Reflexões sobre os 50 anos da epopeia humana rumo à Lua
Queridos lunáticos,
Eu não sei como foram por aí as comemorações do dia 20 de julho de 2019. Não sei, sequer, se essa data teve alguma importância para vocês, isto é, se os animou. Por aqui, importantes revistas científicas como Science e The Lancet dedicaram editoriais sobre o legado científico deixado pelo Projeto Apollo 11, que culminou na chegada do homem à Lua há pouco mais de 50 anos. Mas a credibilidade desse feito não é unanimidade entre os terráqueos. Não sei dizer se muitos, ou apenas uma pequena parcela, acreditam que se tratou de uma grande encenação. Acredito, contudo, que eles devem se basear em fake news para considerar esse feito como uma história fake. Não sei também se dentro desse grupo todos se consideram Terraplanistas. Por fim, não sei se, observando-nos daí, vocês ficam indignados ou acham engraçadas essas histórias de fake news e de Terra Plana.
Sei, contudo, que apesar da motivação para tal feito ter sido geopolítica e não científica, discute-se muito a respeito do legado científico da Apollo 11. Foram os quase 400 Kg de rochas retiradas do solo lunar e trazidas para a Terra? Foram o desenvolvimento e o aperfeiçoamento de satélites, de redes de comunicação e de defesa? O editorial da revista The Lancet, a qual me referi há pouco, mencionou como legado os avanços médicos. Tratou, por exemplo, dos efeitos da microgravidade sobre o corpo humano, isto é, sobre todos os seus sistemas fisiológicos. A título de exemplo, menciono aqui os sistemas cardiorrespiratório, musculoesquelético neurológico e circadiano. O texto é taxativo: por meio da Apollo 11 aprendemos a persistir no espaço e a ultrapassar uma fronteira a qual poucos imaginaram ser possível explorar. Não sei se concordam conosco queridos lunáticos, haja visto as nossas limitações, mas o sucesso desse projeto foi um divisor de águas da nossa história.
Contudo queridos, nessa “nossa história” volta a residir outra questão interessante que vai depender da perspectiva de quem a observa. Por um lado, pode-se dizer que foi uma conquista humana, por outro, exclusivamente americana (as cores e o símbolo da bandeira fincada no solo lunar, inclusive, reforçam isso). Acredito que as duas opções são igualmente válidas. Não sei se a simbologia representada por meio de uma bandeira é algo exclusivamente humano. Vocês, por exemplo, utilizam-na por aí? Cada Cratera tem a sua ou há uma única que representa a todas?
Outra questão: quando os terráqueos estiveram aí, falaram em nome da Terra, de si próprios, ou ainda, exclusivamente, dos americanos? Falo isso porque segundo matéria publicada no jornal EL PAÍS e intitulada “A revolta dos pobres contra a viagem à Lua”, milhares foram contra essa demonstração de supremacia tecnológica da nossa Civilização. Ou seria, apenas, dos americanos? Mais uma vez, acho que as duas opções são igualmente válidas. Segundo a matéria, à época do lançamento da Apollo 11, muitos americanos, especialmente os defensores dos direitos dos negros, protestavam devido à carência de alimentos, de roupas, de moradia e de cuidados médicos. Isto é, as críticas tinham como alvo os pesados gastos desse projeto, o qual minava os programas sociais. Consta na matéria, que o renomado físico nuclear Leo Szilard fez o seguinte comentário sobre o assunto naquela época “A Lua não é ciência e tampouco é pão. É circo. Os astronautas são os gladiadores. É coisa de lunáticos”. Espero que não tenha soado como algo ofensivo para vocês!
Última questão: não sei se viram, ou simplesmente ignoraram, mas a placa deixada no solo de vocês nesse dia emblemático possui os seguintes dizeres We came in peace for all mankind. Eu não sei exatamente em nome de quem essa mensagem de paz foi endereçada, se em nome, exclusivamente, dos americanos, ou de toda a humanidade. Falo isso, porque desde essa época até então, a paz mundial esteve muitas vezes mais distante e não mais próxima como alguns poderiam imaginar. Esteve em alguns momentos, inclusive, no fio da navalha.
Por fim queridos lunáticos, o Futuro já chegou aqui. Ou melhor, o Future-se. Acabamos até com a fome do nosso País. Avançamos tanto que o nosso renomado e prestigiado Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) já não registra mais desmatamento na Amazônia. Nossos alimentos já não possuem mais agrotóxicos. Somos capazes de produzir filmes até com filtros culturais. Para vocês pode parecer que todos esses nossos avanços sejam apenas um pequeno passo, mas para muitos de nós é um grande salto.
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Leia o texto anterior: As lições criativas e até futuristas dos nossos antepassados
Thiago Jucá é biólogo, doutor em Bioquímica de Plantas e empregado da Petrobrás.
Thiago Jucá
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