O que a reunião do conhecimento de um profeta, um papa, um guru e um nobel pode lhe dizer sobre inovação?
Saudações moçada, tudo nos eixos? Começo este texto depositando o conceito de Destruição Criativa, cunhado em 1942, pelo economista Joseph Schumpeter: “(…) processo de inovação, que tem lugar numa economia de mercado em que novos produtos destroem empresas velhas e antigos modelos de negócios”. Para Schumpeter, as inovações dos empresários são a força motriz do crescimento econômico sustentado a longo prazo, apesar de que poderia destruir empresas bem estabelecidas, reduzindo desta forma o monopólio do poder.
E acrescenta:
“O processo de destruição criadora é o fato essencial do capitalismo!”.
Quem falou foi Schumpeter, tido por muitos economistas como o Profeta da Inovação. Eu só repliquei.
Segundo Peter Drucker – já esse é considerado o Papa da Administração -, para quem “o único propósito de uma empresa é criar um cliente”, disse em 1962:
“A segunda função do negócio é a inovação, isto é, a provisão de mercadorias e serviços melhores e mais econômicos. Não é suficiente que o negócio proporcione apenas um produto ou serviço econômico; deve proporcionar produtos ou serviços melhores e mais econômicos. Não é necessário que o negócio se torne maior, mas é necessário que nunca deixe de se tornar melhor”
Tom Peters, guru da gerência de negócio e autor do best-seller Vencendo a crise, cunhou o mantra “Inove ou morra!” em 1982.
O prêmio Nobel de 2002, Daniel Kahneman, autor do best-seller Rápido e Devagar – Duas formas de pensar, escreveu lá: “Nos concentramos muito no que conhecemos e ignoramos o que desconhecemos, o que nos faz confiar demais em nossas crenças”. Para fechar, deixou esta pérola: “Podemos estar cegos para o óbvio e cegos também para a nossa cegueira”.
No texto de hoje, vou juntar um profeta, um papa, um guru e um nobel para tentar convencer vocês de que a inovação não é apenas moda. Algo é necessário fazer pra que seu negócio sobreviva e mostre-se uma solução para o seu cliente, entre as milhares que existem. A outra opção, ainda mais agora em que tudo foi para o www, é esperar a morte por não-diferenciação. Escolhas existem!
Ciclos econômicos: o capitalismo como um sistema dinâmico
Este conceito, também alimentado por Schumpeter, descreve como o capitalismo nunca se estabiliza. Sempre oscila entre períodos de recessão e expansão.
O que gera essa evolução dinâmica, e por consequência crescimento econômico substancial, pode estar em fatores externos (guerras, revoluções, pandemias por coronavírus etc.) ou, como vemos nestes tempos de startups, ter por causa um processo intrínseco: a Inovação!
Assim, segundo Schumpeter, “O Capitalismo cresce de dentro para fora, ao criar novos bens de consumo, novos métodos de produção e transporte, novos mercados e novas formas de organização industrial”. Assim, é inerente ao capitalismo destruir sistematicamente velhos processos em prol de novos. Quando a inovação desponta em determinado setor, este se torna o líder da economia vigente. Este processo contínuo de destruição do velho em prol do novo foi o que Schumpeter chamou de destruição criativa.
Porque inovar não é modismo
Nas primeiras ondas, era possível manter os negócios de forma tradicional, já que a demanda por bens de consumo era suficiente, de modo a ter o produtor como ator principal neste contexto. Com o passar do tempo, as ondas de avanço tecnológico têm ficado mais curtas. Observe que a 1ª onda durou 60 anos, ao passo que a 5ª durou 30 anos. Penso que a COVID deverá impor a próxima onda com, no máximo, 10 anos de largura.
Com este encurtamento das ondas, novos produtos aparecem em um ritmo frenético, fazendo com que a margem de lucro das empresas – que se achavam estabelecidas – caiam exponencialmente, dado ao avalanche de novos atores entrantes neste oceano agora vermelho. E as marcas que surgem nascem por promoverem diferenciações e inserções no Mercado, as quais chamamos de – adivinhem!!! – inovação.
Adapte-se e sobreviva!
Em Ela está aqui: prepara-te!, mostro que as empresas precisam encarar a Transformação Digital (TD) levando em conta cinco eixos. Além disto, aponto o que a Xerpa, inovadora plataforma de RH, destaca como características marcantes das empresas do futuro, fundamentais para que ocorra uma TD exitosa:
E para que isto aconteça, é fundamental que cada empresa, negócio, instituição torne-se um centro de capacitação ativa constante, como deixei claro em Terão as empresas que se transformar em centros de capacitação?, pois são elas próprias quem sentem as dores do Mercado. A Universidade não tem condições de responder com tamanha velocidade, dada a diversidade e quantidade de broncas nascentes. O Mercado tem de ser feito no Mercado. “Market inside Market”, diria GBB San.
Assim, “adapte-se” que coloquei no título desta sessão diz respeito à capacidade da empresa em transformar seus colaboradores em estudantes e mentores, convertendo seus espaços em áreas de aprendizagem imersiva, aos moldes de bootcamps. É o velho “trocar o pneu do carro em movimento sem que os ocupantes sintam”. Não será fácil, mas tenho certeza que valerá a pena!
Se a capacitação em tempo real é a ferramenta para a sobrevivência, o timing, ou tempo certo para começar – olhando para o ciclo de recessão e expansão de Schumpeter -, é agora, já que os vales dos ciclos (ou períodos de recessão), nivelam, literalmente, todo mundo por baixo. Este, portanto, é o momento para arriscar. O momento para inovar. As empresas que entenderem o quando e que a capacitação são as chaves para o problema, sobreviverão e, arrisco dizer, ficarão maiores do que quando entraram nesta crise.
Finalizando…
Os aficionados por números devem ter percebido que as datas 1942, 1962, 1982 e 2002, formam uma progressão aritmética de razão 20 anos. Pura coincidência… ou não! Independentemente disto, gostaria que não fosse esse aprendiz, GBB San, o cara que escreverá a sentença “Tá vendo, eu avisei!” sobre o seu negócio em 2022.
Há 80 anos, desde Schumpeter, alertas e exemplos de mortes de quem não promoveu a destruição criativa não faltam. Estamos vendo esse avalanche de quebras acontecendo aos montes. Os números são altos para serem chamados de “exceções”. Segundo o IBGE, 716.000 empresas fecharam as portas desde o início da pandemia no Brasil. Não sabemos quais e de que forma vão abrir.
A destruição já foi decretada. Transforme-a em criativa.
Vejo você, vivo e bem, lá nesse futuro. Não por ter seguido meu conselho, mas daqueles que entendem.
Referências:
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Leia a edição anterior: Protegendo as patentes
Gláucio Brandão é Pesquisador em Extensão Inovadora do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Gláucio Brandão
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