovation, aquele ente capaz de dizer: “vocês não sobreviverão um sem o outro”.

A Inovação Aberta propõe “uma nova abordagem para a organização da pesquisa, desenvolvimento e inovação nas empresas, através da utilização de ideias externas em seu próprio processo de inovação, ao passo que também disponibilizam para outras empresas ideias internas geradas em suas equipes de pesquisa e que não serão utilizadas em seu negócio” [Henry Chesbrough, 2003]

Inovação aberta: Negociando habilidades

Então, vejam que bacana: a empresa “U”, que criou algo, não sabe como ou o que fazer com esse algo, pode disponibilizar através de um contrato esse algo para a empresa “E”, que não criou esse algo, porém sabe como transformar esse algo criado pela empresa “U” em bens ou serviços. Alguém já viu este filme? O “U” e o “E” não foram escolhidos ao acaso para representar as empresas desse contexto.

Tríplice Hélice

Outra teoria muito bonita erigida pelo professor Henry Etzkowitz, a quem tive a satisfação de “trocar figurinhas” em encontro presencial em 2016, fala do papel que as três principais entidades – Universidade, Indústria e Governo, as quais eu chamo de .EDU, .COM e .GOV, por intimidade – deveriam exercer para que a inovação ampla, geral e irrestrita aconteça na e para a Sociedade. O desenho que dá o nome à teoria da Tríplice Hélice, ou TH, nasce do encontro das habilidades de cada um dos três atores.

Chamo de “teoria muito bonita” porque, para nosotros, ela está longe de passar disto. A .EDU insiste em achar que seu conhecimento é muito nobre, que deve continuar criando cientistas e não deve descer de sua abóbada para se comunicar com os capitalistas, a galera do .COM. Scientia, quia scientiam (Ciência pela Ciência), é o que dizem. De outro lado, o pessoal do .COM não vê sentido em se aproximar de entes tão distantes da realidade, ensimesmados e de ego celestial. O .GOV… Difícil descrever. Não sei bem o que este ente faz? Bom, apartheid feito, todos perdem.

Uma proposta de solução

Desenhado o cenário, chamemos à baia nossa juíza, a Inovação Aberta. Sabemos que o que sustenta a .EDU são os impostos, os quais são oriundos da taxação sobre produtos ou serviços gerados pelos CNPJ ou CPF. Assim, sem as .COM não existem impostos; sem estes, bye bye .EDU.

Nossa juíza advogaria então na seguinte linha: já que a .EDU detém o conhecimento que pode ser transformado em invenção e a .COM possui o meio de manufaturar e através de sua logística comercializar tais invenções, que tal criar-se um campo de troca, aberto, regido por contratos profícuos, no qual poder-se-ia usar o conceito de inovação definido por um dos mais respeitados institutos do mundo, o MIT (Massachusetts Institute of Technology)? Sua definição é simples e poderosa:

Inovação = Invenção x Comercialização (MIT)

Ora, cada monkey em seu galho! A .EDU seria oxigenada e estimulada a criar ciência dedicada aos problemas que só o “chão de fábrica” oferece, e a .COM começaria a ver o sentido que os impostos exercem sobre sua contraparte. Este espaço de interação faria, finalmente, a TH deixar de ser teoria. Vejo então a Inovação Aberta como a cola que uniria estes entes em prol de toda Sociedade, pois Inovação só acontece no Mercado.

Muito bem engenheiro, mais uma equação!

E alguém perguntaria: “E sobre o .GOV, onde ele entraria nesta equação?”

E eu responderia: “Ainda não sei… Vou deixar para outro encontro!”

Referências

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Leia a edição anterior: A inteligência coletiva que nos falta

Gláucio Brandão é gerente executivo da inPACTA, incubadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Gláucio Brandão

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