Para não mergulharmos numa guerra sem fim, precisamos usar a inteligência para tentar uma solução para um problema já quase resolvido
Os momentos de convulsão social e substituição de verdades por narrativas que vivenciamos no Afeganistão e em todo o planeta nos remetem a uma frase ainda atual atribuída a George Orwell: “A história é escrita pelos vencedores”.
Na história do Brasil (contada pelos vencedores) somos levados a acreditar que os portugueses nos descobriram em 1500. Mas… O que faziam os povos indígenas que estavam aqui? Eles chegaram primeiro. A terra era deles. E o que dizer de nossa independência? Somos independentes de quem? Nosso sentimento de vira lata não combina com independência, definitivamente.
Estes são apenas recortes que demonstram que a história escrita pelos vencedores nos fazem ver coisas que nem sempre existem: o vermelho, por exemplo, é detestado em um país cujo nome é Brasil. Ora, a palavra Brasil significa “vermelho como uma brasa”, que é a cor da madeira que havia em abundância por aqui e era usada para tingir roupas. Pau-brasil que praticamente não é encontrado mais em canto algum. Assim como os povos indígenas, insistentemente caçados pelos fazendeiros.
E nesta luta do bem contra o mal, pequenos lampejos de realidade jogam dúvidas sobre uma narrativa quase perfeita. Os afegãos empilhados em estações de embarque, de pé sobre aviões ou morrendo em queda livre são imagens verdadeiramente impactantes. Destas imagens ficam claros o desespero de um povo que tenta fugir de sua terra, de suas lembranças, de sua vida. Fugindo do assombroso extremismo que aponta na esquina.
Extremismo este que já foi afagado quando era útil. Que saiu do controle e agora é uma ameaça às mulheres e a toda uma nação. E nesta história não há mocinhos nem bandidos. Todos têm sua parcela de culpa no crescimento de um monstro incontrolável que assusta o planeta.
E este monstro não é constituído apenas por extremistas do oriente. São extremistas também os intolerantes, os machistas, os negacionistas… Aqueles que ajudaram o país a estourar a faixa de 550 mil mortos. Não precisam usar mantos nem gritar palavras de ordem. Basta desrespeitar o próximo, apagar seus sonhos, alimentar seus piores temores.
A pandemia e a crise ambiental jogaram o planeta em uma cortina de trevas que põe em risco todas as conquistas humanas dos últimos séculos. Ousaria dizer que estabelece uma linha que delimita o fim de nossa espécie. E quando este planeta afundar (tal qual o titanic) não importará o quanto rico é cada um. A natureza estará eliminando um vírus terrível que provocou mudanças que nenhuma outra espécie ousara fazer (este vírus somos nós, os humanos).
Até lá temos dois caminhos a percorrer: aprofundar o extremismo e mergulhar numa guerra sem fim ou usar a inteligência para tentar uma solução para um problema já quase resolvido.
O que se sabe é que com ódio nada se planta. E onde nada se planta, não há o que se colher.
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Leia o texto anterior: Universidade: para todos, para poucos ou para ninguém?
Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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