Thiago Jucá lembra como a questão nuclear foi retratada nas telas de cinema e como está presente nos dias de hoje
Hollywood produziu diversos filmes pós-apocalípticos, após a segunda guerra mundial. Certamente, o que motivou os diretores hollywoodianos a tratar da questão nuclear foram os longos anos de tensão em que EUA e a antiga URSS ameaçavam-se, a custo de seus respectivos arsenais nucelares. Dentre os filmes que trataram dessa temática, cito três: 1) “O menino e seu cachorro” (1975); 2) “Mad Max 3: além da cúpula do trovão” (1985) e 3) “O exterminador do futuro 4” (2009). Atualmente, as mudanças climáticas lideradas pelo efeito estufa têm desencadeado igual euforia nos diretores dos filmes mais recentes, como verificado pela produção de “O dia depois de amanhã” (2004).
Certamente, as provocações entre Donald Trump e Kim Jong-un têm reascendido a tensão mundial quanto a um possível conflito nuclear, principalmente depois dos testes bem sucedidos com armas nucleares, como a bomba de hidrogênio. Em recente artigo na britânica BBC, especialistas dizem que não é preciso entrar em pânico ainda e, para justificar, alegam três motivos principais: 1) ninguém quer guerra (uma possível guerra na península não interessaria a ninguém); 2) o que está em evidência são palavras e não ações (não é porque subiram o tom da retórica que a postura mudou) e 3) já estivemos nesse ponto antes (em 1994, Pyongyang recusou a inspeção internacional em suas instalações nucleares; na época, a diplomacia venceu). Tomara que os especialistas tenham razão!
O certo é que o limite entre a ficção científica e a realidade às vezes são mais tênues do que parecem. Inúmeros filmes já trataram, por exemplo, de vazamentos, contaminações e dos perigos dos materiais radioativos (Filme K-19: The Widowmaker, 2002). Saindo da ficção e entrando na realidade, como não lembrar o desastre de Chernobyl e o de Fukushima? E como não mencionar o desastre brasileiro que no dia 13 de setembro completou 30 anos (1987)? Este é considerado o maior acidente radiológico do mundo, causado por uma cápsula de Césio-137 abandonada em um aparelho hospitalar no centro de Goiânia. Essa tragédia que ainda não terminou, mostra que os 17 gramas desse elemento radioativo que contaminou pessoas e o meio ambiente têm consequências que são sentidas até hoje. Pelo menos, poucas tragédias na ficção chegam a durar trintas anos!
O grande astrofísico, popularizador e divulgador da ciência a nível mundial, Carl Sagan, sempre chamou a atenção das pessoas para as consequências desastrosas de uma possível guerra nuclear. Em 1975, Sagan lançou um livro intitulado “O inverno nuclear” que para muitos cientistas está longe de ser uma história de ficção científica. Esse livro – tido como um trabalho científico – apresentou uma visão nova e chocante de um mundo após uma guerra nuclear. As alterações no clima global e os efeitos catastróficos para a vida seriam inimagináveis.
Já em outro best-seller, intitulado “Bilhões e Bilhões: reflexões sobre a vida e a morte na virada do milênio”, Sagan alerta que “a presença de armas nucleares em diversas nações nos coloca em uma situação de risco permanente. Não precisamos de invasores alienígenas. Nós próprios já geramos perigos suficientes”. E completa com um trecho que, mais atual parece ser impossível: “No século de Hitler, reconhecemos que loucos podem alcançar o controle absoluto sobre estados industriais modernos. É apenas uma questão de tempo até que ocorra um erro sutil imprevisto nas máquinas de destruição em massa, um fracasso crucial na comunicação ou uma crise emocional num líder nacional já sobrecarregado de problemas”.
Pelo visto as ideias de Carl caem com uma luva para Donald Trump e Kim Jong-un. Infelizmente, nosso País também possui gente que almeja ser líder e que possui esse perfil. E por falar em protagonistas da loucura, muito se fala da teoria adotada por Trump em relação a Pyongyang, a Teoria do Louco. Nesta, o mesmo se coloca como alguém imprevisível, inconsequente e irracional de maneira a enganar o inimigo, de modo que esse acredita que o outro é capaz de iniciar um combate e, para evitar o pior, cede às pressões do inimigo.
A despeito da questão nuclear e dos ditos “loucos”, eu fico muito feliz em citar realizações e avanços científicos, que há alguns anos, só eram possíveis imaginar através dos livros e filmes de ficção científica, mas que hoje são pura realidade e, por isso cito aqui algumas destas: 1) a tecnologia do DNA recombinante; 2) a modificação genética de organismos; 3) o sequenciamento do genoma humano; 4) a bioinformática e 5) a neurobiologia.
E seria injusto da minha parte falar de ficção científica e não mencionar “o pai da ficção”, Júlio Verne. O autor francês (1828-1905) escreveu inúmeros livros narrando histórias verossímeis que antecipariam grandes feitos da humanidade como o livro “Da Terra à Lua (1865)”. Muitas das obras de Júlio Verne foram parar nas telas dos cinemas como: 1) “Viagem ao centro da Terra” (1864); 2) “Cinco semanas a bordo de um balão” (1863) e 3) “A volta ao mundo em oitenta dias’ (1872). Mais uma vez, os cinemas tentaram aproximar a ficção da realidade! Duas frases marcantes e emblemáticas atribuídas a Júlio Verne que contextualizam o limite tênue entre a ficção e a realidade são: “Tudo que o homem pode imaginar, outros homens poderão fazer” e “Um dia iremos visitar a Lua e planetas com a mesma facilidade com que nos dias de hoje se vai de Liverpool a Nova York”. Pelo visto, para Júlio Verne a imaginação determina o limite.
Mas e os loucos? A teoria do Louco? As armas nucleares? O inverno nuclear? É difícil falar se essa tensão entre Donald Trump e Kim Jong-un, ainda que no campo psicológico – da retórica e da intimidação -, vai inspirar novos filmes hollywoodianos ou se estes, por conta de um possível conflito, deixarão de existir. Ficção ou realidade? Só o tempo dirá!
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Thiago Lustosa Jucá