É preciso fazer da Universidade do presente algo que seja completamente distinta da que ela foi do passado e muito mais próxima do que ela deve ser exigida no futuro
Desde Einstein sabemos que o tempo é relativo e que em alguns processos quânticos ele nem precisa existir. Todavia, nossa divisão de passado, presente e futuro funciona para nosso cotidiano, sendo o presente a linha divisória que separa o passado do futuro. Inevitavelmente, eventos do passado afetam os rumos do futuro. Isso significa que quão mais críticos forem, mais profundas serão suas marcas. Com isso, não há como desconsiderar as marcas da pandemia da covid-19, o avanço das mídias sociais e o crescimento do ensino à distância nos rumos da graduação em todo o planeta.
A Universidade brasileira precisa viver um presente projetado para o futuro ao invés de repetir as lições do passado. A evasão generalizada dos cursos tradicionais (presenciais) requer uma abordagem urgente, ao ponto de se evitar a distinção entre instituições que formam pessoas daquelas que fazem pesquisa. Uma Universidade (com U maiúsculo) deve fazer de forma integrada o ensino, pesquisa e extensão. Isso não a impede de repensar sua graduação, adequando-a para a nova realidade do público.
Uma Universidade (com U maiúsculo) deve fazer de forma integrada o ensino, pesquisa e extensão. Isso não a impede de repensar sua graduação, adequando-a para a nova realidade do público
A democratização e acesso do povo ao ensino superior é fundamental. E isso precisa ser acompanhado de permanência. Do ponto de vista da população pobre, é impossível imaginar um jovem de mais 20 anos que apenas estude. Ele precisa se virar para garantir transporte, alimentação para si e para seus familiares. E em um era de empreendedorismo que mais se assemelha a uma escravidão moderna, muitos destes jovens precisam pedalar 100 km por dia a serviço de aplicativos. Como garantir atenção às aulas diurnas em um contexto de dificuldade financeira? Esta é uma chamada à evasão.
Além da permanência, é questão fundamental considerar a modernização curricular da graduação. Não há como manter a estrutura disciplinar de meados do século passado com um planeta em constante mudança e com ameaças iminentes de mudanças climáticas irreversíveis.
Isso significa que a educação bancária (tão detalhada na obra de Paulo Freire) precisa dar espaço a ações de projetos, estágios e extensão nas universidades.
É questão fundamental considerar a modernização curricular da graduação. Não há como manter a estrutura disciplinar de meados do século passado com um planeta em constante mudança e com ameaças iminentes de mudanças climáticas irreversíveis
E neste cenário de incertezas, o papel dos docentes é ainda mais importante: quando repetir a formação de décadas atrás deixa de ser opção, a única saída é fazer da Universidade do presente algo que seja completamente distinta da que ela foi do passado e muito mais próxima do que ela deve ser exigida no futuro. Para além de uma tarefa de futurologia, a constatação dos quadros de evasão em cursos de engenharia, por exemplo, deveria levar toda a comunidade acadêmica a sair de sua zona de conforto. Evidente que o risco de errar existe, porém a única certeza é de que reproduzir o atual perfil de disciplinarização não nos leva à formação de profissionais preparados para o futuro. A graduação no Brasil precisa mudar, e isso é urgente.
Leia o texto anterior: Pensando a ciência no Brasil
Helinando Oliveira é Professor Titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciências
Helinando Oliveira
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