Diante do caos da pandemia, a solução vem das vacinas para que a vida possa seguir
Segundo o dicionário, caos é “vazio primordial de caráter informe, ilimitado e indefinido, que precedeu e propiciou o nascimento de todos os seres e realidades do universo.” Para Platão, esta seria a condição necessária para o agir de Demiurgo, que seria algo como o intermediário de Deus na criação do mundo. Para a física, uma licença poética do big bang e suas consequências.
Com o tempo, vimos que o caos pode também, por ação antrópica, ser fonte de destruição. E o que estamos vivendo no período recente da pandemia remete a este pensamento, irremediavelmente.
Com esta introdução, quero convidar os leitores a fazer um recorte temporal do período correspondente de 2020-2021 e todo o comportamento humano contido nele (e daquilo que deveríamos ter aprendido).
Concordaremos que o perfil cronológico de 2020 e 2021 é muito parecido (em diferentes escalas). Na janela de janeiro e fevereiro de 2020 tudo funcionava normalmente (bares, restaurantes, shopping centers) – em 2021 também. A única diferença foi a inexistência do carnaval oficial em 2021 (mais do que justificado).
Este perfil de comparação deve partir de um fato: há um ano atrás falávamos muito de Wuhan e temíamos pela chegada e propagação dos primeiros casos de covid-19 no Brasil. Tão logo foram iniciados os procedimentos de lockdown na Europa, iniciamos o processo de fechamento das cidades, o que levou alguns meses.
E o que aconteceu um ano depois? Nestes 365 dias já morreram mais de 250 mil brasileiros, vivenciamos a crise do oxigênio em Manaus e tudo o que os governos conseguem fazer atualmente é promover toque de recolher à noite.
Mesmo em uma situação descontrolada da pandemia, as escolas voltaram a atuar presencialmente ainda que se relate casos severos de covid em crianças e adolescentes.
Ainda mais grave, várias cidades no Brasil descrevam a lotação completa de suas UTIs. Ao contrário do lockdown de 2020, agora acreditamos poder resolver tudo com toque de recolher noturno…Matendo tudo normal durante o dia. Há algum normal a se manter?
A postura do povo com relação a doença mudou, pois o discurso do mercado venceu. Mesmo que isso se dê sobre 250 mil mortos (um número que infelizmente aumenta rapidamente) precisamos encontrar um consenso nisso tudo: a situação está fora do controle. Caos? Espero que não. Se na mitologia o caos se fez ordem, aqui, neste pequeno ponto pálido, tudo o que caos pode criar é concentração de renda, morte e dor. A vida precisa seguir. E a solução que resta vem das vacinas. Há um ano atrás não poderíamos acreditar em sua existência. E hoje, incrivelmente, temos a solução enquanto persiste um contingente de milhões à espera da vacinação. Prioridade, é disso que precisamos.
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Leia o texto anterior: A onda dos likes
Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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