Hardware reconfigurável e Emoção Artificial: a evolução da IA através de FPGAs e a hipótese de uma camada emocional autônoma
(Gláucio Brandão)
Na primeira parte desse texto, aborda-se a IA Simbólica (GOFAI), que utiliza regras e lógica para resolver problemas específicos, mas enfrenta limitações ao lidar com incertezas. Em seguida, explora-se a ideia de Alan Turing sobre uma “máquina criança”, que, ao aprender, poderia evoluir para uma inteligência adulta. O texto também discute a IA embrionária, capaz de se aprimorar iterativamente, potencialmente levando a uma superinteligência. Por fim, Eliezer Yudkowsky defende a IA Amigável (IAA), alinhada com valores humanos, para evitar riscos de uma superinteligência descontrolada. Agora vamos abordar sobre Hardware reconfigurável e Emoção Artificial: a evolução da IA através de FPGAs e a hipótese de uma camada emocional autônoma
Hoje vamos começar com o Hardware reconfigurável: vocês nunca ouviram falar, né? Mas eles existem.
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A FPGA (Field-Programmable Gate Array) é um tipo de hardware reconfigurável que pode ser programado após a fabricação. Diferente dos circuitos integrados tradicionais, os FPGAs podem ser reprogramados em campo para executar diferentes funções, o que permite sua reutilização em diferentes projetos e aplicações. Oferecem a capacidade de personalização do hardware para tarefas específicas, proporcionando maior desempenho em comparação com processadores de propósito geral.
As FPGAs são capazes de executar várias operações em paralelo, o que pode resultar em processamento mais rápido para certas aplicações. Além disso, permitem ciclos de desenvolvimento mais curtos, já que os engenheiros podem reconfigurar o hardware diretamente sem precisar de novos chips. Uma ampla variedade de áreas, como telecomunicações, processamento de sinais digitais, controle industrial, eletrônica de consumo e pesquisa científica podem utilizá-los.
Ferramentas poderosas para quem precisa de flexibilidade e desempenho em suas aplicações de hardware, apresentam velocidade de resposta superior ao software, que precisa rodar sobre várias camadas até chegar o hardware. Logo, um grande atalho temporal. Essa é a característica imbatível das FPGAs: são a “massa” cinzenta sobre a qual o software roda. Falo assim pois, comparando ao cérebro humano, são também adaptáveis. Começaram a ter insights?
(Segundo a hipótese de GBB-San)
Imagine um cenário em que se pode considerar uma sequência iterativa de aprimoramento não só de inteligência, mas também de simplificação de arquitetura; de hardware. Não é uma possibilidade futurista. Falei sobre FPGA porque trabalhei com elas assim que entrei na UFRN (2006). Cheguei até a projetar um processador para um projeto da Petrobras.
Utilizando uma IA embarcada em uma FPGA (vou chamar de IA-emb) – não sei qual o estado da arte disso agora, pois deixei a área de sistemas embarcados em 2011 –, imagine o cenário no qual à medida que os estágios de automelhoria avançassem, em determinados pontos, uma IA-emb poderia reescrever sua própria arquitetura (falo de hardware) de modo a tornar melhorias subsequentes mais fáceis de serem alcançadas. Trocando em miolos (não usei esse termo por acaso), a IA-emb aumentaria a eficiência de suas “células” de modo a só avançar à medida que esse aprimoramento atingisse o máximo, transformando esse hardware em neurônios “perfeitos”. Quando esse estágio fosse atingido, partir-se-ia para o aprimoramento do software (IA convencional), e o processo continuaria.
Como disse, não é necessariamente uma hipótese – atenção para o termo “hipo” –, mas uma conclusão inspirada nos trabalhos de Turing (Criança), Yudkowsky (Amigável) e nas minhas andanças com a FPGA (reconfigurável). Diferentemente do proposto por Yudkowsky, na qual o desenvolvimento da IA se dá por decisão da própria IA, ei-la:
Hipótese. Para se alcançar uma IA geral, as decisões 5W2H* sobre o aprimoramento dos próprios hardware e software, terão que ser controladas por um ente autônomo, porém solidário à própria IA, através de uma camada envoltória independente e de altíssimo nível, a qual, pela complexidade, atribuirei o nome de Artificial Emotion.
*Nota: What (O que?), Why (Por quê?), Who (Quem?), When (Quando?), Where (Onde?), How (Como?), How Much (Quanto custa a operação?)
Corolário. Enquanto a camada emocional que controla a formação da IA for a humana, continuaremos tentando criar uma IA que se assemelha a nós. A IA geral não sairá daí; não precisará ter uma inteligência igual à humana.
Ou seja: a próxima era sobre esforços de síntese artificial, em minha visão, não será sobre desenvolvimento da inteligência, mas de uma camada emotiva – e independente – para que ela cuide da evolução de sua própria IA! Muito brabo, né não?
Considerando-se esta hipótese, percebe-se que a evolução humana, no quesito construção da Inteligência Natural (IN), aconteceu de forma contrária à formação da IA. A IN começou dependente dos instintos (da pura emoção à máxima racionalização), ao passo que estamos construindo a IA no sentido da racionalização para emoção. Em ambos aspectos, a hipótese GBB-San sugere que, para a construção de um cérebro, também artificial, ambas camadas são imprescindíveis.
Finalizando: Partindo da IA e atravessando os agentes inteligentes, se quisermos atingir a Inteligência Geral, vaticino que precisaremos chegar à EA, a camada de emoção artificial. Vou escrever Artificial Emotion(AE) pra já deixar internacional. Ela será a responsável pelo próprio desenvolvimento e do de sua IA, o que terá de acontecer de forma independente. Este talvez seja o maior paradoxo da próxima era computacional: desenvolver um ser emotivo capaz de controlar seu desenvolvimento intelectual, o qual influenciará o aprimoramento de sua própria capacidade emocional. Observe que, nessa linha, cada um dos entes compostos pelo par IA-EA terá sua própria personalidade, na qual a IA será a parte consciente, visível, e a EA o subconsciente artificial, inalcançável. Se minha hipótese for validada, a criação da emoção artificial será uma das maiores disrupções promovidas pela humanidade. Arrisco dizer que promoverá o surgimento de uma outra espécie. Please, alguém arranje um roteirista!
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Gláucio Brandão é professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e autor do livro Triztorming
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