Deus e a Ciência Ciência Nordestina

terça-feira, 1 outubro 2019

Colunista busca estabelecer uma relação entre Deus e ciência sem a punição religiosa ou a arrogância científica

A relação entre a Ciência e Deus, à primeira vista, parece ser conflituosa. Em um primeiro ponto isto é agravado pela religião, que tenta se apossar da própria verdade divina. Nesta matéria, buscamos estabelecer uma relação entre Deus e ciência que não tem nada a ver com o autoritarismo e a punição religiosa inquisitória e nem tão pouco com a arrogância científica. Estaremos despidos dos preceitos de Stephen Hawking que certa vez afirmara:

“Eu não sou religioso no sentido normal. Eu acredito que o universo é governado pelas leis da ciência. As leis podem ter sido decretadas por Deus, mas Deus não intervém para quebrar as leis.”

Nossa matéria tangencia o pensamento de Marcelo Gleiser, que afirmou que:

“O ateísmo é uma crença na não-crença. Então você nega categoricamente algo contra o qual você não tem provas”.

De fato, a ciência não pode provar a existência (ou inexistência) de Deus. Esta questão foge dos princípios científicos. O que iremos definir é a personificação de uma verdade (que chamaremos de Deus) e a interpretação desta verdade, buscada pela ciência. A ciência busca as implicações desta verdade, embora não possa prová-las.

E um ponto relevante a ser considerado é a contextualização da ciência em seu aspecto temporal. Em diferentes gerações, as ditas “leis da ciência” são conjuntos de conceitos historicamente herdados e que funcionam como pequenas celas interpretativas para os cientistas de sua época.

Explico melhor… Para os incas, não foi possível o aprendizado do cálculo diferencial e integral – essencial para a física moderna. Isso não foi impedimento, no entanto, para que fossem construídos relógios solares e observatórios astronômicos. A interpretação dos egípcios e maias para uma maçã que caía passava longe das leis de Newton… Mesmo assim, seus conceitos funcionavam como uma interpretação possível para o seu tempo.

Se um asteroide qualquer resolver fazer uma visita à terra e toda a ciência que dispomos for “apagada” – iniciaremos um novo sistema de contagem, uma nova matemática e uma nova física. Uma nova biologia – outras línguas, outros costumes. Iniciaremos uma nova interpretação da mesma verdade. Chegaremos a outras ferramentas interpretativas acerca da verdade fundamental.

Acreditar que Deus decretou as leis de Maxwell tal qual estão escritas parece ser algo que assume como absoluta uma ciência que dispõe de uma temporalidade totalmente frágil.

As equações e interpretações sobre a vida e nosso planeta são heranças que dispomos de uma cultura de ciência de poucos milhares de anos para o entendimento de uma estrutura complexa de muitos milhões de outros. E a ciência é a herança que permite com que prolonguemos nossa estadia em uma casa (o planeta terra) que não é nossa e que não depende de nós para continuar sua saga rumo ao infinito. A verdade (Deus) não depende da interpretação humana para existir. Em nossa limitada ação, buscamos grudar peças de um quebra cabeça para entender um pouco além do que nos é permitido.

Fazer ciência é entender (também) que esta fé em buscar a verdade é maior que a outra que nos faz acreditar que os modelos são tão perfeitos que a verdade que eles buscam entender.

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Leia o texto anterior: Carros elétricos

Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).

Helinando Oliveira

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