Breves comentários de Stephen Hawking e Carl Sagan sobre nós mesmos Coluna do Jucá

quinta-feira, 1 novembro 2018
Os cientistas que dispensam apresentações: Stephen Hawking e Carl Sagan

Duas obras póstumas de dois grandes popularizadores da ciência nos fazem pensar a respeito de questões intrigantes da mente humana

Iniciou-se em algumas livrarias do País a pré-venda do livro Breves Respostas para Grandes Questões, obra póstuma de Stephen Hawking (Oxford, 1942 – Cambridge, 2018), cientista mundialmente referenciado e que dispensa qualquer tipo de apresentação. O jornal EL País disponibilizou na segunda-feira (29/10), um capítulo do livro, cuja previsão de chegada nas livrarias se dará em meados de novembro.

A partir da leitura desse capítulo é possível compreender um pouco da visão de Stephen Hawking a respeito de grandes questões, as quais sempre permearam a mente humana e que certamente nunca deixarão de fazê-lo. Logo no primeiro parágrafo, ele menciona duas grandes questões sobre as quais gostaria de especular ao longo do texto: desenvolvimento da vida no universo e da vida inteligente, com foco especial na vida humana, segundo a qual, Stephen diz: “(…) grande parte de seu comportamento ao longo da história tenha sido bastante estúpido e pouco calculado para ajudar a sobrevivência da espécie (…)”. Por fim, encerra o parágrafo inicial com duas questões, as quais serão seus alvos de discussão: a possibilidade de que haja vida em outro lugar do universo e como essa poderá se desenvolver no futuro.

Iniciou-se em algumas livrarias do País a pré-venda do livro Breves Respostas para Grandes Questões, obra póstuma de Stephen Hawking. Fonte: Google

O tom crítico em relação ao comportamento da nossa espécie ganha notoriedade mais uma vez, ao questionar-se quanto à inclusão ou não dos vírus no grupo dos seres vivos. Utilizando-se de uma retórica bem contundente, ele diz: “(…) Acredito que os vírus de computador deveriam ser considerados vida. Talvez diga algo sobre a natureza humana o fato de que a única forma de vida que fomos capazes de criar até agora seja puramente destrutiva. Isso mostra com eloquência o que é criar vida à nossa própria imagem (…)”.

Quanto à nossa inteligência, tida por muitos como o motivo maior da nossa auto importância, Hawking adverte: “Nem sequer está claro que a inteligência tenha um valor de sobrevivência a longo prazo. As bactérias e outros organismos unicelulares poderiam continuar vivendo mesmo que todas as outras formas de vida fossem eliminadas por nossas ações”. Ou seja, a princípio, e considerando-se o ponto de vista cósmico, não importa quanta inteligência ou ignorância tenhamos, reside em nós mesmos uma grande insignificância.

O capítulo disponibilizado encerra-se com as possibilidades e probabilidades de que a vida – representada pela forma mais primordial – chegue à inteligência. Ele enumera incialmente as duas possibilidades de baixa probabilidade. A primeira diz respeito ao tempo necessário “para que ocorresse a evolução de seres unicelulares a seres multicelulares, que são um precursor necessário à inteligência”, isso segundo as estimativas de evolução na terra, a qual aponta um tempo de 2,5 bilhões de anos. Segundo Hawking “essa é uma boa fração do tempo disponível antes que o sol exploda”, o que “ seria consistente com a hipótese de que a probabilidade de que a vida chegue à inteligência seja baixa”.

Stephen Hawking, celebridade científica que dispensa apresentações. Fonte: Google

Outra possibilidade de baixa probabilidade seria “o choque de um asteroide ou um cometa com o planeta”. Ele argumenta que “(…) Alguns pequenos mamíferos primitivos sobreviveram, mas qualquer organismo do tamanho de um ser humano certamente teria sido aniquilado. É difícil dizer qual a frequência de tais colisões, mas uma conjuntura razoável poderia ser a cada vinte milhões de anos, em média. Se esse número estiver correto, significaria que a vida inteligente na Terra se desenvolveu graças ao fato de não ocorrerem colisões importantes nos últimos milhões de anos (…)”.

Já a terceira possibilidade, tida como uma probabilidade razoável é que “(…) a vida se forme e evolua a seres inteligentes, mas que o sistema se torne instável e a vida inteligente destrua a si mesma. Essa seria uma conclusão muito pessimista e espero sinceramente que não seja verdade”. Por fim, a quarta possibilidade, a preferida pelo físico e acredito que por muitas pessoas é “que existem outras formas de vida inteligente, mas que fomos esquecidos”.

Carl Sagan, o maior popularizador e divulgador da ciência do século XX

Sugiro aos que pretendem ler a obra póstuma de Stephen Hawking, que leiam também Variedades da Experiência Científica – Uma visão pessoal da busca por Deus, obra póstuma de Carl Sagan, outro cientista que dispensa apresentações. “(…) são minhas opiniões pessoais sobre essa área limítrofe entre a ciência e a religião (…)”. Ou seja, assim como na obra Breves Resposta para Grandes Questões, o livro – o qual consiste de um apanhado de palestras ministradas pelo astrofísico, na Universidade de Glasgow, sobre “teologia natural”, em 1985 – aborda questões igualmente intrigantes que permeiam a mente humana. Mesmo depois de mais de trinta anos, é uma obra muito atual e sobre a qual não parece recair qualquer prazo de validade.

Uma grande questão sobre a qual ainda não temos, sequer, uma breve resposta, ou melhor, unânime, é a seguinte: se outras formas de vida tivessem a oportunidade de visitar o Brasil, nesse momento, será que o fariam? Ou declinariam da visita, preferindo nos esquecer?

Referências:

Carl Sagan. Variedades da Experiência Científica – Uma visão pessoal da busca por Deus. Companhia das Letras, pág. 302.

Stephen Hawking, 29/10/2018. Há mais vida inteligente no universo? Publicado no EL Pais.

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Leia o texto anterior: A cara da fome

Thiago Jucá é biólogo, doutor em Bioquímica de Plantas e empregado da Petrobrás.

Thiago Jucá

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