Uma estratégia biológica está usando a bactéria Wolbachia para inibir a propagação de vírus por parte dos mosquitos transmissores da dengue
O controle do Aedes Aegypti é uma condição necessária para a redução nos casos de dengue, febre amarela, Zika e Chikungunya. Em adição aos cuidados com relação ao acúmulo de água parada, diferentes estratégias têm sido trabalhadas para controlar a propagação do mosquito (controle de população), permitindo com que ocorra redução de sua ação como vetor transmissor de doenças. Este processo se dá por duas formas distintas: a partir da produção de machos transgênicos e pela ação da bactéria Wolbachia.
No primeiro caso, machos transgênicos são soltos e passam a procurar por fêmeas selvagens gerando ovos inviáveis, o que significa uma estratégia de redução na população. Por outro lado, a estratégia biológica é baseada no aumento da população de mosquitos. Este projeto conduzido pelo World Mosquito Program é baseado no uso da bactéria Wolbachia e seu papel inibidor na propagação de vírus por parte dos mosquitos. A estratégia consiste em injetar a bactéria nos ovos do mosquito e infectar as células do mosquito em sua fase adulta. A partir de então, estes mosquitos (contaminados com a Wolbachia) e incapazes de transmitir a dengue, febre amarela, Zika e Chikungunya são liberados na natureza.
A reprodução de machos com a Wolbachia com fêmeas nativas (com a bactéria ou não) resulta em uma nova geração de mosquitos contaminados com a Wolbachia, o que passa ser um processo de redução abrupta no número de vetores transmissores da doença. As fêmeas permanecem realizando hematofagia, porém sem transmitir o vírus. As vantagens deste processo vêm da não necessidade de modificação genética de mosquitos e pela sustentabilidade do processo que não carece de sucessivas liberações de mosquitos no meio ambiente.
Em experimentos realizados por pesquisadores da FIOCRUZ, foi identificado que em mosquitos sem a Wolbachia, 85% apresentam alto índice de contaminação com o vírus Zika. Por outro lado, os mosquitos contaminados com vírus e bactéria não foram transmitiram a Zika.
A vantagem deste processo de inibição do poder de transmissão viral dos mosquitos se dá pelo fato de que esta é uma bactéria restrita a invertebrados e de característica intracelular, conforme reportado na literatura. Desta forma, são minimizadas as chances de ser excretada pela saliva do mosquito durante a picada, o que garante maior segurança ao processo completo.
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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