A sociedade e o mercado clamam por uma maior sintonia, por melhores resultados
(Gláucio Brandão)
Há alguns anos, em meu ideation place favorito (alguns chamam por sala de aula), no meio de uma conversa, um aluno da ECT(UFRN) disparou a seguinte frase: “Professor, eu não sei como explicar pra minha avó o que eu faço aqui. Já tentei de todo jeito. Até eu me enrolo!”.
Essa frase me marcou e virou meme em reuniões na academia. Sempre utilizamos esta frase quando queremos dizer que precisamos ser mais contundentes sobre o que deveríamos devolver à sociedade. A AC de hoje toca nesse ponto: como promover reconexão com o mundo lá fora; aquele que paga a conta e espera nosso retorno?
No bate-papo de dois anos atrás, Negócios Tecnológicos da UFRN não têm estudantes…, – NegTec para os íntimos –, com base nos avanços do grupo que lá apontei, do qual faço parte, finalizei o texto assim:
“No começo, catávamos estudantes. Com um pouco de tempo, encantávamos curiosos. Depois disso, começamos a selecionar empreendedores inovadores. Com a ajuda dos que apostaram em nós, hoje formamos CInO’s, Chief Innovation Officers! Tudo isto historiado, acredito ser necessário dizer porque NegTec não lida mais com estudantes ou professores, mas com construtores de novos mundos. Caso você se interesse em vir para cá, e sendo irritantemente arrogante, já te avisamos: NegTec tem várias assimetrias e só lida com empreendedores inovadores. Não temos estudantes nem professores, tá bom?”
De lá para cá, a massa empreendedora e o ecossistema aumentaram em muito. Não sei se os impactos foram proporcionais. O curioso é que um índice se manteve. Naquela AC, colei a seguinte reportagem de 08/12/21: UFRN é 1ª universidade mais empreendedora entre quatro regiões do país(https://www.ufrn.br/imprensa/noticias/53817/ufrn-e-1a-universidade-mais-empreededora-entre-quatro-regioes-do-pais).
Para esta AC, trago a notícia de 22/10/24: Ranking aponta UFRN com nova liderança na inovação(https://ufrn.br/imprensa/noticias/84479/ranking-aponta-ufrn-com-nova-lideranca-na-inovacao), que traz as linhas “Com o ‘status’ de ser a Universidade com mais concessões de patente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, a UFRN conquistou agora a melhor colocação entre as universidades do Nordeste no quesito inovação no Ranking Universitário da Folha (RUF), edição 2024 (https://ruf.folha.uol.com.br/2024/)”.
Se houve uma melhora e continuamos firmes nessa cultura, por que não incorporá-la de fato à universidade, ou, pelo menos, em algumas unidades? Como falei em artigo anterior: será que ainda temos (academia) tanta reserva, ou discriminação, sobre o conceito de negócios?(https://nossaciencia.com/colunas/afinal-por-que-tanto-preconceito-com-a-palavra-negocio/).
Para que essa cultura se estabeleça, temos que promover algumas alterações no status quo. Um oximoro, como provavelmente diria meu amigo e professor João Costa: A perpetuação dessa cultura empreendedora exigirá mudanças!
A resposta para essa pergunta é simples, mas de difícil implementação: fazer com que a sociedade sinta o impacto de nossa atuação além dos passivos diplomas!
Ok, alguém poderia dizer: “Pera lá, GBB-San: você acha pouco o impacto que os 45.000 alunos trabalhados aqui promoverão na sociedade, no mercado?”. E eu responderia de forma maiêutica (com outra pergunta): “Depende! Se a UFRN deixasse de existir, esse pessoal poderia ser ‘trabalhado’ em outras instituições?”. E a resposta óbvia é um sonoro “SIM”!
Ou seja: qual é nosso diferencial? Quais acréscimos poderíamos dar aos diplomas dos aqui residentes? Será que não poderíamos acrescentar à formação dessa galera toda uma pitada de proação sabor “empreendedorismo inovador”, para que todos, todos os cursos, além da obtenção do canudo, pudessem colocar em seus eixos disciplinas voltadas à geração de empregos, não só de empregados?
Venho discutido isso há mais de uma década aqui dentro, principalmente em minha “casa”, a ECT. Temos que criar um objetivo claro e envolvente, para que nossos alunos (pelo menos na ECT) consigam explicar de forma fácil o que fazem aqui dentro. Para você ter ideia, a Escola abriga hoje quase 10% dos estudantes da UFRN. Falo em algo perto de 4.000 alunos!
Não é confortável ou agradável continuar a atuar como (auto)crítico de muitas coisas que eu mesmo ajudei a construir. Gostaria de deixar esse passado austero para trás, quando textos como Incubadoras universitárias: indo na contramão (https://nossaciencia.com/colunas/a-contramao-das-incubadoras-universitarias/) e Inovação: conceito que a Universidade não compreendeu ainda(https://nossaciencia.com/colunas/inovacao-conceito-que-a-universidade-nao-compreendeu-ainda/), renderam-me convites exaltados por parte da alta administração para “bater papo”, ou aquele em que pergunto Que ecossistema de inovação? https://nossaciencia.com/colunas/que-ecossistema-de-inovacao/ nós temos.
Minhas autocríticas vão no sentido de aprimoramento. Você conhece outra forma de melhoria pessoal?
Não tenho a mínima intenção – ou condição – de propor algo mais contundente para nossa escola, mas posso sonhar. Um tema nos daria uma direção! Um tema faria com que os alunos tivessem condições de explicar com facilidade, não só para seus avós, o que se faz na ECTN, Escola de Ciências, Tecnologia e Negócios: Faz-se negócios em prol da sociedade!
Como academia, ainda estamos longe de entender e falar sobre um conceito integrador para a Inovação(https://nossaciencia.com/colunas/por-um-conceito-integrador-para-a-inovacao/), para o qual o Manual de Oslo aponta que “inovação é a introdução de um bem ou serviço novo, ou significativamente melhorado, no mercado”.
Temos muitas patentes, é verdade. Entretanto, por incrível que pareça e utilizando o conceito de Oslo, precisamos transformá-las em inovação, termo que só se concretiza quando se percebem os royalties. Do contrário, figurarão muito bonitas apenas nos currículos Lattes da vida, como deixei registrado em A maldição do molde e os entraves para se inovar (https://nossaciencia.com/colunas/a-maldicao-do-molde-e-os-entraves-para-se-inovar/). E não há caminho melhor para criar uma cultura organizacional do que o estabelecimento de um rótulo forte, capaz de nos guiar a um bom Norte. Proponho “Negócios”.
Precisamos ativar essas patentes e começar a fazer negócios. O retorno será bem maior, tanto para a universidade, quanto para os diplomas e para a sociedade. Em assim fazendo, quem sabe na próxima edição das TOP 10 BR, não lemos: “UFRN é líder em royalties (inovação de verdade) e empreendedores inovadores no Brasil”? Muito mais pragmático e inovador.
Leia o texto anterior desta coluna: O que será que tem do outro lado?
Gláucio Brandão é professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e gerente executivo da incubadora inPACTA (ECT-UFRN)
Gláucio Brandão
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