Hard money, soft money e a revolução das criptomoedas
(Gláucio Brandão)
A Aula Condensada (AC) de hoje aborda duas questões cruciais que impactam nossas vidas, mas que permanecem desconhecidas para a maioria das pessoas: a economia que nos rege e o porquê de as criptomoedas estarem ganhando força.
Para que nosso conteúdo seja conclusivo, focarei apenas no que desempenha um papel central. Considerando a economia como um ser vivo, esse elemento seria descrito como seu sangue: o dinheiro. Compreender o dinheiro e seus protocolos é compreender grande parte da economia e reduzir a alienação e a dependência de promessas vazias.
O miolo do título é uma tradução livre para “hard money” e “soft money”. Por questões de sonoridade, manterei os termos mundialmente aceitos, os da versão em inglês. Não que eu goste de estrangeirismo, mas ninguém fala “parte macia” ou “parte dura” (software e hardware), embora alguns ainda insistam chamar o mouse do PC de rato…
Nossa vida é conduzida pela economia. Ela dita como as pessoas, empresas, governos e sociedades (e políticos) utilizam recursos limitados para satisfazer suas necessidades e desejos. Isso inclui aspectos de produção, distribuição e consumo de bens, serviços (e eleições), e pode ser dividida em duas grandes áreas: a microeconomia e macroeconomia. Não querer saber ou detestar este conceito, é se manter alienado (no pior sentido mesmo) ou alijado (de fora) da própria vida. Quem não procura compreender minimamente o que estas oito letras significam, não está nem na arquibancada do jogo da própria vida. Como o dinheiro é sua parte mais palpável, seguem conceitos.
O valor intrínseco de uma moeda corresponde ao seu valor real, baseado no material de que é feita, e não apenas em sua aceitação como meio de troca. Moedas antigas – de ouro, prata e até de sal, por isso recebemos “salário” – possuíam valor intrínseco, pois o metal precioso mantinha seu valor independentemente do uso monetário, uma vez que os minerais são notadamente escassos.
As moedas modernas são fiduciárias, sem valor intrínseco, pois ele depende da confiança pública e da garantia do governo. Assim, a maioria das economias atuais funciona com moedas cujo valor vem da aceitação social e institucional, algo instável e perigoso, daí a necessidade de se criar algo descentralizado e confiável, o que catapultou a criação das criptomoedas.
Ao lado das moedas duras (antigas), está o Bitcoin, a mais expressiva das cripto! Embora digital, é considerado por alguns como tendo valor intrínseco devido à sua escassez e ao custo energético da mineração, estando limitado a 21 milhões de unidades por um protocolo que garante que o último BTC será minerado perto do ano de 2.140 (não estaremos aqui para ver isso).
Uma vez que o BTC tem suprimento fixo (escassez), é descentralizado (todo mundo rastreia o danado), imune à censura (“inconfiscável”), tem emissão previsível (respeita os cronogramas de halvings) e é portável, ele é considerado uma reserva de valor (é capaz de proteger seu patrimônio contra a inflação e a instabilidade econômica), sendo, portanto, uma hard money, tanto que muitos defensores o chamam de “ouro digital”, só que com alta liquidez, ao contrário do metal amarelo.
Agora que conhecemos o conceito de soft money (o fiduciário) e sabemos que é controlado pelo governo, quando se imprime muito dinheiro sem um correspondente aumento na produção, a moeda perde valor (desvalorização) e os preços sobem (inflação). Isso é comum em casos de políticas monetárias malplanejadas, expansionistas e exageradas. Já o câmbio é a troca de uma moeda por outra, o que se dá pela conversão de valores entre diferentes moedas. Ele define o valor de nossa moeda em relação a outras, uma vez que o Brasil possui forte dependência de nações, seja pelo comércio, investimentos e viagens. No caos produzido pela má gestão da economia sobre a moeda fiduciária, o poder aquisitivo das pessoas é diminuído paulatinamente, o que leva a redução da aquisição de bens e serviços, aumentando o desemprego, o que impulsiona o mundo para a próxima ruptura monetária.
As “hard money digitais” podem ser consideradas uma ruptura monetária, pois desafiam o sistema financeiro tradicional e propõem um novo modelo de dinheiro. Elas rompem os paradigmas históricos ao oferecer uma alternativa descentralizada ao dinheiro estatal.
Falando sobre a principal, o BTC pode transformar como entendemos o dinheiro, tornando bancos centrais menos relevantes e possibilitando um sistema financeiro mais aberto e independente. Tal ruptura ainda está em andamento, mas sua adoção crescente sugere que o modelo tradicional de dinheiro pode estar sendo desafiado como nunca antes.
Embora o Bitcoin (BTC) tenha sido criado com o objetivo de ser uma hard money, ainda tenho desconfianças: a falta de informações sobre quem ou o que é Satoshi Nakamoto ainda me deixa apreensivo. Mesmo acreditando que o BTC não mente, sei que é possível mentir pra ele. Casos não faltam, por isso ainda estou com um pé atrás em relação a esta criptomoeda. No entanto, sou adepto das hard money. Que venha a independência financeira do grande Leviatã, aquele que atende pelo nome de Estado!
Gláucio Brandão é professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e autor do livro Triztorming
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