Criticismo e competição Ciência Nordestina

terça-feira, 5 dezembro 2017
O criticismo, necessário à ciência, por vezes é fundido com o altíssimo grau de competição da academia

No texto dessa semana, Helinando Oliveira convida todos os cientistas a escrever, divulgar, denunciar, usar as mídias sociais, marchar, dar as mãos #pelaciência

A construção do conhecimento depende da visão crítica dos cientistas, e desta forma a argumentação e contínua avaliação pelos pares representa um pré-requisito para a validação dos avanços, tanto na teoria quanto nos campos experimentais. E o criticismo (extremamente necessário para a ciência) por vezes é fundido com o altíssimo grau de competição da academia, o que resulta na síndrome do “revisor irritado”: aquela pessoa que sempre recebe mal toda produção alheia e que tende a rejeitá-la buscando argumentos de negação antes mesmo de compreender a essência de uma ideia.

E este comportamento conduz o cientista a um nível de isolamento extremo: o número de colaboradores cada vez menor reflete a intolerância e a incapacidade em reconhecer a importância do trabalho de próximo.  Resultado de uma competição por contínuo reconhecimento, a intolerância provocada por esta síndrome esfacela a coletividade, em especial quando há necessidade de união pela classe.

Em um ambiente político excessivamente agressivo, em que o orçamento das Universidades Federais tende a ser o pior de todos os tempos, a categoria de docentes continua encastelada e refém de seus fantasmas.

A política de privatização e desmonte do ensino público superior afeta a todos: os mais e menos produtivos, os cientistas da área de humanas e das extas, dos teóricos aos experimentais, dos novos aos mais velhos…

Já não existem mais editais de pesquisa, as agências de fomento já comemoram saldar o pagamento de bolsas… Ou seja, a ciência persiste em estado vegetativo e sem previsão de melhora.

Da racionalidade da ciência surge a questão: Se todos estamos no mesmo barco, para que serve a crítica ao próximo? A comunidade poderia, ao menos neste momento, dar as mãos e demonstrar unidade pela salvação da ciência brasileira – uma conquista de gerações passadas e uma promessa para as gerações futuras.

Esta pode ser a última oportunidade para reconhecer que a sobrevivência do Sistema Nacional de Ciência & Tecnologia está muito acima das velhas brigas de ego.

Os cientistas brasileiros têm uma capacidade incrível de produzir conteúdo de divulgação em linguagem acessível ao povo. E é isto que precisamos fazer: escrever, divulgar, denunciar, usar as mídias sociais, marchar, dar as mãos… Sendo iguais, ao menos neste momento de ataque, podemos esquecer as diferenças. Sejamos todos: #pelaciência.

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Helinando Oliveira

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