Comunicadoras afirmam que esse bioma cheio de potencialidades merece mais atenção não apenas na sua data comemorativa
Por Ana Karolina Carvalho e Juliana Teixeira
O sol parecia queimar sem piedade, brilhando no céu azul não tinha a companhia de uma nuvem sequer que ofuscasse seu brilho, no chão, a terra de cor marrom claro parecia ter muita sede, as poucas plantas ao redor apesar do calor se erguiam com resistência entre galhos e pedregulhos. A mata branca, nomeada em Tupi – Guarani como Caatinga, se estende á minha frente de forma que me parece quase infinita. Parada em uma área de transição entre Cerrado e Caatinga percebo as sutilezas da beleza de um bioma ainda tão desvalorizado.
A força das plantas que se erguem entre as pedras em solo semiárido e os rápidos calangos que sobrevivem com os poucos recursos são a prova de que a Caatinga faz jus á sua exclusividade como bioma. Classificado como um bioma exclusivamente brasileiro ela ocupa uma área de aproximadamente 850 mil quilômetros quadrados, esse bioma abrange cerca de 10% do território nacional, englobando parte dos estados da Paraíba, Piauí, Ceará, RioGrandedoNorte, Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais.
Mas quem dera, todos pudessem entender a beleza do cenário de resistência da vida que nasce com pouco, e colaborar também para combater os diversos riscos que ameaçam cada parte desse bioma tão único. Em 28 de abril, comemora-se oficialmente o Dia da Caatinga, em homenagem ao dia do nascimento do ecólogo João Vasconcelos Sobrinho (1908-1989), pioneiro nos estudos do bioma.
Contudo, a comemoração aqui precisa dar espaço para uma questão mais importante: a conscientização. A Caatinga já concentra quase 40 mil km2 transformados em deserto. Apesar do clima semiárido em tempos de seca, sua vegetação é completamente adaptada para a escassez de água do solo, tendo em grande parte a presença e plantas cactáceas que retém água e nutrientes por longos períodos. Mesmo esses mecanismos naturais não são capazes de enfrentar o uso inadequado do solo, desmatamento e caça ilegal de espécies da região.
Outra questão importante que contribui para desestímulo do desenvolvimento da região e de políticas de preservação é a construção da imagem da Caatinga como um local pobre de recursos, seco e degradado. É perceptível em diversas as matérias jornalísticas a centralidade nas problemáticas da caatinga sem evidenciar sua contribuição para a flora e a fauna nacionais. A prova disso é que, em uma busca simples e aleatória, via Google, pelas palavras “caatinga 2020”, apenas a quinta reportagem era uma exaltação a esse bioma tão brasileiro.
Segundo os autores do artigo intitulado “Impactos das Mudanças Climáticas no Bioma Caatinga na Percepção dos Professores da Rede Pública Municipal de General Sampaio – Ceará”, a caatinga abriga quase 29 milhões de pessoas. E, diante de ser uma região muito vulnerável, demanda a adoção de medidas urgentes, sobretudo de conscientização quando às mudanças climáticas. Essa conscientização é fundamental também para os jornalistas, que, muitas vezes, se limitam a apontar os problemas, sem detalhar as soluções já pensadas para esse bioma brasileiro.
É muito comum, desse modo, vermos reportagens indicando as problemáticas dessas regiões, mas sem destacar, por exemplo, iniciativas que pensam sobre a caatinga, propondo soluções possíveis. Uma das matérias que se dedica a exaltar o bioma da Caatinga foi produzida por Gbariela Brumatti, da afiliada do G1 de Campinas e Região (terra da gente), sob o título “ Dia da Caatinga: artista plástico faz fotos, pinturas e esculturas para conservar o bioma.”. No entanto, é fundamental ressaltar um aspecto notado: a reportagem foi publicada justamente no dia 28 de abril de 2020, portanto, no dia em que é comemorado o dia da caatinga.
Nossa premissa é, portanto, de que a caatinga não pode (nem merece) ser lembrada como um bioma cheio de potencialidades apenas na sua data comemorativa. É preciso conscientização sobre suas ameaças e problemas, e claro, sobre suas belezas e possibilidades. Resistindo e sobrevivendo nas temperaturas mais altas, florescendo ao cair das primeiras gotas de chuva que possamos reconhecer e dar a devida atenção que esse bioma tão único merece.
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Leia o texto anterior: Quem nasce no Nordeste é o que?
OII – Grupo de pesquisa em Jornalismo, Inovação e Igualdade da Universidade Federal do Piauí.
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