O Brasil precisa entrar na era pós-petróleo e pensar produtos com alto apelo ambiental em vez de matérias-primas. Com a onda desvalorização da ciência, novas articulações são necessárias
A humanidade tem caminhado no sentido de associar desenvolvimento tecnológico à produção de lixo, como garantia da continuidade do consumismo desenfreado. Menor vida útil de produtos confere maior circulação de lançamentos e aquecimento de mercado.
No entanto, a matéria-prima é não renovável e o descarte dificilmente volta a ser insumo no processo de produção. E o destino de todo este lixo é o oceano, que acumula matéria não degradável e contaminantes.
Até aqui, a humanidade não tem praticado os conceitos de circularidade da natureza, que não gera rejeitos e reaproveita a matéria morta como insumos em ciclos sustentáveis.
Talvez a extinção do petróleo seja uma oportunidade para reinvenção de uma indústria menos irracional, mais próxima dos processos naturais, já otimizado pela evolução.
Temos percebido que o custo destes novos produtos com apelo ambiental é mais alto (o que percebemos de uma simples comparação entre o custo de uma sacola plástica convencional e outra feita de material biodegradável). Embora o custo para o planeta seja muito maior com o uso do plástico comum, é o consumidor que paga pela inovação e a tentativa de “menos” agredir o planeta.
E é neste contexto que ciência brasileira precisa estar inserida: quando deixarmos de ser exportadores de silício e importadores de notebooks teremos a oportunidade de avançar na tecnologia circular de materiais renováveis e surfar na onda da próxima tecnologia, que não dependerá do petróleo. E nesta direção, toda a tecnologia de veículos híbridos/ elétricos, dispositivos vestíveis e embarcados, a internet das coisas e as fontes alternativas de energia serão áreas prioritárias para recolocar o país na posição de fronteira de conhecimento em novas tecnologias sustentáveis/ renováveis.
No entanto, se considerarmos a nova realidade de desvalorização da ciência por parte do governo brasileiro, vemos que esta tarefa passa a ser ainda mais complexa, exigindo articulação com grupos de pesquisa no país e fora dele. Neste momento de profunda crise é essencial fortalecer os laços de colaboração internacional, como forma de impedir com que este vento neoliberal arranque os grupos de pesquisa que tentam surfar nesta nova onda científica.
E como bem sabem os surfistas, depois que a onda quebra é impossível de ser montada de ser novamente. Trocando em miúdos: depois que a ciência chega ao chão de fábrica na Coréia/ China/ Japão é praticamente impossível concorrer com os setores de P&D das grandes fábricas.
Portanto, este é o momento de pular na onda da era do pós-petróleo. Se perdermos mais esta estaremos fadados a continuar sendo exportadores de matéria-prima. Primeiro foram as bananas, a cana de açúcar, o petróleo, a água, o trabalho escravo… E depois, aquilo que restar e ainda interessar ao mercado.
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Helinando Oliveira