Adiantando o futuro usando o passado Disruptiva

quarta-feira, 22 agosto 2018

A experiência mostra que, assim como as empresas grandes, uma startup não sobrevive por muito tempo com um único produto

“A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo”, diria Peter Drucker. Concordo plenamente com o gênio da administração moderna, mas, como fazer isto, e já em uma sequência adjacente, porque temos que fazê-lo? A primeira resposta é óbvia: ele vem, é uma questão cronológica desde o Big Bang. A segunda nem tanto, mas eu já posso adiantar: será bom ou ruim, dependendo do que façamos daqui a pouquinho, ao final desta leitura… E aí o caldo engrossa! Se tivéssemos a certeza de que ele seria um futuro ‘educado’, não estaria escrevendo esta coluna e iria pegar um bronze na praia, se bem que a melanina me é muito generosa. Mas aproveitando a deixa pigmentar, como poderemos pintar o futuro com uma boa coloração? Existem muitas respostas, mas darei a vocês uma sugestão bacana: construindo bons pincéis e, claro, orientando quem vai empunhá-los!

Em minhas aulas, melhor dizendo encontros, trabalho com vários métodos de, vamos dizer assim, estímulo ao futuro, numa versão mais Druker do que Benedicta Finazza, a saudosa Mãe Dináh, numa tentativa de construir-se um bom futuro. Para isso uso minha ferramenta preferida: a nine windows, ou nove janelas, descrita no excelente livro The Innovator’s Toolkit de David Silverstein e colaboradores. Para os íntimos, 9W.

Essa nomenclatura deriva do desenho formado quando colocamos juntos as dimensões temporais e estruturais de um dado alvo em estudo. Este protagonista está em um tempo presente (que por sinal acabou de passar), sobre o qual o passado incide e o futuro será uma consequência. Vou apelidar o tempo presente de Tpres, seu irmão mais velho, o tempo passado, de Tpas e o caçula, o tempo futuro, de Tfut. Delineamos assim as três instâncias temporais. Ao definimos a plataforma onde este ator é prescrutado, chegamos à estrutura que o forma internamente, a Subestrutura, ou Sub, e aquela na qual ele está imerso, a Superestrutura, ou simplesmente Sup. O alvo é a própria Estrutura, Est. Esclarecemos agora as nove fases às quais o sujeito será submetido: três tempos rodando em três estruturas, o que nos dá nove instâncias: a 9W. Massa né? Mas, se a coisa toda já estava bacana tendo de me preocupar com um único ponto focal, meu alvo, o sistema, minha inovação, em uma única estrutura e em um tempo presente, agora terei de me preocupar com mais oito percepções das quais não tenho como exercer controle algum. Ou tenho? Bom, pior do que não conseguir controlar as outras oito instâncias, é nem perceber que elas existiam! Fiat Lux: não vou te deixar no escuro então. Prefiro o conhecimento e não poder fazer nada, por enquanto, do que a completa ignorância, pois a primeira condição nos força a agir. Vamos aos exercícios para que a coisa fique um pouco mais clara.

Figura da Nine Windows ou 9W. Dimensões temporais e estruturais utilizada para multiplicar oportunidades

Vou pegar um exemplo fácil, para começarmos, e depois, por uma truque de mágica chamado extrapolação, vou colocar algo mais desafiador. Assim, na quadrícula Est colocamos o elemento árvore. Logo, árvore será a atriz principal da estrutura em tempo presente, Tpes. Utilizando a imaginação, na linha da estrutura e voltando ao passado, árvore se transforma em semente. Ok, grande coisa! Ainda na linha da estrutura, indo para o futuro, árvore é transformada em um móvel (para a galera da ambiental ficar calma, nenhuma madeira de floresta não-reciclável foi ferida neste ensaio). Podemos pensar em uma mesa. Descendo dessa linha, chegamos à subestrutura. Nela, árvore é decomposta em seus componentes. Raízes, frutas etc., podem ser escolhidas. Fiquemos com Raíz. Andando para trás em Sub, vemos o mais profundo início de Raiz: o DNA. De Raiz, indo para o futuro, podemos chegar em madeira. Partindo da linha de Est em direção ao topo, chegamos à superestrutura. Poderíamos supor que árvore faz parte de floresta, já que essa última pode abrigar várias árvores de vários tipos. Andando para trás na linha Sup, podemos supor uma área vazia, ainda não reflorestada. Chamarei de Planície. Partindo de floresta em direção ao futuro, podemos pensar em residências, pontes, carvão etc. Assim, nosso alvo, ou sistema, que era árvore, nos forneceu oito novos ‘alvos’ para serem trabalhados. Multiplicamos nossas soluções, ou problemas, por um fator de nove. Podemos, por exemplo, pensar em criar um novo móvel voltando ao seu DNA e alterando uma dada sequência. Imagine um mógno azul-escalate!!!

Extrapolando. Olhando para a figura da 9W, posicione você, sua ideia, uma opinião, seu produto ou sua startup no centro, bem no cruzamento da avenida Est. com a rua Tpres. Peguemos o exemplo de uma estudante de nossa graduação em Negócios Tecnológicos, que estava atuando no ramo alimentício e queria inovar. Ao se deparar com a 9W, começamos a desenhar as outras janelas. Ela então colocou alimento no cruzamento supracitado e começou a caminhar para frente, para trás, para cima e para baixo, chacoalhando a inércia psicológica, pensando na forma de melhoria de alimento. Surpresa: depois de vários brainstormings, ao ir para frente tentando melhorar alimento, ela percebeu que, na verdade, tinha que ir para trás, pois em uma das células da superestrutura havia colocado agrotóxico. Resultado, voltou para a quadrícula alimento, andou para trás e escreveu ‘orgânico’. Bingo! Modificou o modelo de negócios para a trabalhar com alimentos orgânicos e encontrou outro público. E a coisa não pára por aí, é exponencial. Nada impede que você abra nove janelas dentro de uma janela qualquer, a qual você ache interessante, e comece todo o processo exclusivamente neste pedacinho.

Finalizando, a experiência mostra que uma startup não sobrevive por muito tempo com um único produto. As empresas grandes também não. Assim, sugiro que aumentem as chances de sobrevivência delas olhando para frente, para trás, para cima e para baixo. Com essa lente, você poderá descobrir mais oito Mercados. Mais espaço para inovar!

A coluna Empreendedorismo Inovador é atualizada às quartas-feiras. Gostou da coluna? Do assunto? Quer sugerir algum tema? Queremos saber sua opinião. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag #EmpreendedorismoInovador.

Leia a edição anterior.

Gláucio Brandão é gerente executivo da inPACTA, incubadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Gláucio Brandão

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