Heroínas, mulheres, negras Diversidades

segunda-feira, 30 dezembro 2019

Cordelista homenageia heroínas negras que lutaram contra a opressão racista e continuam inspirando suas descendentes

Na última coluna de um ano marcado pela violenta intensificação do colonialismo com o extermínio de jovens negros, o genocídio de povos indígenas para roubar suas terras, a aniquilação de biomas em prol do lucro de uns poucos incentivados e legitimados pelo discurso e pelas práticas governamentais e com a perseguição e a censura do pensamento livre e das artes por parte do governo e de milícias fascistas orgânicas ao seu projeto de poder, queremos despedir-nos de 2019 com poesia e cultura popular, como ato de resistência e também de esperança. Nossa coluna desta semana é um cordel: um cordel escrito por uma jovem negra que homenageia heroínas negras que lutaram contra a opressão escravagista, racista, patriarcal, de classe e epistêmica e continuam inspirando suas descendentes.

Stephany Cristina Ferreira de Souza, autora do cordel, é estudante de Jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e cordelista há três anos. Iniciou sua história com a arte da rima na Escola Estadual Teônia Amaral de Florânia, Rio Grande do Norte, e desde então leva consigo a literatura de cordel por onde passa.

Com esta obra, a coluna Diversidades interrompe temporariamente suas atividades. Retornaremos com textos semanais a partir da segunda quinzena de fevereiro.

Nosso desejo para 2020 é que o espírito das Dandaras, das Teresas, das Firminas, das Zilas e tantas outras nos dê forças para continuar a enfrentar a barbárie e a construir no dia a dia outros mundos possíveis.

 

Heroínas, mulheres, negras

Cordel de Stephany Cristina

Marielle Franco – Foto Reprodução

A voz de toda mulher preta

Que da história foi apagada

Ecoa potente em meus versos

Grita forte, quer ser lembrada.

Por isso uso o exemplo franco

De Marielles, Marias e alcanço

Inspiração para essa caminhada.

 

Dandara dos Palmares – Imagem Reprodução

Declamo não por mim,

Mas por Dandara dos Palmares

Que enfrentou o sistema escravista,

Lutou pelo fim das barbáries,

Resistiu até o último momento

E para não ceder ao tormento

Entregou-se ao abismo dos mares.

 

Não é de hoje que preta com voz

Embrulha o estômago do Estado.

Foi por ele que Teresa de Benguela

Teve seu ativismo silenciado.

Mas para cada Benguela que cair

Mais Esperanças irão surgir

Poetisa Zila Mamede. Foto: Wikipedia.

Para continuar com o seu legado.

 

Através da minha literatura

Quero manter viva a memória

De poetisas como Zila Mamede

Que não se encontra nos livros de história,

Mas que está presente em minha poesia

E inspira minha trajetória.

 

Poetisa Auta de Souza. Foto: Wikipedia.

Faço dos versos um ato de luta,

Uma luta diária por meus ancestrais:

Por Auta de Souza, Maria Firmina

Mulheres de força, seres culturais.

 

Enquanto meus dedos poderem escrever

E enquanto minha cabeça conseguir rimar

Trarei em meus versos histórias de luta

E mulheres que o tempo não pode apagar.

 

A coluna Diversidades é atualizada às segundas-feiras. Leia, opine, compartilhe e curta. Use a hashtag #Diversidades. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br).

Leia a coluna anterior: Denise exite e resiste – parte 2

Antonino Condorelli é Professor Adjunto do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Antonino Condorelli

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