O caso da startup Apetrus nos ensina que para continuarmos evoluindo, resta um único caminho: o aprendizado
Quando nasce uma criança, nascem os pais! O interessante é o aprendizado que este rebento promoveu, literalmente, em sua respectiva incubadora, a inPACTA.
Mesmo nós, possuindo algum know-how na seara do desenvolvimento de startups, sabemos que qualquer humano só consegue crescer até o limite em que sua incompetência começa a dar sinais de presença. Para continuarmos evoluindo, resta um único caminho: o aprendizado. Quem admite competência plena, não está mais apto a aprender; e quem não consegue mais aprender, recebe por alcunha o nome daquele mamífero quadrúpede e teimoso…
E muitas são as coisas que nossa rebenta mais audaciosa, a startup Apetrus, vem nos ensinando, desde que aqui chegou há pouco mais de um ano. E a lição mais marcante em nós tatuada, reside em um aspecto comum a seus dois idealizadores, o casal Carlos Magno e Mozângela Medeiros: resiliência.
Família Apetrus
Embora sem conhecer o potencial da ideia à época, a cegonha nos entregou uma excelente material. Nosso desafio foi não fazer a massa desandar. E é aí onde a maioria das incubadoras erram: não se adequam aos projetos que recebem por não os ouvirem – primeiro passo no caminho do conhecimento – por entenderem possuir competência plena! Mas afinal, para que serve uma criança?
A Apetrus nos ensinou a como nos transformarmos e nos portarmos como uma gestora de grandes negócios! Continuamos aprendendo.
O que aprendemos com a Apetrus
Além da resiliência racional (pessoal, cair tem limites!), que foi desde sociedades infrutíferas à venda de bens – Carlos me prometeu que tudo isto ainda vai virar livro -, uma grande lição vem do re-significado do que é aprender no meio empreendedor. Coloco aqui em duas palavras: flexibilização e adaptação. Sim, GBB-San, mas isto é óbvio!
É o que parece, quando você está do lado do estudante. Entretanto, quando esta flexibilização e adaptação tem de vir do lado do mestre? Aí é que a coisa pega, pois passa pela amálgama chamada humildade, coisa rara de se encontrar em quem acha que detém o conhecimento! Punk, né não?
Quando eu falava para o CEO da Apetrus: “Obrigado, meu chapa: aprendi mais esta?”, ele saia rindo, dizendo “Este professor…”. Só que era, e é, verdade: “a arte da marcenaria entra precisamente quando entram as farpas na mão”, diria o Brandão original, meu pai, marceneiro raiz que não conheceu MDF. No agradecimento a Carlos, estava também embutido o limite de minha incompetência. Corria para os livros, e a arte começava a entrar!
E aí vem uma grande lição: pode um projeto de uma pré-startup ensinar a uma incubadora como conduzir sua própria incubação? E a resposta: sempre!
Resiliência, flexibilização, adaptação ao pupilo e a quarta lição: não existe ideia pequena ou ruim. Só quem pode dizer isto é o teste. O experimento é soberano. Quem apostaria de cara em Bosta em Lata, Tchau Bosta ou Pet Rock, hoje startups com valuation milionário? Comprar pedra de estimação ou se meter com coliformes… Quem investiria?
Pra fechar em cinco e poder dizer que as lições aprendidas cabem em uma mão, entendi o conceito de Tração, não o clássico “ter adesão ao Mercado e conseguir investimento para fazer aquele scale-up”. Na prática, tração pode ser resumida com Networking. Sim, isso mesmo. Vou deixar Carlos falar um pouquinho, em trecho seu sobre o lançamento da Apetrus:
“Em 22 de outubro de 2019, terminamos nossa primeira fase ideação e beta fechado. Agradecemos a Rede de Postos Amigo pelo apoio fundamental para os testes; a FIERN, IEL, SEBRAE e SINDIPOSTO. Agradecemos também à Secretaria de Tributação do RN, PROCON estadual, ao Prof. Gláucio Brandão, gestor da inPACTA e sua equipe, aos professores da ECT/IMD/UFRN, ao Escritório de Contabilidade Montenegro; ao nosso assessor jurídico Costa Barros, nosso consultor de segurança da informação Prof. Jorge Ramos, ao CTO da Apetrus Waldney Andrade e nossos queridos estagiários, e a todos que passaram pela Apetrus e, de forma direta ou indireta, se dedicaram para que esse sonho se tornasse realidade, contribuindo para o desenvolvimento da Apetrus, no abastecimentos de seus veículos para testes, com suas sugestões e ideias”.
E tem mais na rede do comandante Carlos:
“Acreditamos e apoiamos a comunidade de empreendedorismo do RN Jerimum Valley, e com muito orgulho em nossa camisa, levaremos a bandeira do nosso Estado e do Brasil, obrigado!
Apetrus Soluções tecnológica Ltda. Comodidade e Assim”.
Viram aí o tamanho do elenco. Entenderam o que é montar uma rede, se auto-tracionar? Carlos e Mozângela montaram o caminho da tração!
“Quando o único instrumento que você tem é um martelo, todo problema que aparece você trata como um prego”.
Essa frase do humorista e escritor americano Samuel Langhorne Clemens, mais conhecido como Mark Twain, resume bem o atual quadro da maioria das instituições brasileiras que se propõem a ensinar o empreendedorismo inovador e não estão tendo sucesso. Cutuquei um pouco esta “pereba”, como dizem lá em Pernambuco, no artigo Incubadoras universitárias: indo na contramão .
(a) A incubadora não “escuta” o projeto. (b) A incubadora “aprende” com o projeto.
Lá falo de como as incubadoras tratam todos os projetos incubados como prego e, como se não bastassem, “martelam” ideias fresquinhas em bancas de seleção despreparadas, como se pudessem julgar o que não compreendem bem.
Não foi isso que aprendemos na inPACTA com a Apetrus, e sua irmã mais nova, a Ezydoo. Ambas foram selecionadas pelos perfis de seus integrantes. Aliás, todas as startups que passaram pela inPACTA estão vivas e nunca ultrapassaram um ano e meio de moradia. Mais tempo do que isso, em minha análise, aponta erro no dimensionamento do modelo de negócio da startup, por parte da incubadora, ou falha no pivotamento, por parte do empreendedor.
Ouvindo a Apetrus, o que absorvemos na prática foi que somando a resiliência, testes e tração, pelo lado do idealizador, à flexibilização e adaptação, pelo lado da incubadora, não há ideia que não vingue, pois ficou provado que o modelo de negócio não nasce pronto, é aprimorado dia após dia, e que a inovação, assim como o modelo que deve sustentá-la, são dinâmicos, validados em campo, e só darão certo se ambos, startup e incubadora, decidirem por seu sucesso. Tenho certeza de que ao se entregar uma inovação qualquer a Apetrus ela saberá tocar, ao passo que uma boa ideia entregue a mãos erradas sucumbirá rapidinho.
Uma banca de seleção montada deveria aferir apenas a capacidade empreendedora de seus proponentes. Se a ideia vai vingar ou não dependerá do perfil implementador da equipe. Se o modelo de negócio é apropriado ou não, é função da incubadora ajudar a dimensioná-lo. Quem tem de meter o martelo na ideia é o Mercado, não a banca!
Finalizando…
Desde o começo de Setembro, só abasteço via Apetrus. É muito massa chegar ao posto e ter de mostrar apenas um QR Code. Não preciso nem baixar o vidro do carro, sem falar que o preço do combustível para o cliente Apetrus tem desconto. Existem muitos outros benefícios, inclusive sociais. Mas vocês terão de descobrir lá no site dessa grande empresa genuinamente potiguar.
Salve Apetrus! Obrigado por ter nos ensinado a deixar o martelo de lado.
Referências:
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Leia a edição anterior: Evoluindo os negócios
Gláucio Brandão é gerente executivo da inPACTA, incubadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Gláucio Brandão
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