Eletricidade versus covid-19 Ciência Nordestina

terça-feira, 2 junho 2020
Dispositivos bactericidas ativados eletricamente podem ser o futuro.

Os esforços da ciência vão além de uma vacina, há perspectiva de sairmos desta pandemia com muito mais ferramentas tecnológicas

Na matéria de número 68 desta coluna – Eletrocêuticos e eletrobactericidas – falamos sobre os eletrocêuticos e do controle de bactérias a partir de impulsos elétricos de baixa intensidade. Um artigo recente depositado no repositório de pré impressão e acesso aberto ChemRXiv da Escola de Medicina da Universidade de Indiana fala de uma estratégia possivelmente efetiva para a eliminação do covid-19 da superfície de têxteis.

Como sabemos, a taxa de reprodutibilidade do covid-19 (5,7) é bem superior às síndromes respiratórias agudas – SARS (3,0), o que nos conduziu à situação de isolamento que vivemos nos dias atuais. Isso faz com que a contaminação em profissionais de saúde seja alta. Desta forma, a incorporação de novas tecnologias junto aos materiais aplicados nos equipamentos de proteção individual (EPIs) passa a ser ainda mais crítico.

No artigo citado, potenciais elétricos tão baixos quanto 0,5 V são suficientes para desequilibrar as propriedades eletrocinéticas do vírus, alterar seu potencial zeta e promover a formação de agregados. Isto seria o suficiente para erradicar o potencial de infecção dos mesmos.

A explicação para este fenômeno é apresentada pelos autores: o corona vírus apresenta um envoltório proteico e lipídico carregado positivamente que envelopa o RNA carregado negativamente. Com isso, uma interação eletrostática simples (não seletiva) pode ser promovida por uma superfície carregada eletricamente com carga de sinal contrário à da superfície da capa envoltória.

Para isso, os cientistas fizeram uso de um tecido eletrocêutico do tipo wireless. Ele é definido desta forma porque apresenta a vantagem de gerar eletricidade sem a necessidade de estar conectado a uma bateria. Quando colocado em contato com fluidos corporais, o tecido gera um campo elétrico baixo que pode controlar infecções em aplicações que o envolvam como curativo inteligente.

O tecido (que pode ser aplicado em máscaras e jalecos de proteção) é confeccionado em poliéster sobre o qual são depositadas camadas de nanopartículas de zinco e de prata. Os resultados apresentados pelos autores alertam para um interessante aspecto da eletrocêutica: todos os desenvolvimentos de tecidos inteligentes aplicados à contaminação por bactérias podem também ser adaptados ao desenvolvimento de EPIs inteligentes no combate ao controle do covid-19.

E com isso temos clara a percepção de que os esforços que a ciência vem desenvolvendo não são apenas voltados ao desenvolvimento da vacina, mas também na perspectiva de sairmos desta pandemia com muito mais ferramentas tecnológicas incorporadas às nossas vestimentas, visando detectar, tratar e sinalizar possíveis contaminações do que quer que venha a por em risco nossa saúde.

Vestir uma camiseta, em breve, será muito mais que uma forma de proteção da radiação UV. Será usar um EPI que transmite on line informações ao seu médico, à secretaria de saúde ou qualquer outro órgão que queira monitorar tais dados. A era do homem interconectado chegou.

Por fim, gostaria de agradecer ao prof. Damião Silva (Univasf) que me passou este artigo.

Referência:

ChemRXiv 

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Leia o texto anterior: Covid-19 e isolamento social: perspectivas

Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).

Helinando Oliveira

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