Para muitos especialistas, o encontro entre Donald Trump e Kim Jong Un representa um progresso. Já o desinteresse do brasileiro pelo futebol, uma mudança
A Agência Internacional Reuters divulgou na última terça-feira (12/06), a foto do encontro histórico entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong Un. O motivo do encontro? A assinatura de um acordo entre ambos que prevê a desnuclearização da península coreana. Para muitos especialistas, o encontro, embora histórico pelo ineditismo, fora mais simbólico. Muitos especialistas acreditam, inclusive, que não está decretado o fim das tensões na região. Na verdade, o que houve foi um progresso nas relações entre os dois líderes egocêntricos, e não uma mudança propriamente dita. Como disse uma vez, Bertrand Russel – britânico, matemático e filósofo – que atuou como pacifista juntamente com seu amigo, Albert Einstein, em prol do desarmamento nuclear, “Mudança é uma coisa; progresso é outra. A ´mudança´ é científica, o ´progresso´ é ético; a mudança é incontestável, enquanto o progresso é polêmico”.
Um dos primeiros textos que escrevi como colunista do Portal Nossa Ciência tratou exatamente do embate entre os dois líderes egocêntricos – A realidade vira ficção científica ou a ficção imita a realidade? Espera-se que, por ora, independentemente do simbolismo do aperto de mão entre Trump e Kim Jong Un, não teremos as tensões de um possível conflito entre os dois países, como na época em que o texto citado foi escrito.
Saindo de Cingapura, onde o acordo foi assinado, e chegando nas terras tupiniquins, uma mudança está ocorrendo. Segundo pesquisa nacional do Datafolha, e divulgada recentemente, 53% dos brasileiros afirmam não ter nenhum interesse pelo Mundial do futebol. Esse trecho vale ser destacado em negrito e itálico. Em copas passadas, só um conflito nuclear de proporções catastróficas faria o brasileiro perder o interesse pelo maior evento futebolístico do mundo. E olhe lá, tenho muitas dúvidas!
Essa sim parece ser uma mudança – não apenas um progresso – que, ao que tudo indica, tornar-se-á irreversível, ou ao menos, duradoura. É uma revolução silenciosa, apesar dos esforços da grande mídia em mostrar o contrário. Para quem ainda tem dúvidas e lembranças das copas passadas, basta sair às ruas. Nenhuma revolução popular, de fato, será televisionada. Quanto mais transmitida em rede nacional, ou melhor, em rede mundial, como o encontro de Cingapura.
Para muitos o verde e amarelo virou sinônimo de mico. Não é para menos. A cada dia detona-se uma “ogiva nuclear” no orçamento da saúde, da educação, da ciência. O resultado? Estilhaços da soberania nacional, da economia, de empregos, das estatais para todo lado. Nessas condições, qual o entusiasmo do povo para cantar, como outrora, “Voa, canarinho, voa/Mostra pra esse povo que és um rei/Voa, canarinho, voa/Mostra na Rússia o que eu já sei”?
Para muitos a questão chega a ser: torcer ou não torcer, eis a questão? Muitos reiteram a cada dia: futebol, há muito, virou negócio. E dos grandes. Dizem ainda que capitalismo mercantilizou uma prática esportiva popular e histórica, assim como o fez com o Carnaval e com várias outras manifestações culturais. É verdade. A maioria dos jogadores da seleção nem jogam no Brasil. Transferiram-se ainda muito jovens para a Europa. A cada dia, esvanece mais a identidade do povo com a seleção. Muitos dirão que tal sentimento se deve ao fatídico 7 x 1. Ledo engano. Contribuiu, é fato. Assistimos atônitos, naquela ocasião, um dos eventos mais tristes da nossa história futebolística. Após aquilo, quais as mudanças? Nenhuma. Houve progresso, com a troca do treinador da seleção. A prova disso são os cartolas da alta cúpula que comandam o nosso futebol. Eles estão mencionados em incontáveis denúncias de esquemas fraudulentos. A grande mídia se apropriou, há tempos, da quase ex-grande paixão nacional, e dita as regras. E, assim, ainda continuará a fazê-lo. Infelizmente!
A pesquisa do Datafolha mostra que, apesar dos pesares, parece que um grande acordo nacional está sendo feito pelo povão. Pode até ser uma mudança inconsciente. Mas há. E, se assim continuar, no futuro o impacto será de “proporções nucleares”, pelo menos para a grande mídia e para a alta cúpula que comanda nosso futebol.
Enquanto esse dia tarda em chegar, o nosso grande acordo coletivo em relação ao futebol é: boicotar e desdenhar daqueles que insistem em impedir a mudança. Quanto à Seleção Canarinho? Voa, canarinho, voa!
A Coluna do Jucá é atualizada às quintas-feiras. Leia, opine, compartilhe, curta. Use a hashtag #ColunadoJuca. Estamos no Facebook (nossaciencia), no Instagram (nossaciencia), no Twitter (nossaciencia).
Leia o texto anterior: O capitão Cousteau: a inspiração que nunca acaba
Thiago Jucá
Deixe um comentário