O povo brasileiro precisa conhecer a universidade pública do Brasil do século XXI recheada de jovens sonhadores
Para formar a opinião sobre algum assunto é sempre importante colher mais de um ponto de vista. Infelizmente, no planeta dos 256 caracteres a informação com viés vem se tornando natural. No que se refere à Universidade brasileira, sua estrutura e funcionamento são bem conhecidos por professores, técnicos, estudantes e seus familiares. No entanto, o povo em geral, ainda não se apossou dos espaços universitários (a Universidade brasileira é jovem, e este processo é um típico caso de mudança de cultura).
Essa estranheza (que diminui a cada dia – mas ainda é real) permite com que ataques à Universidade sejam assimilados com mais facilidade pelo povo. Quem frequenta qualquer Universidade pública brasileira poderá testemunhar com tranquilidade: não há plantação de maconha, cenas de sexo, nem ideologia Marxista pelas esquinas. Andando pela Universidade brasileira do século XXI é possível ver muita gente jovem e pobre com a cabeça recheada de sonhos.
E para sobreviver na Universidade (em meio às angustias das salas de aula, provas e projetos) por vezes é preciso vender doces, deixar de almoçar alguns dias, economizar com o ônibus e fazer caminhadas de vários quilômetros até sua casa. É desleal acusá-los de qualquer outra coisa. Eles estão lá por que sabem que esta é a única oportunidade de ter uma vida melhor que foi a de seus pais. E isso só foi possível com a democratização do ensino superior – que fez com que os filhos da população de baixa renda pudessem sentar nos bancos universitários, estudar e sonhar. Sonhar muito.
E infelizmente o sonho dos pobres afeta a vida da classe média brasileira. Esta mesma classe que comemorou a quebra na ascensão do proletariado porque é saudosa dos períodos da escravidão. Uma pobre classe média que não entende ser escrava do liberalismo dos colonizadores do hemisfério norte.
E da mesma forma que esta classe foi usada para entregar as riquezas naturais, agora se vê no protagonismo ao ataque à Universidade Pública brasileira. Perceba que não são plantações de maconha e nem tão pouco balbúrdia. Este é um plano de exclusão dos pobres à possibilidade de acesso ao ensino superior. E excluir os pobres é remover aqueles que trazem iniciativa e vontade à Universidade. Quem teve uma vida sem oportunidades sabe o real significado da palavra iniciativa. A mesma motivação de alguém que tem sede e que busca um copo de água passa a ser a necessidade do povo pobre por conhecimento. E isso incomoda. E da mesma forma que os pobres deixaram de usar os aviões, agora são colocados para fora das Universidades.
Uma pena que este povo não saiba da força que tem. Como já dizia o ilustre Dom Helder Câmara: “Se der pão aos pobres, todos me chamam de santo. Se mostrar por que os pobres não tem pão, me chamam de comunista e subversivo.”
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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