IA: Use com moderação Ciência Nordestina

terça-feira, 10 junho 2025
A IA organiza dados massivos e pode nos apoiar em várias atividades, mas ela não vai à bancada produzir conhecimento.

Nesta edição 296 da coluna Ciência Nordestina, Helinando Oliveira aborda o uso de IA na educação e na ciência

(Helinando Oliveira)

Há pouco mais de cinco anos, o planeta (e por tabela a educação) foi marcado profundamente pela pandemia. Com o lockdown, todos os professores tiveram de aprender na prática a mudar suas aulas para o modo remoto. Não estávamos preparados para aquilo. As consequências são vistas até hoje.

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O que ninguém esperava seria que em tão pouco tempo uma nova hecatombe nos afetasse de maneira tão profunda. E foi assim que a inteligência artificial (IA) chegou no ambiente das salas de aula, nos laboratórios e na internet como uma ferramenta que nos faz questionar o que de fato é real e o que não é.

Em particular, os estudantes já se apossaram da IA de um modo muito intenso. Eles usam IA para estudar, conseguir explicações sobre determinados assuntos, resumir conteúdos a poucos itens… No entanto eles também produzem conteúdos, trabalhos escolares, resenhas, apresentações, artigos científicos, esquemas e figuras…

E isso se estende à produção de conteúdo científico. As editoras têm aplicado softwares para detectar o uso de IA na produção de conteúdo. Esta é considerada uma prática predatória em que o humano assume como seu o produto gerado por um IA.

Redundante e superficial

Muitas vezes é possível identificar o uso de IA diretamente: no texto, a olho nu é visível um nível elevado de redundâncias e de superficialidade de informação que tende a ser disposta como itens de uma lista de ideias. O pior fica reservado para as referências. Chega a ser comum a citação completa de referências que não existem! Na composição gráfica, para várias editoras já há um consenso de que imagens geradas por IA não podem estar incluídas em conteúdos científicos.

Talvez chegue o momento em que trabalhos de revisão de literatura sejam todos atribuídos à IA e não a autores humanos. A comparação da capacidade de processamento de um autor que baixa 150 referências para ler e uma IA com toda a internet à disposição chega a ser cômica.

Todavia, a IA não vai à bancada produzir conhecimento. Ela organiza dados massivos e pode nos apoiar em várias atividades. Porém a comunicação é uma atividade humana. O prazer de rabiscar letras no papel é nosso e não dela. E a escolha de manter a inteligência humana como sendo o motor que resolve os problemas do mundo é nossa. Quanto mais acomodação tivermos na arte do raciocínio mais mergulhamos em uma zona de conforto difícil de sair.

Criatividade vital

Já tivemos nestas 296 semanas da coluna Ciência Nordestina vários debates sobre IA e em todas eles tivemos a certeza de que a inteligência humana (a real) é provida de uma criatividade vital que pode nos conduzir a um planeta melhor. A chegada da IA na educação é irreversível. Em alguns anos, nossos estudantes não saberão mais o que é lápis e papel… Não existirão livros texto. Pode ser que as aulas sejam apoiadas unicamente por IA. Só o tempo dirá se esta configuração é melhor que a outra. No entanto, sempre teremos a oportunidade de voltar e recomeçar. Vide o modo presencial para as nossas aulas. Na pandemia, se achava que o modo remoto seria a solução de tudo. E não foi.

Enfim, use a IA com moderação. Cheque toda a informação. Você está no controle.

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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência

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