O ensino de ciências nas escolas pode dotar as crianças de senso crítico, racional e coerente sobre questões coletivas, de maneira plural e democrática
Nesta semana, comemorou-se o Dia Nacional da Ciência (08/07). Essa data leva-nos a questionar: afinal, o que temos e quem está a comemorar? Alguns poderão argumentar que são as escolas que devem festejar o combate ao analfabetismo científico. Outros, por sua vez, poderão questionar como isso seria possível, sem que se pautasse o ensino na história e na filosofia da ciência.
A despeito do desfecho da questão suscitada, o fato é que a importância de ensinar ciência nas escolas, por exemplo, para nossas crianças, transcende qualquer literatura especializada numa área do conhecimento. Transcende qualquer tipo de memorização, domínio ou aplicação de uma literatura técnica, sobre um dado assunto que sequer tem relação com o cotidiano do aluno.
Ensinar e aprender ciência nas escolas, quando ainda se é criança, é oferecer aos estudantes a condição adequada para compreender o mundo no qual vivemos, no qual interagimos e do qual fazemos parte. É dotar as crianças de um senso crítico, racional e coerente sobre questões referentes à tecnologia, à saúde, ao meio ambiente, aos problemas sociais e até políticos de uma nação. Este senso diz respeito ainda, e de forma indubitável, aos aspectos de caráter filosófico, o qual muitas vezes se despreza ou atribui-se baixíssimo valor. Questões de cunho ético e lógico, por exemplo, são também desprezadas. Ignora-se que o patamar científico dos tempos atuais foi pavimentado por inúmeras questões filosóficas, que sempre inquietaram a humanidade, e que nunca deixarão de fazê-lo.
Ensinar e aprender ciência nas escolas é pensar criticamente, é saber lidar com questões coletivas, de maneira plural e democrática, baseando-se em referenciais sólidos, rigorosamente avaliados, dentre outras características. Entender minimamente a importância dessa forma de lidar com o mundo é entender o papel social a que a ciência se destina. É ter a dimensão da tragédia anunciada que a Emenda Constitucional 95, implementada em 2016, terá sobre crianças e adolescentes que ainda nem sequer nasceram – ao limitar gastos essenciais como na educação, até 2036. É compreender que o imenso poder de barganha política da bancada ruralista diante do atual governo compromete não só a questão ambiental brasileira, como a mundial etc.
Vale mencionar que parte dos avanços científico-tecnológicos foi ensejada por decisões de cunho estritamente político, consubstanciadas em vieses ideológicos. Agora em julho, por exemplo, comemora-se também, os 73 anos da detonação da primeira bomba atômica em Alamogordo, bem como os 49 anos da chegada do homem à lua. Ambos os projetos, refletem bem esses vieses, e se enquadram mais ainda nas motivações políticas, as quais justificaram os seus financiamentos. Obviamente, que o método científico não é infalível.
Apesar das limitações do conhecimento científico, especialmente no que tange ao método pelo qual é produzido, não há como questionar o papel que a ciência desempenha em tornar o mundo melhor. Para muitos chega a ser até intuitivo pensar dessa maneira. Porém, por mais básica que seja a construção, a reflexão, e a ideia de cunho científico que se desenvolve, e por mais distante que esta possa parecer estar da sociedade, a mesma já contribuiu, ao despertar um senso crítico, racional e coerente naqueles que a praticam. Imaginem, então, o impacto desse despertar na formação de crianças e adolescentes, exatamente nas fases em que a compreensão em relação ao mundo, e ao meio que as rodeia começa a mudar drasticamente. É uma verdadeira Revolução Científica. No futuro, tão logo essa revolução iniciar nas escolas, duvido que alguém ousará, ao menos, pronunciar a palavra desmonte, quando a data de 8 de julho chegar.
Referências Bibliográficas
Cibelle Celestino Silva (Organização) Estudos de História e Filosofia das Ciências. Subsídios para aplicação no Ensino. Ed. Livraria da Física. Pág. 381
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