Impactos dos parques eólicos na saúde humana O Mundo que queremos

sexta-feira, 16 agosto 2024
Foto: Agência Brasil

Estudos indicam a necessidade de políticas para mitigar os impactos que as eólicas estão provocando nas regiões mais pobres do Nordeste

No Nordeste brasileiro, os parques eólicos, instalados a partir da década de 2020, são considerados empreendimentos de desenvolvimento regional, com capacidade de gerar emprego e renda. Contudo, ao longo do tempo, os povos que vivem nas comunidades receptoras dos parques eólicos vêm sofrendo com problemas de saúde metal e física devido às condições adversas do funcionamento dos aerogeradores.

O funcionamento das turbinas dos aerogeradores provoca ruído ao ponto de perturbar a qualidade de vida das pessoas que vivem nas comunidades receptoras desses empreendimentos. Além disso, a fibra de vidro, material de fabricação das torres, produz poeira que, em contato com o corpo humano, pode causar problema de saúde como, por exemplo, alergia.

Existem diversos trabalhos na literatura científica que descrevem relatos de moradores, residentes nas proximidades dos parques eólicos, sobre problemas como perturbação mental e insônia causada, provavelmente, pelo barulho produzido pelas turbinas. Sabe-se que, o sono é um dos principais dos marcadores do ciclo circadiano – variação nas funções biológicas de diversos seres vivos – e, caso o ser humano não tenha um sono adequado pode desencadear diversos problemas de saúde como, por exemplo, estresse, ansiedades, falta de concentração e motivação, indisposição etc. É importante destacar que é durante o sono que o corpo humano realiza funções essenciais para sua recuperação como, a reparação dos tecidos, músculos, produção de proteínas, renovação de energia e ajusta o metabolismo. Deste modo, a regulação do sono é fundamental para a saúde do corpo e da mente.

Estudos recentes apontam o ruído das turbinas como responsáveis por problemas de saúde mental nas comunidades próximas aos parques eólicos, que, não raras vezes, é possível verificar uma distância de menos de 200 metros entre as residências e os aerogeradores. O estudo, também, aponta uma forte correlação entre o uso de medicamentos para dormir por parte da população que vivem próximos aos parques eólicos instalados no Nordeste Brasileiro.5

Relatos de moradores, residentes nas proximidades dos parques eólicos, sobre problemas como perturbação mental e insônia causada, provavelmente, pelo barulho produzido pelas turbinas.

Em relação à qualidade de vida das crianças, a poluição sonora pode levar a situações de irritabilidade, redução na concentração e aprendizado das nas escolas das comunidades receptoras dos parques eólicos, devido, principalmente, a problemas com o sono causado pelo barulho das eólicas. Esses problemas de saúde têm elevado a demanda por tratamento médico, configurando-se em um problema de saúde pública nessas comunidades, impactando na oferta de serviços públicos de saúde.

Tem-se também observado danos à saúde dos animais. Por exemplo, é possível constatar problemas de estresse em animais decorrentes do barulho das turbinas e, causar a redução na produção de proteínas animais como carne, leite e ovos, podendo comprometer à soberania alimentar da população local. Os animais têm sido prejudicados de diversas formas, como a colisão com as estruturas das eólicas, comprometendo o fluxo migratório e a morte de várias espécies de pássaros.

Embora, todas as pessoas tenham o direito fundamental à saúde e ao meio ambiente protegidos pela Constituição (Art. 23, VI), pouco se tem feito para resolver esse grande problema.

Urge, portanto, a necessidade de políticas para mitigar os impactos que as eólicas estão provocando nas regiões mais pobres do Nordeste, pois é dever do estado proteger as pessoas e, garantir a sua qualidade de vida e bem estar. Longe de ser uma energia limpa, as empresas eólicas têm lucros às custas do sofrimento de centenas de pessoas, que acreditaram estes empreendimentos iriam mudar as suas vidas para melhor.

Referências

PIERPONT, N. Health, hazard, and quality of life near wind power installations—How close is too close?. Malone            Telegram,         New      York,    USA,    p.         12-7,     2006. er_installations_How_close_is_too_close.

LIU, Andy; DE SOUZA, Beatriz; FERRARETTO, Tânia Rita Gritti. Impactos negativos para a saúde humana ocasionados pelo ruído dos geradores eólicos. In: IX JORNACITEC-Jornada Científica e Tecnológica. 2020.

Costa, M. A. de S., Costa, M. de S., Costa, M. M. de S., & Lira, M. A. T.. (2019). Impactos Socioeconômicos, Ambientais e Tecnológicos Causados pela Instalação dos Parques Eólicos no Ceará. Revista Brasileira De Meteorologia, 34(3), 399–411. https://doi.org/10.1590/0102-7786343049.

R7. Documentário: Vizinhos do Vento: saiba como parques eólicos podem colocar em risco a vida de animais. 2024.Disponível em: https://noticias.r7.com/jr-na-tv/series/videos/vizinhos-do-vento-saiba-como- parques-eolicos-podem-colocar-em-risco-a-vida-de-animais-06062023/. Acesso em: 15 ago. 2024

Leia o texto anterior: Direitos socioambientais jogados ao vento

Nildo da Silva Dias é Professor Titular da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa). Francisco Cleiton da Silva Paiva é Advogado, Servidor Público na Ufersa e Doutorando pelo Programa de Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UFERSA).

Nildo da Silva Dias e Francisco Cleiton da Silva Paiva

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