Chomsky associa a perda de credibilidade da população com os fatos do momento atual a uma avalanche de factoides propagados pelos veículos de comunicação
A entrevista recente de Noam Chomsky ao El País, “As pessoas já não acreditam nos fatos” é esclarecedora e digna de nota.
Nela se vê a figura do maior pensador vivo (próximo aos 90 anos) saindo dos holofotes do MIT em busca do calor e da luz natural do deserto de Sonora – Arizona… A entrevista revela uma clareza de ideias estonteante.
Chomsky associa a perda de credibilidade da população com os fatos com o momento atual, em que os veículos de comunicação dedicam suas atenções aos objetivos dos governos.
E para isso há uma avalanche de factoides e fatos menos relevantes que insistem em manter os holofotes bem longe daquilo que de fato interessa. Enquanto as pessoas discutem e buscam futilidades, as direitas cortam direitos, privatizam o que ainda é estatal e tratam de manter o neoliberalismo cada vez mais vivo entre os pobres.
Chomsky justifica esta afirmação: ao invés de aumentar os impostos para os mais ricos, a solução encontrada é tornar o Estado o inimigo da vez. E isso faz com que o mercado (favorecido com os cortes de investimento do Estado) seja exclusividade dos pobres. A proteção econômica é toda voltada às grandes empresas, a partir de subvenções. A grandeza do Deus mercado é mantida por fundos públicos removidos dos pobres.
E é neste sentido que o governo tenta provar que a reforma da previdência é tão necessária quanto o perdão às dívidas bilionárias das grandes corporações. Os pobres podem morrer de fome, já as grandes empresas não! Com isso, no Estado mínimo, os impostos passam a ser fundo para manutenção das detentoras do poder financeiro.
E para jogar uma cortina de fumaça sobre toda esta triste realidade estão as ferramentas digitais à disposição de nossa sociedade, difundindo individualismo e sectarismo a uma geração que não consegue ir além das fotos e sua respectiva legenda, das pessoas que “não curtem textão” e normalmente desistem de ler para além dos 255 caracteres iniciais.
E esta superficialidade tem chegado inclusive àqueles que fazem ciência. Excluindo a parcela (já perdida) dos que publicam para ter progressão funcional e dos que fazem da plataforma Lattes uma rede social, tem sido difícil mostrar aos mais jovens que a ciência não se conjuga na primeira pessoa. A coletividade precisa suplantar o ego, da mesma forma que a busca por respostas para grandes problemas precisa estar acima de qualquer métrica individual.
O neoliberalismo que agora aponta exclusivamente para a cabeça dos pobres não pode ser dominante também no meio acadêmico. A produção de conhecimento com recursos públicos não pode chagar, por exemplo, gratuitamente à iniciativa privada. O conhecimento precisa estar voltado à solução dos problemas de seu financiador, o povo.
E a luta continua, cada vez mais complexa, difusa, turva… Com muitas falsas notícias, anticiência e maldade. O conforto é estarmos do mesmo lado de pessoas como Chomsky, que sempre usou e usa as palavras para ser luz na escuridão.
Viva Chomsky!
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Helinando Oliveira
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