Cordelista homenageia heroínas negras que lutaram contra a opressão racista e continuam inspirando suas descendentes
Na última coluna de um ano marcado pela violenta intensificação do colonialismo com o extermínio de jovens negros, o genocídio de povos indígenas para roubar suas terras, a aniquilação de biomas em prol do lucro de uns poucos incentivados e legitimados pelo discurso e pelas práticas governamentais e com a perseguição e a censura do pensamento livre e das artes por parte do governo e de milícias fascistas orgânicas ao seu projeto de poder, queremos despedir-nos de 2019 com poesia e cultura popular, como ato de resistência e também de esperança. Nossa coluna desta semana é um cordel: um cordel escrito por uma jovem negra que homenageia heroínas negras que lutaram contra a opressão escravagista, racista, patriarcal, de classe e epistêmica e continuam inspirando suas descendentes.
Stephany Cristina Ferreira de Souza, autora do cordel, é estudante de Jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e cordelista há três anos. Iniciou sua história com a arte da rima na Escola Estadual Teônia Amaral de Florânia, Rio Grande do Norte, e desde então leva consigo a literatura de cordel por onde passa.
Com esta obra, a coluna Diversidades interrompe temporariamente suas atividades. Retornaremos com textos semanais a partir da segunda quinzena de fevereiro.
Nosso desejo para 2020 é que o espírito das Dandaras, das Teresas, das Firminas, das Zilas e tantas outras nos dê forças para continuar a enfrentar a barbárie e a construir no dia a dia outros mundos possíveis.
Heroínas, mulheres, negras
Cordel de Stephany Cristina
A voz de toda mulher preta
Que da história foi apagada
Ecoa potente em meus versos
Grita forte, quer ser lembrada.
Por isso uso o exemplo franco
De Marielles, Marias e alcanço
Inspiração para essa caminhada.
Declamo não por mim,
Mas por Dandara dos Palmares
Que enfrentou o sistema escravista,
Lutou pelo fim das barbáries,
Resistiu até o último momento
E para não ceder ao tormento
Entregou-se ao abismo dos mares.
Não é de hoje que preta com voz
Embrulha o estômago do Estado.
Foi por ele que Teresa de Benguela
Teve seu ativismo silenciado.
Mas para cada Benguela que cair
Mais Esperanças irão surgir
Para continuar com o seu legado.
Através da minha literatura
Quero manter viva a memória
De poetisas como Zila Mamede
Que não se encontra nos livros de história,
Mas que está presente em minha poesia
E inspira minha trajetória.
Faço dos versos um ato de luta,
Uma luta diária por meus ancestrais:
Por Auta de Souza, Maria Firmina
Mulheres de força, seres culturais.
Enquanto meus dedos poderem escrever
E enquanto minha cabeça conseguir rimar
Trarei em meus versos histórias de luta
E mulheres que o tempo não pode apagar.
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Leia a coluna anterior: Denise exite e resiste – parte 2
Antonino Condorelli é Professor Adjunto do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Antonino Condorelli
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