Água de reuso e a produção agrícola familiar O Mundo que queremos

sexta-feira, 13 agosto 2021
Hortas irrigadas com efluente da piscicultura.

Projeto visando à produção agrícola familiar utiliza o potencial hídrico do rejeito da dessalinização num sistema integrado e sustentável

As águas subterrâneas são uma alternativa para as comunidades inseridas no semiárido brasileiro, a partir de investimentos públicos na perfuração de poços. Entretanto, essas fontes hídricas apresentam na maioria dos casos restrições de uso para o consumo humano por apresentarem problemas de salinidade.

A dessalinização por osmose reversa se apresenta como um tratamento eficaz e bastante utilizado para reduzir a salinidade dessas águas. Há alguns anos, o ‘Programa Água Boa’ do Governo Federal instalou, nestas comunidades, Estações de Tratamento de Água a fim de obter água potável para as famílias por meio da dessalinização da água salobra de poços.

Figura 1. Desenho esquemático do sistema integrado de produção utilizando o rejeito da dessalinização da água salobra como suporte hídrico.

O emprego desta tecnologia acaba por amenizar as precárias condições do abastecimento hídrico nas localidades nordestinas contempladas pelos programas governamentais neste âmbito. Durante o processo de dessalinização, 60% da água tornam-se potável e os outros 40% são rejeitos salinos, que quando não são descartados da forma correta, possuem um elevado potencial de poluição dos rios e solos.

Hortas produzidas com água de rejeito salino.

Considerando a quantidade de estações de tratamento instaladas na região nordeste e a limitação da produção agrícola devido à escassez de água, fazem-se necessários estudos que quantifiquem o potencial de utilização agrícola desta fonte hídrica.

Um projeto piloto visando à produção agrícola familiar utilizando o potencial hídrico do rejeito da dessalinização foi experimentado na Comunidade Serra Mossoró e no Projeto de Assentamento Santa Elza, localizados no município de Mossoró, RN. Na fase exploratória da Pesquisa-Ação, foram realizadas oficinas de sensibilização e mobilização das famílias, em que se abordaram questões relacionadas às ações e os benefícios do projeto, possibilitando a identificação de atuação das famílias no projeto pelo método da pesquisa participativa. Nesta fase, também foram realizados cursos de formação sobre a criação de tilápias e hortas orgânicas, tendo como público alvo os agricultores(as) familiares envolvidos na pesquisa.

Criação de tilápias utilizando o rejeito da dessalinização da água salobra como suporte hídrico.

O projeto foi executado por meios de ações integradas e sustentáveis, as quais foram: a água do poço era bombeada até a estação de tratamento para a obtenção de água potável por osmose reversa, beneficiando as famílias; o rejeito salino gerado no processo de dessalinização era bombeado para dois viveiros de piscicultura construídos para a criação de tilápia (espécie tolerante à água salgada), beneficiando as famílias com fonte de proteína; o efluente da piscicultura, enriquecido em matéria orgânica, era armazenado em tanques de irrigação construídos que, posteriormente era utilizado na irrigação de plantas forrageira e hortas comunitárias e; finalmente, a forragem produzida, com teor de proteína entre 15 e 18%, foi utilizada para a engorda de caprinos e/ou ovinos que, juntamente como a produção de tilápia e hortaliças garantia a segurança alimentar e nutricional das famílias e, ainda a o aumento da renda com a venda do excedente, fechando o sistema de produção ambientalmente sustentável.

A metodologia aplicada na construção deste projeto possibilitou o diálogo e a participação das famílias beneficiadas com a apropriação do sistema de produção integrado e sustentável. O projeto demostrou benefícios socioambientais da tecnologia social implementada nas duas localidades, pois, além de evitar a contaminação ambiental devido à disposição inadequada do rejeito da dessalinização, garante a segurança alimentar e nutricional das famílias com a possibilidade de venda do excedente. As ações propostas colaboram com as políticas de combate à desertificação do semiárido do Nordeste e, principalmente com a gestão das águas, promovendo seu uso sustentável na agricultura do semiárido; podendo esta experiência serem replicadas em outras comunidades que dispões de estações de tratamento de água salobra de salinas de poços.

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Leia o texto anterior: O uso de extratores de solução do solo na agricultura

Nildo da Silva Dias é Professor Associado da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa).

Nildo da Silva Dias

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