A atenção ao aparelho celular figura com prioridade máxima, deixando o professor e a exposição das aulas em último plano
A mudança na chave entre os modos remoto e presencial revelou uma alteração preocupante no perfil dos estudantes. Mesmo antes do isolamento, o velho hábito de fazer anotações no caderno já havia sido quase que completamente abandonado – um “print” da lousa e tudo parecia estar sob controle. O foco no conteúdo das aulas parece estar ainda mais afetado, pois a atenção ao aparelho celular figura com prioridade máxima, deixando o professor e a exposição das aulas em último plano.
No entanto, vale ressaltar que este comportamento é pouco diferente daquele visto ao final das aulas remotas: câmeras fechadas, pouquíssima interação e desinteresse generalizado. Apesar de não poderem mais contar com o argumento da internet ou microfone quebrados, o aumento considerável na fração de estudantes completamente desinteressados nas aulas é algo a ser analisado com muito cuidado.
Um fator majoritário que foi agravado pela pandemia foi o quadro de grave crise econômica (que levou o Brasil de volta ao mapa da fome) e fez com que grande parcela dos estudantes universitários buscasse estágios e empregos temporários. Com o retorno das aulas no modo presencial, estes estudantes mantiveram seus vínculos e agora sentem a dificuldade em estar na Universidade – e quando estão, tenham pouco foco e interesse nas aulas.
Isso se soma à situação dramática das Universidades públicas que perderam quase todos os recursos e lutam para não fechar. Este cenário apocalíptico conta ainda com a evasão considerável de jovens doutores para o exterior.
Fica clara a necessidade urgente de valorização da educação, ciência e tecnologia no Brasil, o reforço na assistência estudantil, a valorização dos professores e o investimento em nossa juventude. Ou seja, precisamos fazer tudo diferente do que foi feito nos quatro últimos anos. Com a disponibilidade de bolsas de fixação dos estudantes na Universidade poderemos atrair nossos jovens para dentro das instituições e recuperar a atenção perdida pela produção de conhecimento. O brasileiro precisa voltar a acreditar na educação.
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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