A beleza e a harmonia de tudo que existe na natureza e no cosmo, mais se parecem com a arte do que com a ciência
A harmonia e a beleza de tudo o que existe (a natureza e o cosmos) mais se parecem aos concertos para piano de Chopin do que qualquer outra equação possa explicar.
Como definir o movimento com que a terra gira em torno do sol e com que tantos outros planetas fazem em torno de outras estrelas, em uma harmonia cortada por lampejos de genialidade de meteoros que riscam o espaço. Isto é arte.
Mas a arte foi arrancada das ciências duras como consequência de uma disciplinarização que teimou em separar as partes superpostas de um mosaico indecifrável. Como se quiséssemos substituir a beleza pelo pragmatismo, estabelecemos coisas que valem a pena das outras que não valem estudar. Assim surgem os ofícios que valem mais e aqueles que valem menos.
E assim, as crianças e jovens estudam física e arte, matemática e filosofia, línguas e química, sem perceber qualquer relação que exista entre elas. São caixas, apenas isto. E as disciplinas enquadram seus cérebros em regras cada vez mais rígidas, ao ponto de impedi-los de criar. Desta forma, físico gosta de fazer física, artista curte fazer arte e juiz tem a missão de julgar. As poucas pessoas que cruzam estas fronteiras entendem que a pobre interpretação humana da realidade carece de saltos de genialidade.
A eletrodinâmica quântica, definida por seu criador, Richard Feynamn, como a joia da física, atingiu um nível de entendimento da interação entre a luz e a matéria até então não imaginado por qualquer outro físico.
E tudo isso se deu quando Feynman decidiu ousar: ao invés de escrever equações complicadíssimas, ele as resumiu como flechas e setas, em uma representação gráfica quase pré-histórica. Isso já não era mais matemática – ele criou sua própria representação: os diagramas de Feynman. Sua inteligência e perspicácia permitiu com que o salto para fora da caixinha fosse exitoso. A ciência ganhou com isto. E a pergunta que resta é: porque continuamos a formar nossas próximas gerações com o conceito de profissão “de rico” e profissão “de pobre”?
Entender a natureza significa consolidar toda a capacidade interpretativa humana, sem as regras e domínios artificiais da disciplinaridade. Nenhuma área é mais importante que a outra. Todas são em sua medida, operários em buscar do conhecimento da verdade.
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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