Fazer ciência integrada ao meio ambiente, este é o desafio
É indiscutível que a industrialização trouxe mais conforto à vida das pessoas e também uma expectativa de vida maior, ao mesmo tempo em que gerou mais lixo que o planeta pode processar, desigualdade social e um consumismo fora do controle. Para se manter viva, a indústria alimenta a necessidade de querer mais sapatos, mais carros, mais aparelhos celulares. E as pessoas seguem dando sua vida (em forma de tempo de trabalho – como definido por Pepe Mujica) em troca destes apetrechos que já saem das lojas como protótipos de lixo (vida útil de meses).
As mudanças climáticas já demonstraram que as agressões que temos promovido apontam para a inviabilidade da espécie humana na Terra. Mesmo não sabendo se o limite do irreversível já foi cruzado, temos a obrigação de girar a chave e criar condições para um crescimento verde. Há tecnologia suficiente para isso.
Então vejamos: não faz mais sentido utilizarmos plástico “novo” – se tudo pode ser produzido como 100% reciclado. A dependência com a gasolina para os transportes precisa dar vez à energia solar. As cidades precisam investir em ambientes verdes integrados. A agricultura orgânica e familiar precisa ser fortalecida – não suportamos tanto veneno em nossas frutas e verduras. Ao mesmo tempo, precisamos ser menos privados e mais públicos. Isso significa que o isolamento em bolhas sociais é apenas uma maquiagem ao caos generalizado que vivenciamos. Não há como colocar tapumes sobre a fome e a miséria que explode no país para fingir que em nosso condomínio está “tudo bem”.
Um novo modo de produção e uma nova forma de vida urge em nosso meio desde o dia em que explodiu a pandemia da covid-19. Todos formos forçados a viver de outro modo e quando tudo “parece ter acabado” vemos que nada de bom foi aprendido. Pelo contrário, o que restou foi fome e miséria, isolamento e acúmulo de renda.
A ciência brasileira, mesmo mal nutrida, mas sempre resiliente, pode e deve dar a resposta que o país precisa: sendo cada vez mais regional, mais focada em nossos problemas, menos dependente de pautas da moda. Estando a serviço do povo brasileiro, construindo soluções dentro do contexto regional. Isto significa que, por exemplo, a ciência amazônica e a ciência da caatinga devem estar mergulhadas em suas realidades, potencialidades e problemas. O propósito da pesquisa precisa estar a serviço do seu entorno, uma vez que só assim teremos o retorno de todo o investimento recente no espraiamento do ensino superior pelo interior do Brasil. Fazer ciência integrada ao meio ambiente, este é o desafio.
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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