Conheçam uma proposta de modelagem dirigida à Inovação
Onde o caos começa, a ciência clássica termina!
James Gleick
O título parece estar fisicamente muito condensado. E é verdade! Foram as palavras que mais demorei a escolher para esse texto, pois tinha que passar toda ideia do que vem pela frente e, ao mesmo tempo, respeitar o limite de palavras do cabeçalho. Defendo a tese de que tudo é modelável, principalmente quando sabemos que as equações (ou modelos) antecipam o próximo estado de um sistema, o que torna gratificante ter uma mínima ideia do que vai acontecer, e justamente por isso sempre tento fazer o mesmo com a Inovação (“i” maiúsculo para o substantivo). Já sugeri a medição da temperatura de ações inovadoras via Technocommodity, apresentei mnemônicos que deveriam apontar tendências, até desenvolvi um algoritmo de antecipação baseado no que chamei de ciclo de evolução dos meta-padrões, propondo um formato de como as tecnologias evoluem, embalando o sonho de que daria para dizer o que vem pela frente ou quando algo bombaria, minimizando riscos e criando startps certeiras. Talvez a complexidade e a quantidade de incertezas sobre a inovação seja tamanha que faça a solução dormir na área dos sistemas dinâmicos?! Depois de várias tentativas, pensei até em “jogar a toalha”, o que seria vergonhoso, pois empreendedor raiz quando está cansado não desiste, descansa. Então, como de praxe, pivotei o olhar e revi questões (Q) primordiais referentes a inovação no Mercado:
Já que temos um “Não”, posso apelar, That ‘s right? E é aí que a “porca torce o rabo”. Posso dar com os “burros n’água”, continuar como “cachorro atrás do rabo” ou até, quem sabe, dar o “pulo do gato” e conseguir “lavar a égua”. Por isto, incansavelmente, devagar e sempre – como uma tartaruga, esta AC apresenta mais uma proposta de modelagem dirigida à Inovação. Quem sabe, em um futuro distante, alguém com olhos de águia perceba que eu possa ter feito algo bom, pegue esse cavalo selado, admita como conselhos de uma sábia coruja e alcance algum resultado. Seria animal, né não?
Conceitos importantes
Determinístico e Estocástico. Ao longo do texto, utilizarei o conceito determinístico para indicar sistemas nos quais um conjunto de entrada de dados conhecido leva o sistema a apresentar, como resultado, um único conjunto de saída, e estocástico para indicar aqueles cujo estado da saída é indeterminado, com origem em eventos aleatórios. Em termos macro e aplicado a modelos de negócios, pode-se dizer que os baseados em franquia são determinísticos, uma vez que apenas 5% fecham nos primeiros dois anos; os de negócios começados do zero como intermediário, de comportamento incerto e próximo ao estocástico, pois apenas 23% sobrevivem ao mesmo período (https://encontresuafranquia.com.br/qual-a-razao-do-sucesso-das-franquias/); e os baseados em inovação de caóticos puro sangue, pois nem estatística há.
Caos. Da Wikipedia, extraio: “A teoria do caos é um campo de estudo em matemática, com aplicações em várias disciplinas, incluindo física, engenharia, economia, biologia e filosofia. A teoria do caos trata de sistemas complexos e dinâmicos rigorosamente deterministas, mas que apresentam um fenômeno fundamental de instabilidade chamado sensibilidade às condições iniciais que, modulando uma propriedade suplementar de recorrência, torna-os não previsíveis na prática a longo prazo”. E continua: “(…) Pequenas diferenças nas condições iniciais, tais como as causadas por erros de arredondamento em computação numérica, produzem resultados amplamente divergentes para tais sistemas dinâmicos, tornando a previsão a longo prazo impossível, em geral. Isso acontece apesar de estes sistemas serem deterministas, o que significa que seu comportamento futuro é totalmente determinado por suas condições iniciais, sem elementos aleatórios envolvidos. Em outras palavras, a natureza determinista desses sistemas não os torna previsíveis. Este comportamento é conhecido como caos determinístico, ou simplesmente caos. A alta sensibilidade às condições iniciais dá, ao sistema não-linear, a característica de instabilidade, o que faz com que seja incorretamente confundido com um sistema aleatório. (…) Mesmo em sistemas nos quais não há ruído, erros microscópicos na determinação do estado inicial e atual do sistema podem ser amplificados, levando a um comportamento futuro difícil de prever. É o que se chama de “Caos Determinístico”. E isso tudo pode aparentar aleatoriedade. É ou não é a descrição de Inovação?
Proposta de valor
Admitamos que você fez o dever de casa e criou uma proposta de valor proativa, que crê ter uma vantagem disruptiva e com potencial para criar Mercado em qualquer ponto da Galáxia, já que desenvolveu um MVP capaz de derrubar a maior das barreiras de entrada no Mercado. O que você tem? Até aqui, por mais fantástico que sua máquina de teletransporte possa vir a ser, apenas hipóteses! O único ente que pode batizar o que você deu à luz (pensou, prototipou, desenhou, explodiu etc.) de inovação é o impiedoso Mercado. Apenas ele! E é aqui que a coisa pega: a natureza minimamente determinista das inovações que você metodicamente concebeu não garantem qualquer previsibilidade. Imagina sucesso?
Sistemas (empresas) baseadas em inovação são altamente sensíveis às condições iniciais. Jogar o mesmo dado várias vezes (condições iniciais) pode ser feito da mesma maneira por uma máquina e aparentar ser determinístico, mas a superfície microscopicamente irregular com a qual o dado se chocará, uma brisa, uma poeira no ar etc., nunca serão as mesmas, e essas pequenas nuances são o suficiente para mudar a face que cairá para cima. Imaginem a quantidade de elementos que se tem no Mercado capazes de promover ações indeterminadas? Não dá para “jogar” inovações lá e predizer qualquer coisa. Uma mesma inovação jogada em nichos, ou em tempos diferentes, apresentarão graus de encaixe também diferentes. Já dei uma dica do modelo que proponho!
Curva de Rogers e abismo de Moore
Para simular a entrada no outro lado, no Mercado, tinha que partir de algum ponto. Por analogia, o modelo com o qual desejo parear a Inovação é sensivelmente dependente das condições iniciais nas quais o P2S2 (processo, produto, serviço, startup) está ancorado. Nada melhor então do que propor tais condições com base na Lei da Difusão da Inovação de Rogers, cujos gaps e abismo foram bem desenvolvidos por Moore. Tenho então um caminho para a modelagem das condições iniciais. A curva de adoção Rogers-Moore explica como se dá a adoção de novos produtos e serviços por um dado nicho. A grande contribuição de Moore está nas interfaces entre as fatias, innovators (inovadores), early adopters (adotantes iniciais), early majority (maioria inicial), late majority (maioria tardia) ou laggards (retardatários), e no que ele chamou de Chasm (abismo), já apresentadas em ACs passadas (vide palavras com links acima). Na AC de hoje, deter-me-ei apenas à mudança de fase, que acontece quando o seu protótipo validado galgou o grau de MVP, está verificado (alguém sem querer passou um Pix para você dizendo que seu Frankenstein prestava) e prestes a ser experimentado pelo principal grupo de entrada: os inovadores. Pois bem: é exatamente na possibilidade ou a forma de entrada neste nicho, do qual todos as outras fases dependem, que está o “x”, ou melhor, o “i” da Inovação. Entrar nessa arena é condição indispensável, essencial, sine qua non para não cair no poço da desesperança e receber o rótulo de inovação. O tamanho desse espaço é de 2.5% do pretenso nicho que sua inovação quer conquistar.
Interface caótica
Já que dei spoilers do modelo que pretendo adotar, acho que já cabe entregar que considero a versão incremental da inovação – a de sustentação -, como sendo linear, e sua irmã braba, a de ruptura, aquela que cria Mercados, como tendo perfil caótico. Assim, em condições honestas, não existe dado (inovação) bom (boa) ou ruim. Quem apostaria em sandálias de pescador altamente calorentas (Crocs), numa marca de inverno criada no Brasil (na Osklen), em sutiã para homens (Wish Room), num microblog de 140 caracteres (Twitter), numa academia só para fazer spinning (Spin‘n Soul) ou em coisas com nomes hilários ou, no mínimo, estranhos como Bosta em Lata, Tchau Bosta ou na mais “tecnológica” destas, a Pet Rock, todas faturando milhões? A face que cairá para cima dependerá apenas do saber calcular, ou estimar, as condições iniciais e atuais do/no momento da jogada, pois temos a ideia exata de quem deverá receber esse dado: os 2.5% de entusiastas do Mercado, os inovadores, as alavancas da inovação.
Do lado de nosso MVP, sabe-se que os fatores envolvidos são determinísticos: diagnóstico, ideação, solução, prototipação, validação e verificação. O buraco fica estocástico, ou, de modo mais romântico, a janela de oportunidade aparece quando se está próximo de “arremessar” o produto no Mercado. Se o arremesso for certeiro, bingo!, é o momento no qual se começa o ciclo de tração, que envolve aportes, marketing pesado, etc., para que se consiga saltar o abismo (chasm) descrito por Moore, passando da barreira dos 2.5% para os 13.5%, a casa dos adotantes iniciais. Nesse momento, it’s better to call the DevNegs. Eles saberão o que fazer.
O pulo-do-gato
Aparentemente, pareço ter andado em círculos, ao erigir mais um modelo de previsão futurística que não apresenta qualquer vintém de aplicabilidade. Entretanto, um leitor mais atento de nossas ACs – como eu, por exemplo -, poderia usar da TRIZ e fazer um movimento de contradição. E aí as lições começam a aflorar e o texto a fazer sentido. Vamos então às premissas (P):
Com base nessas premissas, podemos chegar às seguintes conclusões:
Temos então um manual de como e quando vender inicialmente. Para “quem” nós já sabemos!
Finalizando…
“Os cálculos envolvendo a teoria do caos são utilizados para descrever e entender fenômenos meteorológicos, crescimento de populações, variações no mercado financeiro e movimentos de placas tectônicas, entre outros. Uma das mais conhecidas bases da teoria é o chamado ‘efeito borboleta’, teorizado pelo matemático Edward Lorenz, em 1963”. (Wikipedia). Se com a teoria do caos é possível estimar coisas mais difíceis, daqui em diante poderá também ser utilizada para descrever inovações de ruptura. Pelo menos pra GBB-San… Será que fiz jus ao título?
Referências:
Bosta em Lata (http://www.bostaemlata.com.br/)
Tchau Bosta (https://tchaubosta.com.br/)
Pet Rock (https://www.magnusmundi.com/pet-rock-uma-pedra-como-animal-de-estimacao/)
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Leia a edição anterior: Sua empresa tem um desenvolvedor de negócios?
Gláucio Brandão é Pesquisador em Extensão Inovadora do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Gláucio Brandão
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