Individualismo, consumismo e capitalismo: é fundamental mudar nosso modo de pensar para entender que o planeta vale mais que os produtos
Vivemos uma época em que os direitos trabalhistas são suprimidos, sendo substituídos por um conceito de individualismo que tira o Estado da função de gestor do bem-estar social para atribuir ao indivíduo todas as obrigações possíveis e imagináveis. Os cidadãos permanecem pagando seus impostos (que são direcionados ao apoio e manutenção de grandes fortunas) enquanto acumulam a obrigação de financiar seu próprio plano de saúde, sua educação, segurança, previdência privada e até plano funeral. Este “protagonismo” empreendedor vem da mesma mão do mercado que torna o desempregado o gestor de tudo em sua própria vida.
Com isso, ele passa a trabalhar 20 horas diariamente sem direito a férias e qualquer outro tipo de remuneração, afinal ele é o chefe dele mesmo. O individualismo institucional é ainda mais agravado pelas bolhas das redes sociais que oferecem o mundo do consumismo na ótica do capitalismo como prêmio e punição de suas ações. No entanto, o grave período de pandemia em que estamos mergulhados já nos ensinou que a integração de todos é fundamental na resolução dos problemas desta grande comunidade chamada planeta Terra. A própria vacinação só tem sentido como ato coletivo – a propagação de outras pandemias nada mais é que uma consequência do estado de deterioração do meio ambiente.
Ao aceitarmos o sucesso e a manutenção do princípio neoliberal em nosso meio, que transforma a escravidão em aspiração pessoal estaremos mais uma vez incorrendo no erro de desprezar os reflexos negativos de tudo o que veio da revolução industrial na condição do planeta.
Outro aspecto que leva em conta essa integração perdida em nossa sociedade se deve ao fato de que a pobreza extrema e a fome em qualquer parte do planeta têm reflexos sobre todo o planeta (inclusive sobre aqueles que fomentam a fome a miséria). É inevitável a comparação deste momento com o que foi retratado décadas atrás em Matrix. Ao invés de bolhas que consomem nossa energia enquanto sonhamos, as redes sociais viabilizaram uma prisão diante dos olhos sobre forma de telas que brilham. O equipamento eletrônico dos desejos corresponde a meses e até anos de trabalho incessante. Será que vale mesmo?
É fato que precisamos fugir desta bolha que nos aprisiona e continuamente nos alimenta com novos desejos, induzindo-nos a querer consumir mais e mais. A fuga das redes sociais é, em última instância uma tentativa de substituir a pessoa que conjuga o verbo, virando o disco do “eu” para “nós”. Essa mudança do modo de pensar é fundamental para salvar o planeta. Haverá o momento em que as condições sanitárias e de clima inviabilizarão o lançamento da internet 8G. Será que precisaremos viver esse momento para entender que o planeta vale mais que os produtos?
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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