Gláucio Brandão: "Precisamos melhorar a educação e abandonar modelos ultrapassados, pois nossa existência está ameaçada."
Na aula condensada (AC) Autodidatismo: a próxima ruptura, falamos sobre o perfil que cada indivíduo terá que adotar para se tornar independente, livre e produtivo. Não me referi apenas aos alunos em idade escolar. Isso servirá para todas as crianças entre 0 e 130 anos, e durante toda vida.
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Sobre a cultura do autodidatismo, quando isso acontecer na forma ampla, geral e irrestrita – e graças a Web já está acontecendo rápido “pra caramba” –, a Universidade (permita-me utilizar o “u” maiúsculo como coletivo de públicas, privadas, mistas, online, presenciais, boas, ruins etc.) não precisará ser revista, pois seu modelo estará morto e enterrado; ele terá de ser construído! Não escrevi reconstruído. Escrevi CONSTRUÍDO! Sim, pois como afirmei em Por que complicamos tanto as coisas?, a pior maneira de se construir um modelo funcional é tentar “ajeitar” um complexo e cheio de falhas. Não vai rolar.
Se ser autodidata é o perfil individual desejado, qual alternativa teremos então, GBB-San, escudeiro do mal-agouro acadêmico, para as instituições, para a Universidade do futuro? Que disrupção você pretende apresentar pra gente? Será que fará sentido?
É isso mesmo. Cursos em nível de graduação e pós, que vão de Culinária à Computação; do Direito à Saúde, disponibilizados por instituições do Brasil e por centros tecnológicos e universidades mais conceituadas do mundo. Embora os cursos sejam grátis, algumas instituições cobram pelo certificado. Caso você tenha dificuldade no idioma, o YouTube fornece a legenda em português.
Admitindo que você incorporou o autodidatismo e queira antes de tudo aprender o idioma, A UCLA tem curso free para brasileiros. Engrossam esse caldo 63 universidades americanas, por exemplo. E o mais importante: os certificados são aceitos no Brasil.
Do ponto de vista teórico e prático, o formato destes cursos é suficiente para fornecer habilidades e capacitações que rivalizam com os presenciais. Todavia, e quando a formação exige intervenções mais contundentes, como no caso de cursos da área médica ou engenharias; como capacitar alguém para se tornar hábil em práticas tão contundentes?
Tomemos, por exemplo, o curso de medicina, o mais complexo quando o assunto envolve prática. O site Academia Médica oferece várias cursos na área. Quando são necessárias intervenções clínicas, entram as parcerias com instituições locais ou internacionais, que fornecem as componentes necessárias para formação dos alunos: laboratórios práticos e de simulações, que permitem aos alunos praticar habilidades clínicas em um ambiente controlado e seguro; estágios e residências, parte essencial do treinamento médico, onde os estudantes trabalham diretamente em hospitais e clínicas sob a supervisão de profissionais experientes; workshops e treinamentos presenciais periódicos para complementar o aprendizado online. Em algumas áreas, a telemedicina está sendo utilizada para ensinar habilidades de diagnóstico e consulta, onde os estudantes podem observar e participar de consultas remotas supervisionadas.
A curva de aprendizado pede um amadurecimento. Não se pode esperar que a gurizada sub 16 seja autodidata raiz. Não vai rolar! Essa turminha terá ainda que conviver gregariamente para entender o mundo, o que a Pedagogia chama de socialização. Mas, mesmo para esse povo kid, as escolas e seus respectivos propedeutas têm de mudar. Em O Professor Wikipedia e o desenvolvimento de habilidades únicas, escrevi isto:
Chegamos ao docente: em uma sala com 50 cabeças pensando 50 coisas diferentes, será impossível ter conhecimento universal para gerir essa turma, dada a velocidade e volatilidade das mudanças. Da biologia às ciências sociais, da engenharia ao direito, da medicina à música, há uma miríade de possibilidades e de dúvidas. Um professor “Barsa” (referindo-me àquela enciclopédia pouco dinâmica) não vai conseguir guiar esta turma. Ele já começa desatualizado. Então, o novo docente terá de, em vez de aprender tudo para passar adiante, aprender a gerir conteúdos e apontar caminhos para os alunos. Ele terá de ser um Professor Wikipedia, um guia, um gestor de propósitos. (AC de Fevereiro 2020)
Apresentada essa contingência, voltemos aos “grandinhos”.
Vira e mexe escutamos a frase: “A Universidade está desvinculada do mercado!”. Não necessitamos discutir mais isto, pois esta frase contém parte integrante da solução. Inspirado na AC Instrução como um serviço (Parte II), depositada aqui há quatro anos, trago pra vocês minha sugestão de disrupção institucional. Vamos à figurinha.
É interessante ressaltar que a Fintech estaria apta a trabalhar novos modelos de negócio, dado ao choque de ideias que este sistema providenciaria. Muitos negócios poderiam surgir daí, transformando este espaço também numa aceleradora de empresas.
A plataforma InaaS seria a parte operacional de todo este sistema de capacitação imerso na sociedade. Muitas delas, e em diferentes modalidades, poderiam atuar com fins específicos, sejam públicas, privadas, mistas etc. E a Universidade, onde entraria?
… Seria a responsável por recrutar pessoas desse sistema e capacitá-las para desenvolver pesquisas ancoradas em problemas da humanidade. Com pessoal altamente capacitado, a Universidade teria um outro papel: o de centro certificador das ações da plataforma InaaS.
Utopias nos dão direção e ajudam a suportar a linearidade da vida. A educação atual, junto com docentes e instituições, está em crise, resultando em lentos avanços, especialmente em questões de pobreza e violência. Precisamos melhorar a educação e abandonar modelos ultrapassados, pois nossa existência está ameaçada por eventos inevitáveis como a morte do Sol, doenças, guerras e meteoros. Não conseguiremos enfrentar esses desafios sem uma educação condizente. “A vitória é reservada para aqueles que estão dispostos a pagar o preço”, diria Sun Tzu. A preparação e o esforço são fundamentais para alcançar o sucesso. Entender a nós mesmos, os inimigos (os eventos que citei) e estarmos bem preparados, são nossa chave para a paz e sobrevivência.
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Gláucio Brandão é professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e gerente executivo da incubadora inPACTA (ECT-UFRN)
Gláucio Brandão
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