Escrita científica (Parte 2) Colunas

terça-feira, 14 janeiro 2025

A Introdução pode ser definida como sendo aquela seção em que o autor tenta provar que não está reinventando a roda

(Helinando Oliveira)

Continuando a nossa jornada pela escrita de conteúdos científicos, vamos ao segundo bloco do artigo. Depois de escolher um título conciso e impactante, um resumo completo (e muitas vezes corrigido), chegamos à Introdução.

Introdução

Podemos definir a Introdução como sendo aquela seção em que o autor tenta provar que não está reinventando a roda. Lembram da frase curta lá no resumo que segue o termo “no entanto”? Pois é. É na Introdução que o autor tem o espaço devido para desenvolver a novidade do trabalho apresentado.

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E esse processo começa por uma revisão bibliográfica sólida com referências atuais e relevantes que estejam na fronteira do conhecimento.  A tentação de todo marinheiro de primeira viagem é organizar um parágrafo por artigo e sair metralhando:

“Fulano et al. fizeram isso…

Já João et al. fizeram aquilo…

No entanto, Ciclano et al. disseram que…”

Não caiam nesta cilada. Essa compartimentalização destrói todo o artigo.  O texto deve ser suave e não abordar especificamente uma referência, mas sim grupos delas. Como por exemplo,

“Esta abordagem vem sendo assumida na literatura [Fulano et al, João et al, Ciclano et al] ….”

Linha de raciocínio

Essa escolha demonstra que o autor não apenas baixou as referências, mas também as leu e montou uma linha de raciocínio mais completa. E mais uma vez, a munição para os revisores vem na introdução. Detalhar técnicas ou processos que não são relevantes para seu trabalho é a levantada de bola perfeita para que o revisor peça que o processo descrito na Introdução seja implementado na revisão de seu trabalho. Então, muito cuidado com o que esse deseja colocar na Introdução. E se há termos “obrigatórios” para o resumo, na Introdução é praxe fechar a seção com um parágrafo começando por “Neste trabalho,” em que o autor despeja todo o arsenal de novidades e vantagens de seu trabalho com relação aos conteúdos descritos na Introdução.

Por isso mesmo que muito cuidado deve ser direcionado ao conteúdo da Introdução, ao fazer com que a culminância seja o último parágrafo e não a descrição da literatura. A falta de novidade de trabalhos científicos é facilmente identificada nesta seção.

Por vezes, até trabalhos com novidade são perdidos por uma introdução mal escrita e sem foco. Por isso, podemos definir que a Introdução não é crítica para que um trabalho seja aceito. Pelo contrário, ela é decisiva para que o trabalho seja rejeitado. Várias revistas já decidem pela rejeição de um artigo com a simples leitura de resumo e introdução.

Leia também: Como escrever um resumo científico

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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência.

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