Pesquisador desenvolve estudo sobre ocorrência no Ceará de caranguejo amazônico de água doce, questionando como a espécie conseguiu se dispersar e adaptar a um clima diferente
Típico da região Amazônica, o caranguejo Fredius reflexifrons também é encontrado nos municípios de Ipu e Viçosa do Ceará. A pesquisa de doutorado do biólogo Livanio Cruz dos Santos, intitulada “Caranguejo Relictual da Serra da Ibiapaba: o que nos diz a teoria dos refúgios?” visa explicar a ocorrência dessa espécie no município de Ipu.
Segundo Livanio, questionamentos levantados em sua pesquisa surgiram ainda no mestrado, quando já trabalhava com a espécie, junto ao Laboratório de Crustáceos do Semiárido da Universidade Regional do Cariri – URCA. Atualmente, a equipe está na fase da pesquisa de campo – que deve se estender até o fim desse semestre -, mapeando pontos de ocorrência na Área de Proteção Ambiental (APA) da Bica do Ipu, com caracterização do habitat, identificação dos impactos oriundos da ação antrópica que podem levar à extinção em escala local desse crustáceo, além da captura dos animais para realizar análises morfológicas e moleculares.
Os registros do Fredius reflexifrons em porções úmidas do semiárido nordestino levantam questionamentos sobre como essa espécie conseguiu se dispersar além da Região Norte do Brasil para uma região com clima tão desfavorável para sua manutenção. O caranguejo encontrado no Ceará diverge fisicamente em algumas características dos encontrados na região Amazônica, como na coloração da carapaça que tende para um marrom escuro avermelhado e as garras são avermelhadas com a ponta esbranquiçada.
Até o momento, foram mapeados 15 pontos do município de Ipu com a ocorrência do crustáceo. De acordo com o pesquisador, de maneira geral, o habitat é caracterizado pela proximidade com fontes naturais de água, com vegetação nativa ou não. As tocas são profundas e têm estruturas de túnel que protegem os indivíduos de predadores, em especial, nos períodos de reprodução.
Além de tentar explicar os motivos da ocorrência do Fredius reflexifrons em Ipu, a pesquisa visa apontar caminhos para a proteção da espécie, tida até o momento como relictual. Livanio explica que, com base nas análises morfológicas e moleculares, pode ser possível mostrar que é possível que se trate de uma nova espécie ou de uma espécie críptica (diferem geneticamente, mas morfologicamente são iguais), devido ao isolamento da espécie, oriunda da região amazônica, com populações isoladas no Planalto da Ibiapaba, às características ecológicas e à história de vída.
A pesquisa é orientada pelo professor José Roberto Feitosa Silva, ligado ao Programa de Pós-graduação em Ecologia e Recursos Naturais da Universidade Federal do Ceará, com co-orientação do professor Allysson Pinheiro, da Universidade Regional do Cariri, e da Dra. Cynthia Ogawa. Estudantes de graduação, mestrado e doutorado do Laboratório de Histologia e Rios do Semiárido da UFC, e do Laboratório de Crustáceos do Semiárido da URCA também participam do estudo, que conta, ainda, com suporte (alojamento e auxílio em campo), da gestão da APA da bica do Ipu.
O pesquisador ressalta que o grupo tem licença prévia para captura, manuseio e transporte do crustáceo por meio do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) sob nº: 605121. Além de autorização de pesquisa pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Ceará- SEMA, sob parecer técnico nº: 94/17.
A coluna SCIARÁ de Giselle Soares é atualizada semanalmente. Leia, opine, compartilhe, curta. Use a hashtag #Sciará. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia).
Leia o texto anterior: Um passeio pela Seara da Ciência, da mesma autora.
Deixe um comentário