A Universidade Inovadora: estamos no caminho certo! Disruptiva

quarta-feira, 8 maio 2019

Como fazer com que as empresas e a sociedade enxerguem a universidade como local de buscas de tecnologias para solucionar problemas?

Saudações pessoal!

Aproveitando a onda de cortes, que não são novidades na Educação, pois é onde sempre miram quando a coisa aperta economicamente desde a redemocratização de nosso país, que tal nos espelharmos em quem mais entende de educação inovadora para tirar algumas experiências?

Pois bem: para não acharem que “conduzi” alguma palavra, reporto-me ao meu grande livro de cabeceira, escrito pelos professores Clayton M. Christensen e Henry J. Eyring nos idos de 2016, “A Universidade Inovadora: Mudando o DNA do Ensino Superior de Fora para Dentro”, e recorto um trecho do livro, o qual pode ser encontrado na página xix, e colo ele aqui da forma que o arranquei:

Página xix do livro “A Universidade Inovadora”

Coisas curiosas que podem ser lidas neste trecho – 2016, pessoal. Não é 1916!: “… grandes problemas do ensino superior nos EUA…” , “Legisladores de diferentes estados do país parecem estar travando uma guerra contra as suas próprias instituições públicas; o ensino superior, o artigo mais discricionário nos orçamentos estaduais, está sofrendo um corte de 50%”. Mais ainda: “Em nível federal, os Estados Unidos parecem atravessar um processo de declínio educacional em relação aos países…”.

Se fitarmos apenas a parte em negrito, vejam que beleza de poema literário:

“Grandes problemas do ensino superior. Legisladores travando guerra contra as suas próprias instituições públicas. O ensino superior sofrendo um corte de 50%. Um processo de declínio educacional”.

Palavras dos “homi” de Harvard e da BYU-Idaho. Não são minhas, mas bem que poderia ser made in Brazil, se o número fosse 30%. Onde quero chegar, pessoal? Aqui, ali, alhures, a grande escola está desconectada do mundo real, ao ponto de ser sempre o alvo quando se pensa em enxugar a máquina. Vou um pouco mais adiante, e recorto mais um trecho do compêndio:

Página xxiii do livro “A Universidade Inovadora”

Pra não ficar cansativo, vou recortar apenas “E elas tampouco se dispõem a reformular seus currículos pronta e voluntariamente de modo a preparar os estudantes para as maiores demandas impostas pelo mundo do trabalho” e “…trata-se de um lento suicídio institucional”.

Descontextualizando a questão política, pois coloquei um exemplo externo ao nosso mundo – vou chamá-lo de grupo de controle – voltemos ao nosso Pindorama, à Terra Brasilis, onde vivem os comedores de camarão, para sugerir soluções, pois a bronca não é só nossa.

Auto-propaganda: somos péssimos!

Em recente reportagem da UFRN sobre suas 14 cartas de patente  – release aos 02 de Maio de 2019, a.d. – eu, docente interno à esta grande instituição, que ajudei a criar o sistema de incubação da UFRN, possuo também registros de software aqui, um dos integrantes da 1ª turma do NIT, onde são processadas as patentes, coordenador por quatros anos do primeiro mestrado de inovação puro em instituição pública do país, professor da ênfase de Negócios Tecnológicos, gerente executivo da inPACTA, incubadora de negócios da ECT-UFRN, descobri, por acaso, em um grupo de “zap”, o quanto somos grandes:

“No total, já são 14 cartas-patentes de propriedade da UFRN, que se destaca entre as instituições de ensino superior do Nordeste com maior número de concessões, à frente de universidades como as federais do Ceará (UFC) e de Pernambuco (UFPE)”. (sic).

E ainda,

“A UFRN possui atualmente mais de 220 pedidos de patentes depositados junto ao INPI. Todos esses inventos já podem ser utilizados por empresas, que ‘precisam ver a universidade como local de busca de tecnologias’, defende Daniel Pontes, ao ressaltar a importância de se conhecer o portfólio de patentes prontas para aplicação na indústria. O diretor do NIT observa que a inovação é um dos carros-chefes de crescimento em muitos países e se torna ainda mais necessária para as nações em desenvolvimento, “pois é a moeda para avançar com a cultura e tecnologias próprias para ter condições de vender os nossos insumos com valor agregado”. (sic)

E, puxando da manga docente o mais famoso dos generais:

“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas…” Sun Tzu

Antes que mentes bélicas desviem o foco do que considero “inimigo”, refiro-me apenas ao Mercado. Mais à frente explicarei como ele pode nos ajudar.

Pegando o gancho nas célebres palavras do professor Daniel Pontes, como as empresas, a sociedade, alguém enxergará a “universidade como local de buscas de tecnologias”, de mais esta serventia fundamental para solucionar problemas que alcançam todos nós e ainda ajudar em sua sustentação, se nem eu, nem professores ligados à área enxergaram isso? Imaginem se os estudantes, pais, tios, avós, vizinhos, porteiros de prédio, motoristas de ônibus, jardineiros, empregados domésticos, o diretor de sua escola, promotores de justiça, promotoras da Avon, engenheiros, médicos, advogados, enfermeiras, assistentes sociais, bancários, mecânicos de carro, motoristas de Uber, cantores de rock, de funk, de forró, o pessoal da CAERN, da COSERN, nossos governantes, vão conseguir enxergar? Não vão não, viu!!!

Acham exagero? No ano de 2015 a UERN ficou paralisada por 147 dias consecutivos, quase 05 meses, e pouca gente soube disso. A greve acabou e tudo estava como dantes; ou melhor, ‘alguéns’ muito piores. Quem? Os alunos, claro!

Ou seja: os “Governos” (Estadual e Federal) não estão nos desrespeitando por acaso! o Mercado não está nos derrubando por acaso! Não os conhecemos, não nos conhecemos. Perderemos todas as batalhas!

A CIENTEC, a fila indiana e a vitrine

Nos idos de 2012, fiz parte da comissão da CIENTEC. Com o espírito empreendedor-inovador que já me acompanha há uns 20 anos, cansado do feitio “Feira de Ciências” que parece envolvê-la – é só minha opinião, mas posso estar enganado – quis “inovar” e propor uma radicalização para a CIENTEC, quando me deram a palavra. A sugestão foi simples: “Se a ideia é mostrar pro povo o que somos, o que fazemos e como podemos ajudar, que tal abrirmos todas as nossas instalações, laboratórios, salas de aula etc. etc. etc., e colocar esse povo todinho em fila indiana, andando por dentro de tudo, e, step by step, cada um dos responsáveis pelos setores, ou indicados, explanando de forma direta, a função de seu setor”. A ideia, um pouquinho estapafúrdia, eu concordo, quase uma metáfora, era só o pavio para puxar outras. Claro que foi negada, com uns “você tá doido” como um dos vocativos mais suaves! Pediram minha opinião de como mostrar a universidade; essa, para mim, foi a mais óbvia. A galera não entendeu minha proposta de brainstorming… Porém, falando hoje com um pouco mais de maturidade, vocês não acham que o evento CIENTEC não poderia ser melhor trabalhado com tempo e espaços mais coordenados, ao invés de dias concentrados, e sendo mais vitrine e menos festa? Claro que já ouço gritos chegarem a meus ouvidos; espero que sejam de ideias e não de palavrões!

Mudando de fora para dentro

Chegando às palavras finais e dando um pequeno spoiler do melhor conselho absorvido por mim no livro-inspiração deste texto, sobre o modo de trazer a universidade de forma mais rápida à realidade, aprendi que a mudança vai acontecer de fato, quando conseguirmos sensibilizar os interessados e abrirmos nossas interfaces para que o mundo nos dê o tamanho, a cor e a forma da Ciência que está lá fora e que devemos abordar aqui dentro. Não estamos escutando e nem vendo nada.

Para finalizar, quero deixar aqui minha mais alta deferência a esta senhora inovadora de 60 anos, que está no caminho certo para ser refundada: parabéns pelo feito, UFRN! Mais do que nunca, sinto-me orgulhoso de pertencer a seu quadro! Hip-Hip-Hurra, Hip-Hip-Hurra, Hip-Hip-Hurra!

Referências:

UFRN soma 14 cartas de patente (https://ufrn.br/imprensa/materias-especiais/25035/ufrn-soma-14-cartas-patente-e-se-destaca-entre-as-universidades-do-nordeste-com-maior-numero-de-concessoes-para-propriedade-intelectual)

Greve da UERN  (http://blogcarlossantos.com.br/greve-na-uern-chega-a-382-dias-com-rosalba-e-robinson/)

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Leia a edição anterior: Economia de predição: o novo modelo de negócios

Gláucio Brandão é gerente executivo da inPACTA, incubadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Gláucio Brandão

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