Afinal, se 70% das empresas vão desaparecer até 2030, por quê não mudar o verbo para “transformar” através da promoção de encaixes?
Em várias reuniões de negócio, algumas com empresas estabelecidas que necessitam se enquadrar digitalmente para evitar a extinção, já que “econo-tecno-futurólogos-adivinhões” preveem a morte de 70% das empresas que não entenderem a transformação digital até 2030, outraz vezes com a gurizada que quer criar empresas baseadas em ideias interessantes, mas mirabolantes, me vejo diante de um conflito.
Do meu treinamento com TRIZ, apresentada aos leitores em Como criar criatividade, converto todo conflito em contradição. Juntando isso ao fato de que toda contradição técnica, administrativa, física etc., compõe dois lados de um mesmo problema, portanto possuem um ponto em comum – direita e esquerda se encontram em um ponto; subir e descer também; do quente ao frio eu passo por ambos extremos e pelo meio; etc. – aplico sua metodologia e chego a um problema inventivo, aquele cuja resolução é capaz de criar uma inovação. E bingo: já sei onde está o Norte!
Nessa aula condensada de número 81, mostro como os problemas das empresas gurus e guris são contradições negociais e, portanto, possuem um solução inventiva comum para a “salvação da lavoura”. Afinal, se 70% das empresas vão desaparecer até 2030, por quê não mudar o verbo para “transformar” através da promoção de encaixes? Observem as premissas.
Primeira premissa: uma ideia só faz sentido dentro de uma oportunidade!
Em E se eu fosse montar um negócio, por onde eu começaria? , falo que ter ideia é bom. Entretanto, em ambientes negociais, defendo a tese de que uma ideia só vingará se for plantada no terreno da oportunidade, do contrário ela perecerá. Temos então empresas-guru, engessadas, abarrotadas de problemas – dos quais são peritos, otimisticamente chamados de oportunidades (darei ao coletivo delas o nome de parque), ao mesmo passo que empresas-guri (vou chamar de startups) cheias de oxigênio, ideias, flexíveis e sem entendimento pleno do parque. Graças a nossa aula A Física por trás dos negócios, podemos modelar esses eventos, e chegamos à figura bolinhas azul e verde.
Premissa number two: Purple Cow
Em Colocando uma jaca na cabeça, Seth Godin nos diz “Transfrom your business by being remarkable”, ou, em termos “startupeiros”, você tem de criar constantemente Vantagens disruptivas , não apenas as convencionais competitivas, passando literalmente vergonha.
Ora, se sou de uma empresa conservadora, em um ambiente negocial conservador obliterante que não perdoa vacilo e sei que a tônica de hoje nos mostra que “os velozes estão comendo os mais lentos”, independentemente de seus tamanhos, por quê não “adotar” alguns velozes, apostar neles, alimentá-los, enchê-los de ideias malucas que eu tenho e deixá-los “passar vergonha”? Parece uma relação de pais & filhos, né não: “deixa esse bicho fazer e ver no que dá!. Se sair legal, eu faço”. Quais pais não fazem isto?
Premissa três: Princípio de Pareto
Em Te-pego-ali-na-curva, utilizando uma das regras magnânimas do Mercado, Pareto, sei que existe a probabilidade de, pelo menos, 20% de minhas ideias disruptivas darem certo e, o bom disso, cobrirem os 80% das que não deram, as quais recebem o nome de “aprendizado”. Bingo dois: criei um ambiente de inovação, atuei como mentor de “loucuras”, empreguei um bocado de “nerds” e ainda criei uma possibilidade de transformação digital de meu negócio ou um novo negocio exitoso. Descobri um processo de perenidade.
Encaixando os legos: voltado à figura de bolinhas
Em Modelo de Negócio versus Modelo de Ideia, delineio o já batido Canvas e apresento seu irmão mais moderno, o Lean Canvas.
Embora o Canvas (C) seja ensinado como tarefa primária obrigatória para projetos incipientes, o Ash Maurya mostrou que não, que as ideias iniciais devem ser deitadas em um Lean Canvas (LC). E agora vem minha interpretação de como a dupla C-LC deve ser trabalhada. Vamos às abordagens.
Abordagem 1. Um(a) guri-CEO monta um Canvas de uma startup e vai ao parque, mostrar seu modelo de negócio sem Norte. Os donos do parque olham para aquele negócio com um certo desdém, diz que a ideia é fantástica, que ele tem um grande futuro pela frente e depois entregam a ele vários cartões, nos quais você pode traduzir como “me ligue em 2080, quando tudo estiver validado”. Por quê disto? Porque investidores não compram ideias, sonhos, protótipos, maquetes etc. Eles compram Mercado. Apenas isto. O guri-CEO foi, literalmente, brincar no parque.
Abordagem 2. Um(a) guri-CEO pede licença aos donos e estuda o parque. Monta o Canvas deste parque, vai para casa e constrói vários Lean Canvas que “tapam” os buracos que ele descobriu no parque. Um dia, convoca os investidores e apresenta o seu Lean Canvas. Os investidores vão dizer: “como você sabe que nosso parque precisa disto, se nem eu sabia?”. E a resposta: “vocês me deixaram entrar e estudar vocês. Vamos falar de negócios?”.
Qual das duas abordagens vocês acham que dará mais match? O processo de incubação convencional está ancorado na primeira. O resultado escrevi há quase um ano atrás em Incubadoras universitárias: indo na contramão.
A abordagem 2 lida com a proposta desenhada na figura das bolinhas: o parque recebe as startups e torna-se uma incubadora/aceleradora real, cuja mentoria é definitivamente de Mercado. Nós, da inPACTA, chamamos isto de Modo in Company, o qual pode ser visto em A inPACTA e seu novo modelo de geração de negócios.
Finalizando…
A solução inovadora dar-se-á pela adoção de projetos pelo parque, o qual fará mentoria e providenciará investimentos condizentes com a realidade para as startups, criando oportunidades para encaixe de ideias incrementais ou radicais.
Para o ano de 2030 há ainda outra previsão: a maior empresa será do ramo de educação, o que reforça, e incentiva, o que aponto em Terão as empresas que se transformar em centros de capacitação?. Algumas empresas já perceberam isto e estão mudando paulatinamente, já com as pegadas de incubação e capacitação contínua, como é o caso do Grupo Positivo, citado neste mesmo artigo, que absorve praticamente os tecnólogos que capacita.
Bom, se posso dar um conselho, ei-lo: te cuida, Universidade. Muita coisa conservadora está deixando de sê-la!
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Leia a edição anterior: O professor Wikipedia e o desenvolvimento de habilidades únicas
Gláucio Brandão é gerente executivo da inPACTA, incubadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Gláucio Brandão
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