A relatividade do tempo Ciência Nordestina

terça-feira, 13 maio 2025

Uma reflexão poética e filosófica sobre a relatividade do tempo a partir da breve vida das borboletas, nos convida a repensar nossa relação com o tempo, o presente e a existência.

(Helinando Oliveira)

Sabemos que todos os dias têm 24 horas, por mais que alguns pareçam ser mais longos que outros. Mas como seria uma semana de segunda a sexta na vida de uma borboleta? Durante sua vida, ela passa por uma série de metamorfoses, seguindo de ovo a larva, de larva a pupa e de pupa à fase adulta (a nossa conhecida borboleta). Como ovo, passa um período de dias a um mês, enquanto como larva permanece entre um e oito meses. O estágio de repouso absoluto no casulo dura de uma a três semanas. Enfim, a fase adulta pode durar tão pouco quanto cinco dias.

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Se pudéssemos nos colocar no lugar das borboletas, certamente não usaríamos um só sistema de medição de tempo, pois, definitivamente, a segunda-feira em forma de larva é completamente diferente da segunda-feira na forma final, voando como uma borboleta. Imagino o quão alucinante seria a vida das borboletas se elas entendessem a escala de tempo e compreendessem que passaram por tantas metamorfoses para viver uma única segunda-feira.

Certamente, se fossem humanas, elas dividiriam o dia em dezenas de anos, para que pudessem comemorar inúmeros aniversários, vários Natais, pular muitos carnavais… Mas, diferente de nós, que somos presos a ciclos, elas simplesmente vivem… E, quando morrem, morrem. Elas não precisam se perguntar sobre o que vem depois. Porque o tempo, para elas, não importa. O futuro não tem peso… Muito menos o passado. O que importa é o presente, que se faz presente.

O tempo é precioso para nós, humanos, porque temos a certeza da morte. E cada tic-tac passado é um tic-tac a menos. A entropia nos leva irremediavelmente à condição de equilíbrio, e queremos ter mais tempo aqui. Mas, para isso, precisamos relativizar o tempo. Viver menos em função dele e mais em nosso favor. Os momentos se tornam eternos quando esquecemos do tempo. Os domingos são longos e agradáveis porque eles são nossos — e não dos outros, como é a segunda-feira.

E, pensando na borboleta, que pode incorporar perfeitamente bem o conceito desse tempo relativo, percebo que o sentimento deixa de ser de dó e passa a ser de admiração, por elas saberem aproveitar todo o ciclo, seus tempos e limitações, seus voos e seus fins.

Para o querido leitor que achou que nesta matéria viriam equações e relações de Lorentz e Einstein, deixo uma reflexão: antes de ser física, foi filosofia. Antes de ser filosofia, foi viver e sentir. Talvez, antes mesmo de dar uma aula sobre relatividade especial, seja fundamental debater sobre o tempo como um algoz de nossas vidas e fazer o estudante entender que, em tempos de doenças mentais, solidão e overdose de conteúdos, o bom mesmo é esvaziar a mente, quebrar os relógios e ser casulo. Quando for tempo de voar, que se voe — por mais efêmero que seja, por mais belo, que valha a pena.

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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência

A coluna Ciência Nordestina é atualizada às terças-feiras

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