Compreender o padrão de escrita na literatura científica é o primeiro passo para a produção de artigos relevantes
(Helinando Oliveira)
Um bom trabalho científico deve associar conteúdo e forma, trazendo bons resultados/ discussão e uma apresentação cientificamente aceitável. Por vezes, bons artigos deixam de ser publicados em determinados veículos de divulgação devido à escrita inadequada. E isso se estende a todo e qualquer produto acadêmico (desde os trabalhos de conclusão de curso, dissertações de mestrado, teses de doutorado, artigos e patentes).
Para continuar entregando conteúdo de qualidade, Nossa Ciência precisa do apoio de seus leitores. Faça um pix para contato@nossaciencia.com
Há um padrão de escrita na literatura científica (além do jargão) que se adquire lendo muitos artigos. O bom escritor científico precisa ler muito e manter sua base de referências bem atualizada. Com o tempo, a sensibilidade se torna aguçada ao ponto de poder identificar uma boa escrita. Este sentimento junto a algumas regras gerais são fundamentais para a escrita de Resumo, Introdução, Materiais e Métodos, Resultados e Discussão, Conclusões. Nas próximas semanas abordaremos cada um destes elementos textuais, sendo os conteúdos indicados especialmente aos pós-graduandos em período de produção textual. Hoje trataremos do resumo.
Se o produto acadêmico fosse consumido como uma comida, o resumo seria a foto do prato. A depender da qualidade do resumo, o leitor decide se continua ou não a leitura. E convenhamos que fotografar um hamburguer (sem o artifício do cheiro) e mesmo assim vendê-lo não deve ser simples. Não esperemos que resumir todo um trabalho em uma única página o seja. Para isso existem regras que devemos usar e abusar.
Fazer um resumo é como pegar um drone e vir de longe até perto de seu produto acadêmico, da visão macro – o mundo até a visão micro – o que você fez. Para isso, você deve começar mostrando ao leitor que é importante estudar o tema e os desafios que ele ainda oferece.
Assim, é recomendado mostrar o que os outros autores têm feito com relação ao tema. Neste ponto entra o termo quase obrigatório “no entanto”, do inglês however, onde se abre espaço para mostrar a sua astúcia em abordar o problema por um ângulo que os outros não observaram. Este trecho é fundamental para fazer sumir o comentário de que seu trabalho não tem novidade.
E daí seguem os resultados… Cuidado para não exagerar em números e símbolos. É só a foto do hamburguer, não precisa falar da temperatura do ketchup. Lembre-se disso. Da breve discussão seguem as conclusões. E fim. Não espere acertar de primeira.
Resumir um trabalho em uma página é algo que requer vários ciclos de correção, em que devem ser cortados os adjetivos que tanto amamos pelo bem de uma linguagem concisa e exata. Ser exato no que se quer dizer também é fundamental. Nós, brasileiros, adoramos florear algo ao invés de sermos exatos. Na escrita científica não há licença poética. Se algo é bom, é porque precisa ser melhor do que outro alguém fez. Então, todo cuidado com o uso de cada palavra, desde o resumo até o fim.
Semana que vem falaremos da escrita da Introdução. Até lá.
Leia também: Estudar como um ato de rebeldia
Leia outros textos da coluna Ciência Nordestina
Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência.
Helinando Oliveira
Deixe um comentário