Galileo Mobile é um projeto multidisciplinar e internacional que sai pelo mundo levando astronomia a comunidades remotas e despossuídas
“No início, éramos todos alunos de doutorado e nossos orientadores não gostaram nenhum pouco de saber que nós queríamos parar tudo por dois meses para viajar pelo mundo”. É por aí que a astrofísica brasileira Patrícia Spinelli começa a contar a história de uma ideia que surgiu na Ludwig Maximilians University (LMU), em Munique, Alemanha.
Ela e vários colegas da International Max Planck Research School on Astrophysics, unidos pelas circunstâncias acadêmicas, também encontraram um ideal em comum, e o puseram em prática: Desde 2008, jovens pesquisadores de mais de 10 países usam a Astronomia para levar educação científica a estudantes, professores e moradores de comunidades com pouco ou nenhum acesso a programas culturais e científicos.
Eles deixam pelo menos um telescópio por onde quer que passem e chamam esse projeto de “Galileo Mobile”.
Desde então, foram cinco expedições em sete países, de lugares como Uganda e a zona rural da Índia a aldeias de tribos indígenas do Norte do Brasil. O foco são sempre comunidades periféricas, rurais e tradicionais, onde o grupo despende tempo e cuidado para vencer barreiras.
Barreiras?
As dificuldades vão desde aquelas culturais, como a língua (dialetos regionais), a timidez das crianças e cosmovisões míticas, até a falta de infraestrutura básica, como energia elétrica.
“Quando a gente resolve sair da bancada do laboratório e do telescópio, temos que estar prontos para enfrentar dificuldades”, comenta Spinelli, numa lição que serve para educadores e divulgadores científicos atuantes em qualquer área.
O desenrolar da história
As expedições do Galileo Mobile começaram em 2009. Foram sete mil quilômetros entre Chile, Bolívia e Peru, à luz do Ano Internacional da Astronomia. E daí, seguiram, itinerantes e sem fins lucrativos: 2012 foi a vez da Bolívia e da zona rural da Índia; Uganda, em 2013; Brasil e novamente Bolívia em 2014.
Até que chegamos ao Ano Internacional da Luz, em 2015, quando o Galileo Mobile decidiu se focar na Ámerica do Sul, com um projeto chamado “Constellation”, com o plano de envolver vinte escolas em seis países diferentes (Argentina, Brazil, Chile, Colômbia, Equador e Peru), com nítido foco na Amazônia.
Estamos em novembro de 2016 e continua dando certo.
Entre os dias 4 e 10 de outubro a primeira conferência Galileo Mobile foi realizada no Rio de Janeiro, especificamente no Museu de Astronomia do Rio de Janeiro (MAST), onde Patrícia Spinelli atua profissionalmente.
Num post datado de 23 de outubro deste ano, o site oficial do Galileo Mobile declarou que conseguiu “108%” de financiamento para retornar a Rondônia, Brasil. O financiamento veio de “33 pessoas maravilhosas”, através da plataforma de crowfunding FiatPhysica, que hospeda campanhas de arrecadação monetária para projetos de Física, Astronomia e exploração espacial.
E 12 dias após este anúncio, era justamente em Rondônia que o Galileo Mobile se encontrava, retornando à comunidade indígena Paiter Suruí, Clã Makor.
Gente que realiza!
Hoje, com seis anos de estradas intercontinentais, o site oficial do Galileo Mobile cita 13 membros como “time”, composto de cinco homens e oito mulheres, de nove nacionalidades diferentes. São oito pessoas atuando em astrofísica e duas em astronomia, mais um professor de Física, uma física espacial e – como poderia faltar? – um profissional do Jornalismo. Brasileira!
Além do time, há nove “colaboradores”. Fazendo as estatísticas novamente: nove mulheres e dois homens, representando seis nacionalidades: tem três astrônomos (um brasileiro), duas divulgadoras de astronomia (Astronomy Outreach), uma astrofísica, um relações públicas (Public outreach activity developer) e – não, não pode faltar – uma comunicadora de ciências.
O site oficial do Galileu Mobile reporta que ações estendidas também foram realizadas em Portugal, Nepal, Estados Unidos da América, República Dominicana, Haiti e Guatemala.
Globalmente, o grupo declara que já chegou a mais de 12.500 alunos e 1.300 professores, tendo compartilhado seus esforços e atividades em 60 conferências e palestras, e três documentários. O mais recente se chama “Ano-Luz”.
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